O concurso de projeto Casa das Mulheres na África tinha como objetivo promover o envolvimento e emancipação da comunidade das mulheres no Senegal. A competição foi encabeçada pela Kaira Looro International, uma instituição sem fins lucrativos que organiza concursos abertos a estudantes e jovens arquitetos com o objetivo de fomentar projetos humanitários em países em desenvolvimento e lançar luz sobre novos talentos da arquitetura.
O concurso, que desafiava os participantes a desenvolverem uma “casa das mulheres” através de uma arquitetura simbólica, ecológica e inspirada das tradições locais, selecionou entre os finalistas a equipe brasileira composta pelos estudantes Marcela Luana Sutti, Adenir Filho. Conheça a proposta destacada, acompanhada de seu memorial descritivo, a seguir.
Da equipe: Inspirada pelas tradições construtivas locais e pensada para uma construção executada pela comunidade, a Open Women’s House foi concebida de modo a criar oportunidades para promoção da igualdade de gêneros, oferecendo às mulheres um local de pertencimento para fortalecer seus ideais e de diálogo para passarem adiante.
O átrio público expressa-se arquitetonicamente por uma arquibancada rebaixada, resultado da retirada de terra para a construção da própria estrutura, e destina-se a espalhar consciência, promover encontro, troca de experiências, e propagar as vozes das mulheres. A partir dele pode-se percorrer os espaços da casa, cruzando as portas pivotantes, o local reserva uma atmosfera semipública, ao mesmo tempo que se conecta com o átrio, fecha-se para atividades reservadas. Pensados para serem espaços de seminários, workshops e exposições com a finalidade de sensibilizar as comunidades, os ambientes são abertos, mutáveis e permeáveis. Ali a conversa é livre, as pessoas sentam-se nas escadarias para trocar experiências ou ouvem umas às outras em palestras ou reuniões.
O projeto leva em consideração os preceitos da sustentabilidade em diversos âmbitos, sendo eles: ambiental, arquitetônico, construtivo, econômico e social. Primeiramente, pensando na implantação no sítio e considerando os aspectos como insolação e ventilação, a planta retangular inclina-se aproximadamente 15º para oeste, isso garante a proteção das radiações solares nas fachadas maiores durante as horas mais quentes do dia e assegura que as monções cruzem por todo o edifício.
Na dimensão arquitetônica, a solução adotada buscou conciliar a iluminação natural e o arrefecimento interno, assim o edifício adotou duas técnicas de vedações verticais, a primeira em taipa, material com grande inércia térmica e a segunda, acima da taipa, em madeira, vedada por um ripado de bambu selvagem que garante tanto uma ventilação permanente, como serve de filtro para a iluminação natural, que atinge o interior de forma difusa.
O projeto faz o reuso das águas pluviais, recolhidas tanto pelos telhados que convergem em uma calha central e as lançam no implúvio, como pela própria rampa, revestida pelos azulejos quebrados que garantem a impermeabilidade do pavimento. Construtivamente, o projeto foi pensado para utilizar a própria terra das escavações do átrio, poço e fundações para compor as paredes em taipa; essas requerem apenas as formas, construídas em madeiras que serão reutilizadas para a construção da estrutura que sustenta a cobertura.
A Open Women’s House prioriza o uso de materiais naturais e provenientes do próprio terreno, do entorno e de acordos com a comunidade; reduzindo custos com transporte e fortalecendo o comércio local. A sustentabilidade social nesse projeto é garantida através da redução das disparidades entre os gêneros e promovendo a melhoria na qualidade de vida das mulheres. O projeto articula escala, técnicas e logística apropriadas para ser executado através da autoconstrução.
Construção
Na construção da Open Women’s House, o concreto armado restringe-se às fundações e arremate das paredes de taipa, construídas com a terra da própria escavação. O piso é finalizado com os azulejos quebrados, recuperados com a colaboração da comunidade, que fornecem uma superfície impermeável e de fácil limpeza. Acima das paredes ergue-se uma viga vierendeel sobre todo o perímetro do projeto e nas cabeceiras das portas. Essa estrutura em madeira é composta por perfis combinados de 15x3cm e 9x5cm. Neles se fixam o bambu selvagem do ripado. A estrutura do telhamento é composta por treliças de madeira em perfis 20x4cm e 15x3cm. Sobre elas fixa-se o forro de local bamboo fence e sobre o forro, as telhas metálicas, fixadas nas treliças.