Uma equipe de arquitetas brasileiras foi premiada com o terceiro lugar no concurso internacional Toronto Affordable Housing Challenge, organizado pela Bee Breeders. Desenvolvido por Ana Luisa Rolim (Coletivo-rt arquitetura), Isabella Trindade, Beatriz Bueno e Larissa Falavigna, o projeto LaneWAY OF LIVING: Green Villages in The Heart Of Toronto’s Urban Fabric propõe uma série de unidades de estrutura de madeira laminada colada cruzada e acabamento externo em madeira carbonizada.
O projeto é o único da América do Sul dentre os premiados e menções honrosas. Veja-o a seguir.
Das autoras: Como reconciliar o enfrentamento da crise imobiliária em Toronto às realidades do tecido urbano e legado histórico? Numa acupuntura urbana, pensamos na escala macro (a cidade) e atuamos pontualmente, em escala menor: na tipologia das laneways (pequenas vias públicas), que, originárias do século XIX, localizam-se no fundo de lotes, servindo de acesso a garagens.
As áreas centrais de Toronto possuem cerca de 2.433 laneways, totalizando 310 km de comprimento. A proposta oferece uma oportunidade de usar malha e infraestrutura urbanas existentes, transformando estas garagens, separadas da casa principal por um quintal, em habitações independentes, o que poderia reduzir a expansão urbana, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.
A unidade habitacional e o conceito de habitação incremental
Cada unidade possui uma área inicial de 58m2, com a seguinte disposição: térreo com escada de acesso ao subsolo e pavimento superior, e pátio público coberto (para eventual estacionamento); subsolo flexível (suíte e/ou escritório), lavanderia, pátio descoberto e infraestrutura (boiler e caldeira de calefação); piso superior com estar (podendo acomodar quarto reversível), jantar, cozinha e varanda; e coberta com horta pré-fabricada e painéis solares.
Adotando o conceito de habitação incremental, a planta base de 5m x 5m poderia expandir lateralmente (adaptando-se a diferentes larguras de lotes) ou verticalmente, permitindo um quarto extra (no local de hortas nos telhados).
Redesenhando o espaço público
O redesenho do traçado da laneway, convertida em uma rua compartilhada, surge do desalinhamento dos lotes limítrofes, que variam em largura. Linhas transversais não paralelas marcam o parcelamento dos lotes, tornando-se áreas paisagísticas, além de definirem o acesso à unidade habitacional e o recuo frontal de 1,5m (para vegetação), marcando o acesso ao pátio público coberto.
A rede de hortas nas cobertas gera uma pequena fazenda urbana, compartilhada e acessível por aberturas laterais intralotes ou passarelas suspensas, que atravessam a laneway e conectam as unidades habitacionais.
Habitação sustentável
O sistema construtivo predominante é o Cross Laminated Timber ou CLT (madeira laminada colada cruzada), usado na estrutura de pisos, paredes e coberta, com vão típico de 5m x 5m e, quando necessário, incremento lateral de 1m x 5m.
O acabamento externo é em madeira carbonizada, uma técnica japonesa usada no Canadá, cujo processo consiste na queima de tábuas de madeira por meio de um maçarico, de modo que as fibras externas possam reagir deixando a madeira imune, por décadas, a cupins, fungos e agressões naturais. Esta solução, requer pouca manutenção e oferece um acabamento de caráter único.
A unidade habitacional é auto suficiente quanto à energia elétrica, possuindo quatro painéis fotovoltaicos no telhado, que garantem a energia necessária para abastecer uma casa de 58m2 a 78m2. No subsolo, uma cisterna de 10.000 litros armazena a água da chuva, que é filtrada antes de ser bombeada à unidade habitacional, para descarga de vasos sanitários e irrigação de áreas verdes.
Ficha técnica
- Toronto Affordable Housing Challenge
- Título da proposta: LaneWAY OF LIVING: Green Villages in The Heart Of Toronto’s Urban Fabric
- Arquitetas: Ana Luisa Rolim (Coletivo-rt arquitetura), Isabella Trindade, Beatriz Bueno, Larissa Falavigna
- Localização: Toronto, Canadá
- Ano do Projeto: 2021
- Organização responsável: Bee Breeders