Já um clássico da arquitetura, o projeto Habitat '67, de Safdie Architects, representa uma visão altamente influente de um modelo de habitação urbana voltado para a comunidade, inspirado na natureza e, ao mesmo tempo, um exemplo crítico das possibilidades de pré-fabricação. Cinquenta anos após o projeto do Habitat '67, Safdie ainda está explorando essa visão de vida urbana, desenvolvendo mais o conceito com projetos como Altair Residences, Corner Tower e Habitat Qinhuangdao. Enraizados no lema do arquiteto — "um jardim para todos", os novos projetos privilegiam os terraços ao ar livre, a luz natural e a ventilação, bem como os espaços comuns.
“Moshe manteve sua tese por mais de 50 anos — projetar para melhorar nossa qualidade de vida deve ser uma prioridade de nossa profissão”, diz o sócio arquiteto da Safdie, Jaron Lubin. Ele prossegue afirmando que “agora estamos vendo muitas das ideias, antes tidas como meros sonhos utópicos, se tornando realidade. O legado do Habitat tem muito potencial a ser explorado”. Volumes escalonados, terraços jardins e áreas públicas são os denominadores comuns das mais novas iterações do Habitat. Os projetos recentes do escritório na Ásia e na América Latina investigam afundo a tese de Safdie de 1967, para um modelo de vida urbano diferente, enquanto fornece uma resposta contextual à cultura local, clima e inserção.
Com a conclusão prevista para setembro deste ano, o projeto Altair Residences em Colombo, Sri Lanka, reflete o clima tropical através da ventilação cruzada e difusão da luz solar. Às duas torres encostadas uma na outra compreendem 400 unidades, com uma planta aberta, sem colunas, além de terraços ou varandas com jardim. Os espaços externos comuns podem ser encontrados em diferentes pavimentos em todo o edifício, enquanto o térreo abriga áreas comerciais.
Uma versão em torre compacta do Habitat é a Corner Tower, onde a silhueta pixelizada dá espaço a terraços jardins com pé direito duplo, e peles de vidro articuladas, que criam uma experiência de vida interna e externa fluida. Localizado em Quito, Equador, este projeto também emprega a ventilação cruzada e apresenta unidades com conceito aberto, uma conquista estrutural dadas as condições sísmicas da cidade. Desta vez, as áreas comuns podem ser encontradas na cobertura, com uma piscina infinita na copa das árvores, um jardim e um espaço de convivência. O projeto está previsto para ser concluído em 2022.
Em julho deste ano, foi iniciada a construção da mais nova parcela do Habitat 67, fase II do Habitat Qinhuangdao, uma série de blocos residenciais escalonados interconectados ao longo da costa do Mar de Bohai. O projeto de grande escala e densidade apresenta uma extensa paisagem no térreo, e espaços ao ar livre para cada unidade. “Quando escalonamos e deslocamos as unidades umas das outras, afastando os edifícios do mar, criamos belos terraços, que fazem com que cada unidade pareça uma cobertura”, diz Sean Sensor, arquiteto responsável pelo projeto da Safdie Architects, acrescentando que “é preciso quebrar a cabeça, mas o resultado é a incrível sensação de viver no céu”.
No ano passado, houve uma redescoberta da interdependência entre a natureza e a sociedade. Temos visto um clamor para que nossas necessidades humanas básicas sejam atendidas — acesso à luz natural, espaço ao ar livre, conexão com a natureza e o ritual da vida pública em todas as escalas. Depois de um ano em relativo isolamento um do outro, e do habitat urbano, em geral, os conceitos do Habitat '67 se tornaram cada vez mais relevantes, à medida que reimaginamos a paisagem urbana. -Moshe Safdie
O foco nos espaços ao ar livre e uma compreensão complexa da habitação urbana, tornaram o Habitat 67 ainda mais relevante em meio à pandemia. Sua filosofia e estrutura foram recentemente detalhadas em um novo curta-metragem, que apresenta o arquiteto Moshe Safdie explicando os conceitos, bem como os habitantes do Habitat de 1967 revelando sua experiência do edifício.