O Pier 54 em Nova York tem uma história que remonta aos primeiros habitantes da cidade. Depois de ser severamente danificado em 2012 com a passagem do furacão Sandy, Barry Diller e a instituição Hudson River Park Trust trabalharam para criar soluções para reativá-lo e devolver o espaço ao público.
O projeto resultante, Little Island Park, tornou-se um oásis urbano de quase 10.000 metros quadrados, que se estrutura sobre 132 pilares e abriga anfiteatros, várias espécies de árvores e outras vegetações, além de outros atributos. A arquitetura foi desenvolvida pelo Heatherwick Studio, com paisagismo da MNLA, a obra apresentou inúmeras dificuldades, o que exigiu grande inovação e colaboração de diversos profissionais. A Arup, empresa global que desenvolve projetos de consultoria e engenharia, esteve envolvida no projeto desde o início. Conversamos com David Farnsworth, Diretor do escritório da Arup em Nova York e Diretor de Projetos no Little Island, Park sobre os desafios e a aprendizagem envolvidos neste processo:
Eduardo Souza (ArchDaily): O projeto Little Island é inovador em vários aspectos. Quais foram os principais desafios no projeto estrutural, projetos auxiliares e na construção? Por exemplo, por que você decidiu usar concreto pré-moldado? Ou como uma topografia tão complexa poderia ser construída em pilotis?
David Farnsworth (Arup): A colaboração foi essencial neste projeto, onde cada decisão de projeto exigia mudanças em sua geometria global. A arquitetura, o paisagismo, a estrutura, os sistemas MEP, os caminhos e o projeto de drenagem estavam todos interligados. A complexidade de resolver problemas, desde atender aos requisitos de acessibilidade até árvores que precisam de certas profundidades de solo, tornou-se clara muito rapidamente. Devido ao investimento que fizemos em design paramétrico, houve um fluxo de trabalho tranquilo e colaborativo entre arquitetos e engenheiros neste projeto, o que nos permitiu automatizar a geração geométrica das complexas superfícies do vaso.
Um dos grandes desafios do projeto era: como podemos atingir as ambições de uma ilha “flutuante” com um nível de repetição necessário para tornar o concreto pré-moldado econômico? Optamos pelo pré-moldado por sua durabilidade, construtibilidade e viabilidade econômica quando em formato repetitivo. O Hudson River Park também tem uma longa história de construção de cais pré-fabricados no ambiente hostil do Rio Hudson; a utilização de pré-fabricação minimiza a quantidade de trabalho sobre a água. Para atingir o nível de repetição necessário, definimos os vasos usando um padrão de ladrilhos baseado no formato do Pentágono Cairo, onde o formato básico do vaso é repetido e girado para parecer único, mas na verdade é repetido no plano. Adicionamos algumas variações na forma do plano para formar a borda do píer, revelando uma solução para os blocos de construção básicos que poderiam ser flexionados para atender aos requisitos do projeto.
A topografia ondulada também foi um desafio chave, e o pré-moldado é o que fundamentalmente diferencia este píer de outras estruturas marinhas mais convencionais. Pegamos a forma básica do pote do Pentágono Cairo e fizemos algumas variações de elevação para que os vasos pudessem inclinar-se em diferentes direções. Acabamos lançando 132 potes de 39 formas únicas.
ES: Quais foram as principais inovações deste projeto? Do projeto, fabricação e construção? O que serviu de experiência de aprendizado para outros projetos futuros da Arup?
DF: O aspecto mais notável do nosso trabalho foi a abordagem estrutural de referência que criamos para este projeto, aproveitando o design tridimensional avançado e técnicas de pré-fabricação para alcançar a estética única de Little Island, garantindo a construtibilidade otimizada. Um dos principais problemas foi encontrar os parceiros de construção certos - logo no início do processo, a equipe de design, o cliente e a equipe de CM da Hunter Roberts se reuniram com muitos parceiros de pré-moldados em potencial para convencê-los de que isso poderia ser construído. Também dividimos os potes em pedaços que podiam ser enviados por estrada para garantir que o grupo de licitantes em potencial não se limitasse a fornecedores baseados na água. Encontramos ótimos parceiros em Fort Miller e Weeks Marine, convencendo-os de que a melhor maneira de entregar esse projeto complexo era por meio da fabricação digital.
Como uma equipe de projeto, turvamos a fronteira convencional entre empreiteiro e designers para fornecer modelos 3D diretos para a manufatura totalmente detalhados (criados usando software de design paramétrico) para todos os componentes pré-moldados de maconha, vergalhões, fabricação de conexões e chapas de metal formas de fechamento. Este processo de fabricação digital direto garantiu que o complexo pré-moldado curvo se alinhasse e atendesse às tolerâncias desejadas no local para fazer os potes parecerem elementos monolíticos com juntas limpas e consistentes.
ES: Em um projeto como este, a arquitetura, a engenharia e outras equipes devem estar alinhadas desde as fases iniciais? Como isso melhora o resultado?
DF: Um projeto como Little Island só é possível por meio da colaboração entre a equipe de projeto, empreiteiros e fabricantes. Foi fundamental trabalharmos com a empresa de design do Reino Unido Heatherwick Studio e as empresas de design de Nova York MNLA (paisagismo) e Standard Architects (arquitetos executivos) desde o início, e nos engajarmos ativamente nas tecnologias digitais mais recentes, como design paramétrico e automatizado, 3D - modelos de entrega e fabricações com fresamento CNC de espumas e corte a laser de placas de aço. Até este ponto, toda a equipe de design também trabalhou em um ambiente 3D para entender com precisão a variação da elevação dentro do parque e para mitigar conflitos potenciais entre as profissões.
ES: Além da topografia e vegetação que vemos nas fotos, o projeto conta com ampla infraestrutura para atender aos mais diversos eventos e shows. Você pode falar um pouco sobre isso?
DF: Nossa equipe integrada de especialistas do local foi encarregada de desenvolver uma variedade de estratégias de ambientação sonora, acústica, linha de visão e assentos que otimizam a qualidade do desempenho e o conforto do usuário, sem nos distrair da sensação e qualidade geral do parque.
DF: Nossa equipe integrada de especialistas foi encarregada de desenvolver uma variedade de estratégias de ambientação sonora, acústica, linha de visão e assentos que otimizam a qualidade do desempenho e o conforto do usuário, sem desviar a atenção da sensação geral e da qualidade do parque. Trabalhando com Hudson River Park Trust, classificamos uma ampla gama de opções de design e desempenho, que vão desde shows de música em grande escala até instalações de arte multimídia em todo o parque, para acomodar artistas de classe mundial. Arup SoundLab foi usado para simular a experiência acústica para todos os três espaços de desempenho em Little Island.
ES: Especialistas apontam que aprender a ocupar as águas será importante para um futuro com níveis oceânicos mais elevados. O que você acha disso e como nós, da indústria da construção, podemos trabalhar para mitigá-lo?
DF: O projeto Little Island foi originalmente concebido como uma folha flutuando na água, o que é bastante diferente de um projeto típico de píer, e construir o parque em um ambiente marinho hostil sempre foi um desafio presente, mas bem-vindo. O aumento do nível do mar foi um fator chave na decisão de tornar o parque um cais insular, em vez de um cais linear típico. Ao separar o cais da esplanada, onde a cota do terreno já se encontra abaixo dos níveis das cheias, conseguimos elevar o cais principal acima dos níveis crescentes das cheias e utilizar as pontes de acesso para um declive suave até ao nível elevado. Nossa equipe de engenheiros civis também trabalhou em estreita colaboração com a MNLA e a equipe estrutural da Arup para desenvolver um esquema integrado de gestão de águas pluviais que transforma Little Island em "um telhado verde gigante". Uma rede de elementos de infraestrutura verde integra-se cuidadosamente ao paisagismo do parque, tornando praticamente todo o parque impermeável como uma esponja. Assim que o escoamento da água da chuva é capturado por uma dessas características de superfície, ele começa a filtrar através do substrato da estrutura do píer, que é projetado para tratar a água antes de liberá-la gradualmente de volta para o Rio Hudson. Esta é uma solução que encontramos ao aproveitar eficazmente a localização de Little Island na água para um gerenciamento avançado de águas pluviais.
ES: Tem alguma outra coisa que você gostaria de adicionar?
DF: Little Island é um projeto no qual a Arup vem trabalhando desde 2013 e que aproveita os últimos avanços em tecnologia de design e fabricação digital.
As ferramentas e processos foram importantes para alcançar os resultados que todos podemos ver no local hoje, mas o ingrediente mais crítico para o sucesso foi o esforço colaborativo entre o cliente, as equipes de projeto e construção para resolver problemas e aproveitar as oportunidades associadas a fazer algo diferente e novo.
As equipes de design e construção foram capazes de entregar um projeto que retém a magia da visão arquitetônica ambiciosa que tanto nos cativou quando começamos.
