Após a polêmica gerada pela notícia de que o espólio de Lúcio Costa fora doado à Casa da Arquitectura, instituição portuguesa que se dedica a salvaguardar o arquivo de arquitetos nacionais e internacionais, o Arquivo Público do Distrito Federal, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) buscam agora estabelecer um acordo de cooperação com a instituição sediada em Portugal.
"Estamos caminhando pela via diplomática para minimizar os impactos da retirada do acervo do Brasil. A negociação já evoluiu bastante e a Casa de Arquitectura tem todo o interesse em estabelecer um acordo", comentou Adalberto Scigliano, superintendente do Arquivo Público do Distrito Federal, em reportagem publicada pelo portal R7.
De acordo com o superintendente, os documentos históricos devem estar disponíveis nos próximos dias. O maior interesse está nos arquivos referentes ao concurso para a capital federal, que premiou Costa como vencedor e o consagrou como um dos nomes de maior prestígio na história da arquitetura moderna.
A doação foi feita pela família do arquiteto e urbanista e abrange cerca de onze mil documentos de natureza diversa, produzidos entre 1910 e 1998. Fazem parte do arquivo correspondências, artigos de jornais, recortes, revistas, cartazes, fotografias, álbuns de família, postais, mapas, plantas e desenhos. Destaca-se no espólio projetos como o Plano Piloto de Brasília, com textos e desenhos pré-concurso e os elementos depois entregues por Lucio Costa, mas também a Casa do Brasil, em Paris, o Jockey Club no Rio de Janeiro, o Museu das Missões, o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque, entre outros.
Assim como ocorreu em 2020 após a transferência dos arquivos de Paulo Mendes da Rocha à mesma instituição, as reações à notícia da doação do acervo de Costa foram imediatas. “Se a preocupação é manter o acervo preservado e disponível ao público, inclusive com ferramentas digitais, temos todas as condições de abrigá-lo”, disse o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues ao R7. “Essa ideia de que não temos como cuidar é uma grande piada de mau gosto. O fato é que ninguém nos procurou, infelizmente. Agora, quem quiser ver pessoalmente precisará ir a Motosinhos, no interior de Portugal”, lamentou.
A coleção estava sob os cuidados do Instituto Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, mas após 20 anos sob sua tutela, a instituição alegou que não poderia mais mantê-lo.