A crise climática tem ocupado uma posição cada dia mais proeminente no discurso da arquitetura contemporânea, com os profissionais da construção civil lentamente reconhecendo a sua parcela de responsabilidade em relação às questões ambientais. No entanto, ainda há um longo caminho pela frente no que se refere a uma mudança sistemática no campo da arquitetura. Neste sentido, constituindo a principal frente de ação, jovens escritórios, organizações e iniciativas emergentes estão dando forma a uma nova prática de arquitetura que lentamente está começando a provocar uma mudança de paradigma na industria da construção civil. Abordando questões ambientais em vários níveis, desde políticas urbanas e estratégias de projeto até novos materiais e processos de construção, a seguir apresentamos alguns dos principais escritórios emergentes que estão reformulando o significado de sustentabilidade na arquitetura.
Ativismo e Políticas Urbanas
Reconhecendo a importância da micropolítica na arquitetura, muitos escritórios emergentes estão procurando fazer a sua parte, abordando um projeto de cada vez. Somado a isso, jovens arquitetos estão procurando participar de forma ativa nos processos de tomada de decisões, reformulando as políticas públicas orientadas à sustentabilidade, enquanto outros, tem unido forças com o principal objetivo de catalisar uma transformação no campo da construção civil que nos permita abordar a crise climática em diversas frentes. Paralelamente, a medida que as discussões em torno às mudanças climáticas geralmente vem acompanhadas de ideias bastante radicais de privação e renúncia, muitos arquitetos têm se engajado em propor novas soluções que nos permitam operar uma mudança de paradigma neste sentido.
Seguindo esta linha de raciocínio, o escritório de arquitetura finlandês VAPAA acredita firmemente na capacidade da arquitetura em propor visões alternativas de futuro. “Temos as ferramentas necessárias para provocar uma mudança social transformadora e necessária”, no entanto, “muitos arquitetos ainda não perceberam a importância de seu trabalho e a urgência de seu engajamento na era das mudanças climáticas”. Um dos fundadores do movimento Architects Declare na Finlândia, o VAPAA é um escritório de arquitetura comprometido com a sustentabilidade na arquitetura de forma bastante abrangente, atuando em diversas frentes, desde projetos acadêmicos e executivos e atividades de curadoria e consultoria. Apesar de muito jovem, este coletivo de arquitetos nos mostra como é possível avançar em direção a uma arquitetura mais sustentável—abordando a questão de forma bastante abrangente e em vários níveis, com a comunicação e a formulação de políticas públicas como dois de seus pilares estruturais.
Novos Materiais
No dia de hoje, o aço e concreto juntos são responsáveis por até 17% das emissões globais anuais. Neste sentido há uma preocupação crescente em descarbonizar os seus processos de extração e produção, mas principalmente em reduzir seu uso na construção civil, criando espaço para outros materiais alternativos. Ao mesmo tempo, muitos jovens escritórios de arquitetura ao redor do mundo estão explorando as possibilidades de novos materiais biológicos e novos métodos de construção—atentos ao fato de que a industria da construção civil, no atual estado das coisas, está caminhando em direção ao esgotando de nossos recursos naturais, além de continuar utilizando incessantemente materiais baixa taxa de reciclagem.
Na Dutch Design Week, uma casa criada inteiramente com materiais de base biológica ilustrou a escalabilidade do design circular ao incorporar 100 tipos de componentes sustentáveis, que vão desde elementos de revestimento acústico compostos por fungos, passando por painéis de acabamento fabricados com restos de conchas até componentes de construção impressos em 3D a partir de resíduos biológicos produzidos por usinas de tratamento de esgoto. The Exploded View Beyond Building, concebido por Pascal Leboucq e Lucas De Man, é o resultado de vários anos de pesquisas realizadas em parceria pelo "The Embassy of Circular and Biobased Building" e a organização Biobased Creations, contando com a colaboração de arquitetos, empresários, autoridades locais, pesquisadores e pioneiros no campo da economia circular e de base biológica na construção civil.
Para além da arquitetura efêmera, os materiais de base biológica nos oferecem uma oportunidade para o estabelecimento de uma nova prática de arquitetura. O Biobased Creations (BC) é um escritório multidisciplinar que reúne o BC architects, o BC studies e o BC materials, entidades independentes que operam em diferentes frentes. Com projetos desenvolvidos no Marrocos, Burundi e Etiópia, o BC architects desenvolveu uma abordagem arquitetônica própria e baseada em materiais e técnicas construtivas locais, as quais ele procura agora implementar na Europa e além. O BC materials, por sua vez, se concentra em atividades de mineração urbana na região do Benelux, transformando o volume de terra resultante da escavação de canteiros de obras em materiais de construção sustentáveis, como tijolos e elementos de taipa. Estabelecendo uma abordagem de design circular, o BC materials procura agregar valor a um componente da construção civil geralmente subestimado, sendo que atualmente 60% do volume total de escavações urbanas vão parar em aterros sanitários.
Abordagens Alternativas de Projeto
A reciclagem de materiais e o design para desmontagem são outras abordagens destinadas a reduzir o desperdício na industria da construção civil. Embora ambas exijam uma mudança sistêmica no campo da arquitetura, esforços individuais podem ser importantes ferramentas de mudança. Um escritório belga, o Rotor, colocou em prática seu conhecimento sobre fluxos de materiais criando uma empresa spin-off, a Rotor Deconstruction, que trabalha na desmontagem de edifícios e na reciclagem de componentes construtivos de empreendimentos de grande escala destinados à demolição. A reutilização adaptativa é outra abordagem arquitetônica com implicações significativas em relação as mudanças climáticas e a sustentabilidade na construção civil. Algumas práticas, como o Architecture Initiative, vêem o retrofit como uma importante estratégia não apenas na reduções dos custos energéticos incorporados e na economia de recursos, mas principalmente na preservação da identidade arquitetônica e de tecidos urbanos históricos.
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