O escritório Alexandre Furcolin Paisagismo foi eleito vencedor do concurso nacional de projeto para o Centro Histórico do Casarão Gallotti em Tijucas, Santa Catarina. A competição, organizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de Santa Catarina e a Secretaria de Cultura, Juventude e Turismo de Tijucas, buscava "estimular a preservação do patrimônio paisagístico e urbanístico da cidade" e "humanizar os espaços livres do centro histórico".
Conheça, a seguir, a proposta vencedora do concurso, acompanhada do memorial fornecido pela equipe de projeto.
Da equipe: Rios navegáveis são convite. Convidam a cidade a se manifestar entre chegadas, partidas e na imaginação do povo, fruto do encontro entre diferentes culturas e naturezas. A cidade resultante de diferentes identidades culturais, que celebra o Divino, o São Sebastião, dança Cacumbi e carrega o nome Tupi-Guarani, tem em suas raízes a sede de se renovar.
O projeto faz parte de um processo de retomada do espaço público em busca da qualidade urbana e democratização do ambiente coletivo. Em uma cidade que ao longo de sua história foi âncora de diferentes culturas, religiões, povos e histórias, a busca pelo resgate da memória urbana em um novo desenho de cidade se consolida neste Concurso Público Nacional. Esta proposta reverbera as intenções e diretrizes que norteiam o concurso a partir de um conjunto de premissas para o projeto de requalificação: valorização e conexão com as pré-existências do espaço e com a identidade de seus usuários; corroboração para o enaltecimento de potencialidades locais e desenvolvimento de novas; disseminação de conceitos, como pertencimento, acessibilidade universal e sustentabilidade, em busca da construção simbólica de cidade educadora, igualitária e inclusiva.
É preciso considerar a condição histórico-territorial na qual Tijucas está inserida, entre a Foz desaguando no mar, e a malha urbana dividida pela maior estrada do país. Lê-se o projeto como parte da requalificação da área portuária, que procura resgatar a vocação marítima da cidade por meio de uma série de projetos, fazendo assim a região se voltar novamente para as suas águas, valorizar a cultura do pescador local e atrair turistas. Os processos de urbanização no Brasil historicamente fizeram com que o espaço público se desassociasse tanto da identidade das cidades quanto da população, sobrepondo camadas desconexas do tecido, e causando impactos negativos na qualidade de vida urbana. Em situações que margeiam as águas brasileiras, é comum que orlas inteiras tenham baixa permeabilidade de acessos e privatização dos lotes decorrente de desenho do parcelamento urbano que originou indesejáveis becos entre fundos de lotes que, compreensivelmente, tiveram seu acesso bloqueado pelos próprios moradores através de privatizações irregulares.
O desafio de converter fundos de lotes em frentes, com acesso democratizado como forma de resgatar e atualizar a relação do espaço público com o rio é uma maneira de enraizar e educar, através da ação exemplar de cuidado nas relações natureza-cultura. Em um cenário que caminha em direção ao esgotamento dos recursos naturais e humanos, acreditamos que o desenho urbano e paisagístico tem a obrigação de se posicionar como força contrária aos inúmeros agentes que vêm pressionando nossos espaços, nossos parques, nossas águas e nossa vida.
Dessa forma, um conjunto de intervenções de natureza sistêmica e integradas, em geral simples, de baixo custo, de implementação por etapas e coordenadas por um modelo de gestão interdisciplinar com participação cidadã seria o ideal para responder às diretrizes gerais do concurso. Para tanto, foram definidos dois eixos conceituais que nortearam o desenvolvimento do projeto:
Natural / Biológico
O caráter orgânico do projeto é de extremo interesse para a proposta. Tendo em vista que, ao falar sobre memória, o resgate parcial da vegetação nativa é a melhor forma de recompensar a biodiversidade local pelas perdas acumuladas pela ação humana no espaço.
Ancoramento / Memória
Um projeto que busca nas camadas de memória do território as respostas para as problemáticas atuais. O resgate da memória se dá como guia para um desenho que se relaciona com o existente e busca melhorá-lo. O desenho deve partir dos usos, caminhos e construções já criadas, considerando válidas as contribuições anônimas da sabedoria pedestre e da inteligência coletiva.
Ficha técnica
Arquitetos responsáveis: Alexandre Furcolin, Marina Gwyther, André Furcolin, Paula Pereira, Fernando Bianchi.
Equipe de projeto: Alexandre Furcolin (autor), Marina Gwyther (autora), André Furcolin (autor), Paula Pereira (autora), Fernando Bianchi (autor), Davi Alvim (colaborador), Helena Dalbianco (colaboradora), Marina Pini (colaboradora), Crislaine Penha (colaboradora), Andrea Palomino (colaboradora), Stephanie Dower (colaboradora).
Conheça os demais premiados no site oficial do concurso.
