Neste episódio, o Arquicast presta homenagem a Ruy Ohtake, arquiteto paulista conhecido internacionalmente, dono de um portfólio expressivo de projetos construídos e responsável por alguns dos edifícios mais icônicos da cidade de São Paulo. Ruy faleceu em novembro de 2021 e tinha 83 anos. Para nos ajudar a contar a história de vida e a trajetória profissional deste filho de imigrantes japoneses, convidamos três grandes nomes, referências quando o assunto é a obra de Ruy, o contexto de sua atuação para a história da arquitetura brasileira e peculiaridades de sua personalidade marcante. Participam da conversa os arquitetos Abílio Guerra, Renato Anelli e Rodrigo Queiroz.
Filho da artista nipo-brasileira Tomie Ohtake, figura singular nas artes plásticas e referência fundamental em sua educação intelectual e expressiva, Ruy se forma pela FAU-USP em 1960. Neste contexto, seu pensamento sobre arquitetura, como vários artigos apontam, teve influência primordial de Vilanova Artigas, do qual foi aluno, e do amigo Oscar Niemeyer, com o qual pode conviver e trocar percepções de mundo.
Apesar de pertencente à geração modernista e ser considerado, sem dúvida, um homem de seu tempo, Ruy soube assimilar as diferentes dimensões da arquitetura moderna a partir de uma interpretação toda própria dos trabalhos de mestres e colegas. As diferentes fases que marcam sua produção arquitetônica e urbana são um exemplo de sua sensibilidade ao contexto e da investigação projetual voltada à beleza das formas. Tanto o rigor técnico e construtivo da escola paulista, quanto o exercício de liberdade plástica “niemeyeriano”, podem ser encontrados em várias de suas obras.
A visibilidade que o arquiteto foi adquirindo, em função de uma atividade projetual intensa ao longo dos anos – há centenas de projetos construídos de sua autoria – por vezes não veio acompanhada do reconhecimento entre seus pares. Ruy, de certa forma, sofreu as consequências de um ambiente acadêmico e profissional muito engessado pelo dogmatismo moderno e de um campo crítico ainda em formação, o qual só recentemente parece ter construído um ferramental teórico adequado para uma análise ampla de sua obra.
De toda forma, o elenco de seus projetos fala por si só, assim como os gestos e croquis que costumavam acompanhar suas muitas entrevistas e palestras mundo afora. O jeito simpático e simples que encantava quem convivia com ele era também uma forma de retórica, parte da inteligente argumentação que acrescentava ainda mais valor à sua forma de ver e fazer no mundo.