De tanto que a repetimos nos últimos anos, já quase nem nos damos conta do real significado que a palavra “sustentabilidade” tem. O que é ser sustentável?
Convidado do Betoneira Podcast, o arquiteto Marko Brajovic sugere que, em vez de procurarmos esses selos – utilizados, inclusive, em ações de "greenwashing" –, o mais genuíno é buscar reconhecer que somos parte dessa mesma natureza que tentamos proteger.
O tema fundamental é como a gente se conecta com o entendimento dos processos naturais, fora dos processos necessariamente produtivos. A gente sabe que na natureza não existe a palavra 'lixo' – tudo se transforma. Como arquitetos, temos grande limitação e pouca transparência em relação a materiais com os quais trabalhar. O momento é de criar novos materiais nós mesmos, para poder fazer evoluir tecnologias e espécies de arquiteturas. — Marko Brajovic
Diretor criativo do ateliê que leva seu nome, ele é um especialista em biomimética, a ciência que estuda as estratégicas da natureza.
A biomimética é uma metodologia que estuda as estratégias da natureza para solucionar problemas: estratégias de sobrevivência, de sistemas de cooperação, evolução, adaptação, proliferação e criação de estruturas. — Marko Brajovic
Vários de seus projetos foram pensados para a Amazônia, região que ele frequenta há cerca de 15 anos. Um deles é a biblioteca flutuante para a comunidade que vive nas proximidades do lago Mamori, inspirada nas plantas flutuantes. Esse e outros trabalhos desenvolvidos na floresta foram apresentados na Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2021, cujo tema foi “Como Viveremos Juntos?".
A discussão sobre a Amazônia é fundamental para o presente e o futuro. E é preciso demonstrar essa dimensão da Amazônia como lugar de convivência, onde vivem e viveram milhões de pessoas, praticando atividades agroecológicas, com uma relação produtiva e regenerativa com o solo. É preciso entender uma Amazônia muito mais próxima de nós, não somente como um lugar místico, longe. — Marko Brajovic
Sobre a emergência climática e os próximos anos, Marko revela uma visão nem pessimista, nem otimista, mas sim “possibilista".
Primeiro, é fundamental a gente se reconhecer como natureza. A partir disso, nossas decisões serão coerentes. Não tem uma grande solução para a mudança climática; são as pequenas micro decisões que cada um de nós toma. Temos que sacrificar um certo modus vivendi que a gente tem de consumo e de uso, e sacralizar nós próprios e nossa natureza interna. — Marko Brajovic
Nascido em Montenegro e crescido na Croácia, Brajovic se formou em arquitetura na Universidade IUAV, na Itália, e se especializou em arquitetura biodigital e biomimética na Universidade Internacional da Catalunha, na Espanha. É diretor criativo do ateliê que leva seu nome, fundado há cerca de 15 anos, em São Paulo.