Seguindo as regulamentações sanitárias da Covid-19 do Estado da Califórnia no início de 2020, a Metro, agência de transportes públicos de Los Angeles, parou de cobrar tarifas em seus ônibus como uma medida de precaução e segurança. No entanto, a decisão da companhia se converteu no maior experimento de passe livre dos Estados Unidos, com o uso do sistema de transportes públicos nunca caindo abaixo dos 50 por cento, mesmo com as ordens para ficar em casa decretadas pelo governo. Após 22 meses da decisão e de cerca de 281 milhões de jornadas gratuitas, a companhia decidiu retomar a cobrança de tarifas, mas planeja utilizar a informação adquirida durante esses dois anos para implementar melhorias futuras e introduzir outros programas gratuitos ou de tarifas reduzidas na cidade.
A pandemia foi, talvez, uma dos maiores fatores de dificuldade para o sistema de transportes públicos nos Estados Unidos nos últimos dois anos. Embora a Metro não tenha conseguido calcular exatamente quantas pessoas estavam fazendo jornadas gratuitas durante os últimos dois anos, a empresa ainda conseguiu recuperar 80 por cento das jornadas pré-Covid em comparação com outros estados, após o experimento. Oscar Zarate, diretor assistente de organização de Ações Estratégicas para uma Economia Justa, explicou que "não é coincidência. Eu acredito que seja porque a maioria das pessoas que andam de ônibus dependem disso, pois são trabalhadores e aquele é seu principal meio de transporte. E já que eles não pagaram por aqui, foi muito fácil usar e desfrutar do sistema de transporte público".
A decisão financeira não afetou o desempenho da companhia em termos de receita, já que seu orçamento não conta apenas com as cobranças de tarifas. As verbas totais recolhidas durante apenas um ano representam apenas 6 por cento da receita total do sistema, e um terço dela é dirigido à cobrança de tarifas. O experimento da Metro não é o primeiro a acontecer nos Estados Unidos. Um outro programa permanente de passe livre é conduzido em Kansas City, e oferece jornadas gratuitas a 30 mil e 40 mil passageiros por dia. De maneira semelhante, a cidade de Boston está trabalhando na mesma estratégia em rotas específicas de ônibus. O sistema MTA de Nova York, no entanto, argumenta que as tarifas proporcionam 6 bilhões de dólares em um ano normal não pandêmico, e são essenciais demais para serem reduzidas ou renunciadas.
Após o experimento, a companhia começou a fazer pequenas mudanças nas tarifas, oferecendo descontos em passes semanais ou mensais para passageiros de baixa renda e estudantes de alguns distritos escolares. Os estudantes da rede pública unificada de LA podem viajar de graça. Além disso, a Metro está buscando outros benefícios com o experimento. Por exemplo, alguns motoristas perceberam uma redução de dois segundos em pontos onde as tarifas não eram cobradas, o que acelerou os embarques em 10 por cento. Em termos de benefícios ecológicos, as tarifas livres reduziram o uso de carros particulares, reduzindo as emissões de gases geradores do efeito estufa na cidade.
Em uma escala global, aproximadamente 100 cidades por todo o mundo oferecem transportes públicos gratuitos, a maioria delas na Europa. Luxemburgo se tornou o primeiro país do mundo a tornar todos os seus transportes públicos gratuitos em 2019. O primeiro-ministro Xavier bettel e o governo de coalizão suspenderam todas as tarifas de trens, bondes e ônibus a partir do do verão de 2020, aprimorando os longos deslocamentos e a pegada de carbono do país, aliviando também o que era considerado um dos piores trânsitos do mundo.
Paris também está em processo de diminuir o fardo financeiro do transporte público. Em setembro de 2019, passes livres para o metrô e os ônibus foram implementados pela região da Grande Paris para pessoas com menos de 11 anos de idade, incluindo os não-cidadãos, assim como viagens gratuitas para pessoas com deficiências e com menos de 20 anos de idade. Estudantes secundaristas de idades entre 14 e 18 anos receberam 50% de redução, assim como uma conta gratuita no sistema de compartilhamento de bicicletas da cidade, o Vélib.
Via Curbed.