Machu Picchu, também conhecida como "A cidade perdida dos Incas", localizada no alto dos Andes peruanos (2430 metros de altitude), é um dos complexos arqueológicos mais famosos e uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Ali, embaixo da densa folhagem da selva andina, foi descoberta uma rede de canais fluviais ocultos.
A descoberta foi publicada em um estudo em janeiro de 2022, com o título "Análise do fluxo do canal d'água Inca baseado em modelos de escaneamento 3D laser terrestre por UV no sítio arqueológico de Chachabamba (Parque Nacional Arqueológico de Macchu Picchu, Peru)", na revista Journal of Archaeological Science, por uma equipe de cientistas poloneses formada por Dominika Sieczkowska, Bartlomiej Ćmielewski, Krzysztof Wolski, Dąbek Paweł, José M. Bastante e Izabela Wilczyńska. O achado constitui em um complexo aquático fabricado em pedra e localizado a menos de oito quilômetros da cidadela inca, nas imediações do centro cerimonial de Chachabamba.
Devido à complexidade de acesso e exploração das zonas altamente cobertas pela vegetação, a investigação teve que ser conduzida com o uso de novas tecnologias, aplicadas pela primeira vez na região. Os pesquisadores utilizaram técnicas de documentação tridimensional para produzir cálculos hidrodinâmicos dos restos arqueológicos. Esses se deram mediante ao sistema de escaneamento LiDAR, que funciona com base em pulsos de laser que permitem a obtenção de imagens das superfícies.
A descoberta consiste em uma dúzia de pequenas estruturas que abasteciam de água o complexo arqueológico e cerimonial de Chachabamba. Este se encontra localizado em um terreno majoritariamente plano no vale de Vilcanota, no sudeste do Peru (a 2.170 metros de altitude). Os monumentos arqueológicos de pedra que o formam são um altar principal e quatorze banheiras circundantes. As pesquisas sobre o sistema h´ demonstram que as quatorze peças de pedra exerciam um papel único de banhos cerimoniais de purificação, indicando a o caráter cerimonial do sítio.
O sistema de água de Chachabamba tem a função exclusiva de ritual. Ele se alimenta das águas do rio Urubamba, chamado de Willkamayu e considerado sagrado pelos incas. Como explica Dominika Sieczkowska, sub-diretora da organização de desenvolvimento do Centro de Estudos Andinos da Universidade de Varsóvia e que dirigiu a pesquisa: “Somente pessoas muito privilegiadas podiam chegar a Machu Picchu, porque era um lugar muito especial", comenta. “Quando fosse até lá, você tinha que parar em Chachabamba para tomar um banho espiritual para se limpar e se purificar antes de chegar em Machu Picchu”, acrescentou.
Machu Picchu, a cidade inca mais famosa da História, segue sendo um complexo enigmático que fascina. O novo achado arqueológico nos ajuda a entender e aprofundar de melhor maneira como foi a vida na cidadela sagrada nos Andes, pois aponta que os incas construíram sistemas hidráulicos para legitimar sua dominação no local.