No País dos Arquitectos é um podcast criado por Sara Nunes, responsável também pela produtora de filmes de arquitetura Building Pictures, que tem como objetivo conhecer os profissionais, os projetos e as histórias por trás da arquitetura portuguesa contemporânea de referência. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal é um país muito instigante em relação a este campo profissional, e sua produção arquitetônica não faz jus à escala populacional ou territorial.
Neste episódio Sara conversa com o arquiteto António Cerejeira Fontes, do escritório Cerejeira Fontes Architects, sobre as Capelas Imaculada e Cheia de Graça em Braga, norte de Portugal. Ouça a entrevista completa e leia parte da transcrição da conversa, a seguir:
Sara Nunes - O projecto sobre o qual iremos estar à conversa hoje é um edifício de carácter religioso. Pergunto-lhe se a arquitectura pode promover ou aproximar as pessoas da espiritualidade?
António Cerejeira Fontes - Obviamente que sim. Senão os arquitectos não fariam igrejas. A dimensão sagrada na prática da arquitectura é um dos braços que a arquitectura tem. E, de facto, pode-se fazer um edifício de habitação sagrada quase como se fizesse uma casa, uma habitação.
SN - É quase a mesma coisa, não é?
ACF - Quase a mesma coisa, sim.
SN - E este é um projecto de reabilitação da Capela Imaculada Conceição, em Braga. Tenho curiosidade em saber qual era o estado da capela antes de iniciarem o projecto. E se ainda se celebrava ali a missa/rituais religiosos e quais os principais desafios que o programa vos proponha.
ACF - A Capela Imaculada é uma capela que está dentro de um edifício muito grande, que é o Seminário de Nossa Senhora da Conceição. É um edifício que serviu, durante estes anos até hoje, e continua a servir, como Seminário Menor e alberga aí alunos, que vão desde os 12, 13 anos até aos 18 anos. Esses alunos depois passarão, se continuarem esse percurso, para o Seminário Maior. Era uma capela, feita nos anos 40, com um âmbito diferente das expectativas que as pessoas tinham para uma capela dentro de um seminário. A capela não estava em muito boas condições, mas ainda estava a funcionar. Tinha algumas questões complicadas, alguma deficiência estrutural nalguns pontos, que era preciso resolver. Também havia algum risco de incêndio no caso de haver alguma combustão na cablagem eléctrica, que estava pousada na estrutura de madeira. Havia aí uma série de problemas, que tinham de ser resolvidos, e aproveitou-se a oportunidade de resolver aquelas questões mais graves para se atacar o problema de fundo, que era: como fazer uma capela, no século XXI, para uma comunidade de alunos, que vão entre os 12 e os 18 anos?
SN - Por acaso agora tenho uma dúvida. Esta capela não está aberta ao público. É só de usufruto do seminário?
ACF - É, mas neste momento o edifício não é só um edifício do seminário. Também tem uma parte que integra os serviços centrais da diocese de Braga. Uma parte do edifício é uma área de âmbito cultural, onde existe um grande auditório e uma parte do edifício é que está ocupada com seminário. Não estando aberto ao público, ele está permanentemente acessível. O edifício, obviamente, tem de respeitar os horários em que os estudantes do seminário têm de usar a capela, mas em todos os outros horários é possível fazer visitas e, até, fazer alguma celebração lá. Não há qualquer tipo de problema.
SN - Eu perguntava também isto porque sei que dentro da própria capela há uma capela mais pequena. Está dentro de uma estrutura lindíssima que vocês fizeram de madeira. E sei que essa parte, sim, é de exclusivo uso do seminário. Estou enganada, António? Fale-nos um pouco sobre este espaço, que é mais reservado.
ACF - É verdade. Um dos propósitos deste projecto... tendo a capela espaço na sua origem para 300, 400 pessoas, não fazia sentido ter uma capela com essa dimensão para uma comunidade composta por 30, 40 alunos. Era preciso encontrar um espaço mais próximo daquilo que era a dimensão da comunidade que lá vivia, por um lado; por outro lado, também criar um espaço mais próximo da área do edifício que eles utilizavam com mais frequência, que era o 1º andar e não ao nível do rés-do-chão. Então, procurou fazer-se uma capela mais pequena dentro da própria capela, que é uma coisa que não é muito comum, e nesse espaço, em cima dessa capela, poder testar dentro da outra capela também. Apesar de estar numa capela mais pequena, continua a estar na capela principal. Todos os padres da diocese de Braga que passaram por aquele edifício, todos eles têm uma memória daquilo que foi a sua experiência durante muitos anos a viver ali.
SN - Porque era o lugar da formação deles, não é?
ACF - A formação de todos os padres da diocese de Braga passou por ali. Isso deixa marcas. E havia a vontade de não querer fazer outra capela noutro sítio... poderia ter sido o caminho... fazia-se uma capela mais pequena noutro sítio. Mas não. Uma capela não é só uma questão prática ou pragmática da sua utilização, mas existe também este carácter simbólico ou de memória que ela também transporta, que une todos os alunos que passaram por lá e que convinha que continuassem a passar por lá.
Ouça a entrevista completa aqui. Reveja, também, as entrevistas já publicadas do podcast No País dos Arquitectos:
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Nota do editor: A transcrição da entrevista foi disponibilizada por Sara Nunes e segue o antigo acordo ortográfico de Portugal.
