No País dos Arquitectos é um podcast criado por Sara Nunes, responsável também pela produtora de filmes de arquitetura Building Pictures, que tem como objetivo conhecer os profissionais, os projetos e as histórias por trás da arquitetura portuguesa contemporânea de referência. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal é um país muito instigante em relação a este campo profissional, e sua produção arquitetônica não faz jus à escala populacional ou territorial.
Neste episódio Sara conversa com Sofia Couto e Sérgio Antunes, do escritório Aurora Arquitectos, responsáveis pelo Open House Lisboa 2022, que tem como tema "A Rebeldia do Invisível”. Ouça a entrevista completa e leia parte da transcrição da conversa, a seguir:
Sara Nunes - O Open House é um grande evento anual internacional, que no nosso país acontece em Lisboa e no Porto. Tive a oportunidade de, durante muitos anos, fazer a reportagem em filme da Open House Lisboa e do Porto, e sempre senti que este era o verdadeiro evento de divulgação da arquitectura – aquele que, de forma mais efectiva, fazia com que a arquitectura fosse acessível a todos. E neste podcast falamos de edifícios de referência que, normalmente, reconhecemos na nossa cidade, mas desconhecemos, muitas vezes, os seus autores, o seu processo, porque é que foram desenhados daquela maneira, a sua história, os materiais, quantas pessoas envolveu e o seu impacto na vida das pessoas. Por isso, convidei-vos hoje para falarmos do Open House Lisboa. Acredito que é um evento que melhor nos permite conhecer as cidades e fazer uma reflexão sobre elas. Mas hoje não vamos falar apenas de edifícios de referência porque o Sérgio e a Sofia foram rebeldes ao ponto de quererem mostrar neste Open House Lisboa, do qual são comissários, que a arquitectura e a cidade também se faz de arquitectura invisível. O que vos levou a aceitar o convite para serem comissários? Gostava que nos falassem também sobre o tema que escolheram para este roteiro.
Sérgio Antunes - A primeira coisa que nos levou a aceitar... é que nós participámos – nós, atelier Aurora – com edifícios, muitas vezes, no Open House. E sempre que isso aconteceu foi um momento especial para nós, enquanto arquitectos. Os arquitectos estão, muitas vezes, metidos na sua casca, não é? E quando temos contacto com o público eu acho que é de aproveitar. Nós, normalmente, andamos num círculo mais ou menos fechado, entre as pessoas que conhecemos e os nossos clientes. E aquele momento em que estávamos a mostrar – porque nós mostrávamos sempre os edifícios pessoalmente (eu, a Sofia ou a Carolina) – era um momento incrível porque as pessoas diziam coisas sobre o que fazíamos. Diziam coisas boas, coisas más e coisas inesperadas. E isso é uma forma de nos devolverem aquilo que fazemos. Uma forma directa. Ou seja, é um espelho directo. Nada de muito complicado. E isso era sempre incrível. Era sempre um momento especial.
SN - Essa troca, não é? Essa troca com as pessoas que vivem a cidade...
SA - Sim, sim! Directamente, quer dizer, sem mediações, sem as pessoas estarem a querer fazer interpretações muito especiais e muito eruditas sobre o que nós fazemos ou deixamos de fazer. Portanto, quando a Trienal de Lisboa nos convidou foi com muita alegria que aceitámos. Depois andámos à procura do que é que havia de ser o fio condutor para este ano e esse fio condutor, no fundo, tem muito a ver connosco, com a arquitectura que fazemos e com as nossas preocupações diárias. Não sei, Sofia, queres falar um pouco sobre o tema em si mesmo?
Sofia Couto - Sim, o tema, em si mesmo, tem a ver com esta evolução dos edifícios e da cidade funcionar, na nossa visão, – e é uma visão que é reconhecida e que é consensual – um bocadinho em dois tempos. Ou seja, há uma preocupação muito grande e que é legítima relativamente a uma identidade – principalmente num contexto de reabilitação – exterior dos edifícios porque está completamente a contribuir para a identidade da cidade e, portanto, há uma certa homogeneidade e linha...
SN - Condutora...
SC - Exacto. Uma linha condutora arquitectónica entre os edifícios que se pretende conservar e que, portanto, limita-nos, muitas vezes, na expressão arquitectónica da intervenção que vamos fazendo no tempo actual. Muitas vezes, diluem-se os tempos em que os edifícios estão a sofrer intervenções pelo exterior, portanto nós, muitas vezes, estamos na rua e não temos essa... apreciamos os edifícios pelo exterior e não temos bem essa noção... Ou seja, é muito discreta a forma como se percebe que alguns edifícios estão a ter intervenções: ou porque notamos que os materiais estão a ser melhorados, ou porque a cor da fachada mudou, mas não há assim uma noção muito forte ao nível de intervenção que aquele edifício está a sofrer.
Ouça a entrevista completa aqui. Reveja, também, as entrevistas já publicadas do podcast No País dos Arquitectos:
- Carrilho da Graça
- João Mendes Ribeiro
- Inês Lobo
- Carlos Castanheira
- Tiago Saraiva
- Nuno Valentim
- Nuno Brandão Costa
- Cristina Veríssimo e Diogo Burnay
- Ricardo Bak Gordon
- Paula Santos
- Carvalho Araújo
- Guilherme Machado Vaz
- Menos é Mais Arquitectos
- depA architects
- ARX Portugal
- Frederico Valsassina
- PROMONTORIO
- Camilo Rebelo
- Pedro Domingos e Pedro Matos Gameiro
- Luís Rebelo de Andrade
- Susana Rosmaninho e Pedro Azevedo
- João Pedro Serôdio
- João Carlos Santos
- Manuel Aires Mateus
- Carlos Antunes e Désirée Pedro
- Adalberto Dias
- Pedro Guimarães
- Eduardo Souto de Moura
- Diogo Aguiar
- João Maria Trindade
- António Cerejeira Fontes
- Studio MK27
- AND-RÉ
- Adriana Floret
- Pedra Líquida
- spaceworkers
- atelier extrastudio
Nota do editor: A transcrição da entrevista foi disponibilizada por Sara Nunes e segue o antigo acordo ortográfico de Portugal.