Registrar os projetos arquitetônicos e urbanísticos não é só uma etapa final, mas um ato importante de preservação da memória. Neste episódio do Betoneira Podcast, o arquiteto Hugo Segawa, um dos precursores em usar a fotografia como ferramenta de pesquisa e documentação da arquitetura brasileira, reforçou o sentido de que o ato de documentar deve gerar conhecimento.
A fotografia não é só uma documentação, ela também ajuda a pensar soluções, a implantação de uma obra… É uma análise do objeto registrado.
Hugo começou a fotografar quando ainda era estudante de arquitetura, na década de 1970, e entre as primeiras obras que registrou estão o Ministério da Educação e Saúde, a Associação Brasileira de Imprensa, e o conjunto residencial do Pedregulho, todos no Rio de Janeiro.
Eu não fazia algo para agradar o autor do projeto, mas buscava obras que me interessassem do ponto de vista de percepção e análise do espaço, da arquitetura. Certamente há detalhes, pormenores, que eu tenha tirado, que não tem nada a ver com fotografia de arquitetura, mas com sistema construtivo, encaixes, ambiente urbano, paisagismo...
Hugo Segawa atuou na revista Projeto do final da década de 1970 até meados da de 1990, e, durante esse tempo, rompeu o eixo Rio-São Paulo e foi atrás de obras de arquitetos da região Norte e Nordeste. Registrou projetos de Lucio Costa e de Severiano Mario Porto no Amazonas, por exemplo.
Hugo credita esse feito a Vicente Wissenbach, pioneiro no jornalismo de arquitetura no Brasil e idealizador da Projeto, e revela detalhes do período no Betoneira Podcast.
Quando os apresentadores Marcelo Barbosa e André Scarpa perguntam ao arquiteto e professor se tem alguma obra que ele gostaria muito de ter fotografado, mas não conseguiu, ele responde prontamente:
Tem uma obra que eu fotografei, mas lamento não ter fotografado mais e melhor: a casa da Lina Bo Bardi em Salvador. Talvez eu seja uma das poucas pessoas que tenha entrado naquela casa e fotografado. Mas eu deveria ter fotografado muito mais. Eu tenho só quatro fotos e elas nem são muito boas.
O acervo de Hugo Segawa é extenso, mas ele afirma que nunca refletiu muito sobre o que fazer com todo o material em termos de preservação. Sua preocupação é de que tudo o que ele foi registrando ao longo das décadas possa interessar a alguém e ser revertido para pesquisa e conhecimento.
Eu não considero minha documentação como um colecionismo. Eu não coleciono documentos. O documento só faz sentido se você consegue interpretá-lo, se alguém sabe dar um significado a ele. No fundo, a razão de ser do documento é gerar conhecimento. Todo o meu material está disponível. Se alguém quiser usar alguma foto que eu tenha para pesquisa, teses, trabalhos em geral, eu vou ceder. Eu vou preparar esse material para que ele sirva como um documento para reflexões de quem quer que seja.
Quem é Hugo Segawa: arquiteto e professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, dedica-se à pesquisa da arquitetura brasileira há mais de quatro décadas, tendo o registro fotográfico como uma das suas principais ferramentas. Atuou na revista Projeto entre as décadas de 70 e 90, e colabora com o Docomomo Brasil, direta ou indiretamente, desde a sua fundação, em 1992. É também autor de livros como Arquiteturas no Brasil 1900-1990, Arquitectura latinoamericana contemporánea, Ver Zanine, Oswaldo Arthur Bratke e Prelúdio da metrópole: arquitetura e urbanismo em São Paulo na passagem do século 19 ao 20.