Poucos outros materiais podem transmitir a atmosfera arquitetônica tão bem quanto o vidro. Uma escolha obrigatória para os modernistas, devido à sua natureza transparente, o vidro, ainda hoje. ocupa um lugar sólido na paleta de materiais para arquitetos de todo o mundo. Esse elemento único é o tema de Archiving Flux / Stasis, uma exposição fotográfica de Erieta Attali organizada pelo Ministério da Cultura da Grécia na Casa Romana, Ilha de Kos, Grécia, que abrirá suas portas no dia 21 de julho.
Montada em um importante sítio de escavações arqueológicas e monumento do século II, construído sobre as ruínas de uma casa do período helenístico, a mostra reúne 12 fotografias de grande formato apresentando edifícios em diversas escalas e programas, de lugares distantes do globo, cujas singularidades residem justamente nos aspectos etéreos que o vidro lhes proporciona.
Erieta Attali (Tel Aviv, 1966) dedica-se à interação entre arquitetura e paisagem há mais de três décadas. Sua exposição na Casa Romana ficará aberta ao público até 16 de outubro de 2022. Leia, a seguir, o texto oficial da exposição escrito pela própria fotógrafa.
Por Erieta Attali: A singularidade deste material fotográfico reside no fato de apresentar edifícios em vidro não como objetos autônomos, mas como meios para perceber o ambiente que os envolve, afetado pelas condições climáticas e luminosas. Nesta série de fotografias não pretendo documentar de forma objetiva as obras arquitectónicas, mas transmitir as qualidades auráticas dos edifícios provocadas por elementos imprevistos pelo projeto arquitetônico. As fotografias são em formato panorâmico, tiradas do interior ou do exterior dos edifícios, a maioria ao entardecer, quando a transparência e a reflexividade coexistem em misteriosa simbiose.
Ao contrário da fotografia arquitetônica convencional, que visa documentar de maneira objetiva os objetos arquitetônicos, principalmente em suas qualidades arquitetônicas inerentes, as fotografias aqui exibidas têm origem no fascínio pela paisagem. Tendo começado como fotógrafa de paisagem e arqueologia em 1992, me dedico à fotografia de arquitetura há mais de duas décadas. Arquitetura em vidro, para mim, significa: expandir minhas vistas da paisagem através do aumento proporcionado pela arquitetura em vidro, ou seja, a arquitetura enquanto uma “lente ótica” oferece experiências surpreendentes de seu ambiente circundante. São exatamente essas qualidades inesperadas que os edifícios de vidro oferecem quando deixados aos efeitos das condições atmosféricas que me interessam como fotógrafa.
Embora a transparência tenha sido defendida desde o início da modernidade, os projetos contemporâneos com a tecnologia do vidro renovaram não apenas as capacidades estruturais e isolantes do material, mas também a forma como ele constrói a visibilidade em si. O vidro funciona como um “espelho” através do qual o ambiente pode ser visto de várias maneiras inesperadas. Como fica evidente nos edifícios aqui selecionados, com o uso extensivo do vidro a arquitetura se torna um dispositivo visual, uma máquina ótica que alterna entre a tela bidimensional e o volume luminoso, capaz de oferecer transparência a opacidade, expressando objetividade e confundindo todas as coordenadas familiares em uma mescla ambígua.
As superfícies dos edifícios envidraçados adquirem uma estranha dimensão de profundidade revelando não só os microcosmos interiores da vida que encerram, mas também a expansão macrocósmica dos elementos locais e universais que os rodeiam. Assim, o concreto se funde com o céu, o asfalto com a areia, as telhas com as nuvens, o aço com as árvores. Por vezes, os edifícios de vidro têm a peculiar capacidade de desaparecerem, sendo absorvidos pela escuridão da noite, tornando-se parte da paisagem circundante; as montanhas em Nagano, o céu em Hakodate ou a vida nas ruas em Phoenix, EUA. Assim, apesar da grandiosidade da arquitetura envolvida, a paisagem permanece como o elemento mais significativo, superando em muito o gesto arquitetônico.