No País dos Arquitectos é um podcast criado por Sara Nunes, responsável também pela produtora de filmes de arquitetura Building Pictures, que tem como objetivo conhecer os profissionais, os projetos e as histórias por trás da arquitetura portuguesa contemporânea de referência. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal é um país muito instigante em relação a este campo profissional, e sua produção arquitetônica não faz jus à escala populacional ou territorial.
Neste episódio da quarta temporada, Sara conversa com Teresa Nunes da Ponte sobre a reabilitação do Palácio de Santa Catarinos e os séculos de história da cidade de Lisboa. Ouça a conversa e leia parte da entrevista a seguir.
Sara Nunes - O projecto que vamos falar hoje é o projecto de reabilitação do Palácio de Santa Catarina, que se transformou em Hotel Verride, [e está] situado em Lisboa. Já agora, quero partilhar com os nossos ouvintes: nós estamos no escritório da arquitecta Teresa Nunes da Ponte. Temos [aqui] uma vista privilegiada sobre o projecto de que vamos falar hoje. Foi uma bela surpresa, para nós, podermos estar a falar de um edifício do qual estamos muito perto. Enquanto pesquisava sobre este projecto e vi algumas entrevistas senti que tanto a arquitecta, como o próprio cliente falavam deste projecto com bastante paixão e até com sentimento de parceria. Não sei se foi só a minha sensação ou se estou enganada, por isso começava por lhe perguntar como é que nasceu este convite para fazer o projecto e quais foram as suas primeiras impressões do Palacete de Santa Catarina?
Teresa Nunes da Ponte - É verdade. Este projecto foi muito feito em parceria com o dono de obra, Kees Eijrond. Nós trabalhamos com Kees Eijrond, desde 2002, daí haver uma sintonia muito grande.
SN - Ou seja, já tinham trabalhado antes?
TNP - Já tínhamos trabalhado antes porque conhecemo-lo a fazer o projecto da casa dele em Lisboa, que também se vê daqui das nossas janelas e que é contíguo com o Palacete de Santa Catarina. Tivemos depois uma história em comum ligada ao Palacete porque ele tentou adquirir aquele edifício. Chegou a fazer um Contrato de Promessa de Compra e Venda e depois teve de abandonar o projecto. Isto [aconteceu] no início de 2003 porque a Câmara Municipal [de Lisboa] optou pela compra do edifício em circunstâncias que não foram para nós muito claras. Ele só conseguiu adquirir mesmo o Palacete em 2010.
SN - Oito anos...
TNP - Sim, depois de um...
SN - Isso é uma persistência muito grande.
TNP - Muito grande, portanto foi... e nós ajudámo-lo bastante neste percurso e acabamos por ficar com uma relação muito próxima de amizade. No fundo, eu e o atelier de um modo geral. E depois fizemos todo o caminho, este processo e a própria Câmara Municipal agradeceu-lhe a perseverança na compra e depois também na concretização do projecto.
SN - Agora percebo. Também na pesquisa vi uma entrevista que achei muito curiosa de dizer que até o próprio banco, a Caixa Geral de Depósitos, vos enviou uma mensagem a agradecer a perseverança dele. Agora faz sentido. Realmente houve muitos anos até que este sonho conjunto se pudesse tornar possível.
TNP - Sim. É verdade.
SN - Estes projectos de reabilitação são sempre exigentes e são sempre também uma oportunidade para viajarmos no espaço, no tempo e, na realidade, na história. E imagino que fazer o projecto deste Palacete tenha exigido... da parte da Teresa... debruçar-se sobre a sua história... Gostava que partilhasse com os nossos ouvintes qual é a história deste Palacete.
TNP - É uma história muito interessante. Nós tivemos a oportunidade de pedir ao José Sarmento de Matos um estudo histórico – alguém que já nos deixou, mas que era muito conhecedor da cidade e que, para além de ser conhecedor do ponto de vista histórico e científico, gostava muito da pequena história. E, portanto, foi um período muito engraçado trabalhar com ele e perceber as pequenas histórias deste edifício. Existia, naquele local, uma construção com um volume muito semelhante ao que existe actualmente e que ruiu com o tremor de terra. Ruiu praticamente todo. Logo a seguir, os proprietários tentaram recomeçar a construção e, segundo José Sarmento de Matos, ainda conseguiram reconstruir uma pequena parte, mas a Igreja de Santa Catarina – que existia, no fundo, em ângulo com o Palacete sobre o largo, onde é agora o Museu da Farmácia, e que foi demolida, em meados do século XIX – tinha muito boas relações com a Coroa Portuguesa e conseguiu embargar a obra porque iria perder as vistas que nunca tinha tido, mas isso é uma situação que aconteceu muito em Lisboa, nomeadamente neste edifício onde nós estamos. O edifício que está aqui na rua, [com] o número anterior a este, também conseguiu embargar esta obra. [Isto], em 1867.
SN - Ninguém queria perder as vistas sobre o rio Tejo, não é?
TNP - Sim, é isso. Vistas que poderiam nunca ter tido antes. Portanto, aconteceu isso. A obra foi embargada e só em 1805 é que o armador, que era proprietário anteriormente, vendeu o edifício a um outro armador, que teria melhores relações na Coroa Portuguesa. Entretanto, o tempo já tinha passado e conseguiu fazer a reconstrução.
Ouça a entrevista completa aqui e reveja, também, a terceira temporada do podcast No País dos Arquitectos:
- João Maria Trindade
- António Cerejeira Fontes
- Studio MK27
- AND-RÉ
- Adriana Floret
- Pedra Líquida
- spaceworkers
- atelier extrastudio
- Sofia Couto e Sérgio Antunes
- Gonçalo Byrne
- Pedro Bandeira
Nota do editor: A transcrição da entrevista foi disponibilizada por Sara Nunes e Melanie Alves e segue o antigo acordo ortográfico de Portugal.
