João Santos

NAVEGUE POR TODOS OS PROJETOS DESTE AUTOR

Como uma história em quadrinhos deu vida a uma obra não construída de Frank Lloyd Wright

A história da arquitetura está repleta de marcantes hipóteses nunca concretizadas, tenha sido pela inexequibilidade, radicalidade conceitual e/ou outros critérios específicos. Ainda que fruto das mais prestigiadas mentes do campo, tais ideias não transpuseram as inevitáveis imposições da realidade material, e tampouco puderam sofrer adaptações que as viabilizasse, mesmo que parcialmente. No entanto, a importância desses projetos ultrapassa o tangível. Para além de enriquecer o acervo intelectual da profissão, as propostas outrora naufragadas foram e ainda são insumo para reflexões e fonte de criação para diversas abordagens artísticas.

Supressão de direitos no canteiro de obra: paralelos entre Brasília e Qatar

Sessenta e dois anos separam a inauguração de Brasília e a abertura da 22º edição da Copa do Mundo de futebol masculino da FIFA, sediada em 2022, no Qatar. Claro, não só o lugar no tempo e espaço diferenciam estas duas ocasiões históricas: acrescentemos o contexto geopolítico, o caráter, os atores e os interesses envoltos a cada uma. O que sobra, então, como conectivo entre ambas? Para além do fato de que o emirado agora possui a sua própria cidade-modelo (Lusail), erguida no ermo da península, sob a cartilha das últimas tendências urbanas e tecnológicas – à semelhança do vanguardismo do Distrito Federal do Brasil à época da sua construção, em certa medida –, o elo inextricável entre as duas cerimônias está nos canteiros que materializaram as arquiteturas a comportá-las.

Onde começa e onde termina uma cidade?

A pergunta-título deste artigo parte da dedução de que, se as cidades — nos moldes modernos — são entes espaciais possuidores de um ponto originário e demarcatório de desenvolvimento, logo, as mesmas também detêm um ponto (ou linha) equivalente de finitude. A questão poderia ser sanada de imediato ao se valer da cartografia. Sob a ótica administrativa e organizacional, mapas permitem, de certo modo, definir a extensão de todo e qualquer aglomerado urbano. Contudo, os limites arbitrados por bases de representação escalar não dão conta de derrogar a reflexão, pois o senso de apreensão da cidade é muito mais complexo. Como elabora Ferrão (2003), numa fala que abarca, para além da geografia e arquitetura, a dimensão sociopolítica da matéria: a cidade é um “objeto de contornos cada vez mais invisíveis.”

As fontes públicas como zonas de alívio ao calor das cidades

Fruto direto do aquecimento global, o fenômeno das ondas de calor tem se mostrado mais avassalador e frequente a cada novo verão. A mais recente delas irrompe há dias na Europa, com agravamento nos países da região oeste, a exemplo de Bélgica e Reino Unido. O derretimento da superfície da pista de aterrissagem do Aeroporto de Luton e os incêndios causados na vila de Wennington, em Londres, e em Calatayud, no sudoeste da Espanha, são alguns dos episódios que ajudam a entender os contornos críticos do problema.

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Alienação e espaço narrativo na série “Ruptura” da Apple TV+

Uma das produções televisivas mais bem avaliadas dos últimos tempos, “Severance” (“Ruptura”, no Brasil), série sci-fi da Apple TV+ lançada em 2022, estabelece instigante premissa: funcionários da misteriosa Lumon Industries se voluntariam a participar de um experimento que criará em seus cérebros a separação definitiva entre a vida pessoal e profissional, de modo que as memórias do trabalho e da rotina privada não mais se cruzam. O procedimento gera, dessa forma, um alter ego intermitente, alheio mutuamente ao ego e hiperfocado na sua respectiva dimensão. A hábil direção de Ben Stiller e Aoife McArdle, somada às atuações afinadas do elenco, faz jus ao ótimo plot de Dan Erickson, mas ponhamos em destaque aqui como a ambiência principal do show — a matriz da corporação, situada na fictícia cidade de Kier — acentua a angústia passada pela exígua equipe de empregados através da arquitetura que os abriga e aliena durante o expediente diário.