A explicação para algumas pessoas caminharem mais do que outras pode ir além da escolha pessoal: em muitos casos, os níveis de caminhada no dia a dia são determinados pelo desenho urbano. A maneira como as ruas e bairros são traçados ultrapassa questões estéticas ou de planejamento e afeta diretamente o estilo de vida, a saúde, a prática de atividade física e o bem-estar de quem mora ou frequenta cada área da cidade.
Priscila Pacheco
Pessoas tendem a ser mais felizes e saudáveis em bairros caminháveis
Ruas completas e psicologia: como o ambiente influencia nosso comportamento
O ambiente afeta o comportamento, assim como o comportamento afeta o ambiente. Essa é uma das principais proposições da psicologia ambiental, área que estuda a inter-relação entre o comportamento humano e o ambiente que o circunda, seja ele construído ou natural. Se o ambiente tem o poder de influenciar nossas escolhas e hábitos, então é possível planejá-lo para que incentive escolhas mais sustentáveis. E as ruas completas oferecem uma forma de fazer isso.
O que o conceito de Ruas Completas pode acrescentar ao planejamento urbano
O planejamento urbano vai muito além do ambiente urbano em si. Todos os dias, nossas escolhas, o modo como nos deslocamos, o quanto gastamos para isso, as oportunidades a que temos acesso, as opções que fazemos e as que deixamos de fazer – tudo é moldado pelo planejamento urbano. Os profissionais da área, portanto, têm influência direta sobre a vida nas cidades. Mas como é, hoje, a formação acadêmica dos futuros planejadores e planejadoras? O que é essencial para atuar na área?
Antes e depois: medição de impacto em 3 cidades que estão implementando Ruas Completas
A medição de impacto é uma etapa indispensável para que uma Rua Completa seja implementada com sucesso e de fato atenda às necessidades da população. Como não existe um modelo único de Rua Completa, o processo se torna ainda mais necessário: para garantir que as diferentes intervenções sejam eficazes e positivas, é fundamental conhecer os cenários de antes e depois das mudanças e avaliar os impactos do projeto na prática.
Cinco projetos urbanos que transformaram suas cidades
Há mudanças em uma cidade que vão além da superfície. São projetos transformadores, com o poder de gerar um impacto ainda mais profundo do que as modificações estéticas e/ou de infraestrutura. Iniciativas que influenciam positivamente a economia, o meio ambiente e a comunidade que os recebe – de maneiras inesperadas ou até sem precedentes.
Cidade compacta, cidade dispersa: entenda o que é a forma urbana
Podemos dizer que a forma urbana é a “cara” que cada cidade tem. A organização dos espaços públicos e construídos é o que determina a forma urbana de uma cidade. Assim, uma cidade poderá ser dispersa – com baixas densidades populacionais, onde predomina o uso do transporte individual, gerando a necessidade de longos deslocamentos –, ou compacta, com densidades equilibradas e diferentes centralidades. Para atingir o segundo modelo, é fundamental o bom gerenciamento do uso e ocupação do solo, articulado ao planejamento dos sistemas de transporte coletivo.
Como o planejamento urbano influencia nosso dia a dia
Os Planos Diretores (PDs) são instrumento básico da política de desenvolvimento de uma cidade. É a legislação que define as diretrizes para a gestão territorial e a expansão dos municípios. Ao longo das últimas décadas, as cidades brasileiras passaram por um rápido processo de urbanização, que não foi acompanhado por um bom processo de planejamento. Cidades que se desenvolvem à revelia de um bom planejamento tornam-se áreas urbanas dispersas, distantes e desconectadas.
Mas o que realmente está em jogo quando falamos em planejamento urbano e Planos Diretores? De que forma as diretrizes estabelecidas na legislação impactam o dia a dia nas cidades?
O que gera a densidade urbana e quais os efeitos do adensamento nas cidades
Estima-se que as aglomerações humanas em espaços fixos passaram a ser o modelo dominante (em relação às comunidades nômades) há cerca de 15 mil anos, com o domínio de atividades como a agricultura e a domesticação de animais para pecuária. Desde esses primeiros assentamentos, passando pelos burgos e chegando às áreas urbanas que conhecemos hoje, um traço em comum definiu o que entendemos por cidades: são, antes de tudo, aglomerações de pessoas.
Espaços Públicos: o que o planejamento urbano pode ganhar com a tecnologia
Ao longo das últimas décadas, o mundo viveu o crescimento da população urbana, que até 2050 deve chegar a dois terços da população mundial. Em paralelo, novos avanços tecnológicos facilitaram, otimizaram e/ou automatizaram uma série de atividades do nosso dia a dia. No entanto, mesmo com o número cada vez maior de pessoas vivendo nas cidades e a evolução da tecnologia, o planejamento urbano não se modernizou no mesmo ritmo, e ainda não somos capazes de construir espaços verdadeiramente propícios ao nosso bem-estar e felicidade.
A priorização do transporte motorizado, entre outros fatores, continua a gerar ambientes urbanos prejudiciais à saúde física e mental e sem a resiliência necessária para se adaptar ao futuro. Em uma de suas citações mais famosas, Jan Gehl comentou que “nós sabemos mais sobre o que são ambientes saudáveis para gorilas, tigres siberianos e ursos-pandas do que sabemos sobre um bom ambiente urbano para o homo sapiens”. Apesar de vivermos hoje na era do big data, a qualidade dos dados que possuímos sobre as cidades ainda é consideravelmente pobre. São dados que carecem de substancialidade e são, em sua maioria, desatualizados – e mesmo assim é a partir dessas informações que ainda formulamos as normas e políticas que orientam a construção de nossas cidades.
Espaços Públicos: 10 princípios para conectar as pessoas e a rua
Entre os prédios de uma cidade, há uma rede de espaços que criam e fortalecem conexões em diferentes níveis de influência. Em um texto, eles seriam as entrelinhas: o sentido implícito entre o concreto. Os espaços públicos, que preenchem com vida os hiatos urbanos, estão diretamente associados à construção do que chamamos de cidade e influenciam as relações que se criam dentro delas.
Jan Gehl: 50 anos de estudos e 8 ações para entender o uso dos espaços públicos
Ainda sabemos muito pouco sobre o que de fato são ambientes saudáveis para as pessoas. E por que, afinal, é tão importante conhecer e estudar o comportamento humano nas cidades?
A afirmação e a pergunta acima norteiam os estudos de Jan Gehl, arquiteto dinamarquês que dedicou a carreira profissional ao estudo das sociedades humanas nos ambientes urbanos. Em seu novo livro, How to Study Public Life (Como Estudar a Vida Pública, em tradução livre), Gehl e a também arquiteta Birgitte Svarre fazem uma análise profunda da vida pública, apresentando os métodos e instrumentos necessários para restabelecer a vida urbana como um componente vital do planejamento.
Três revoluções para o transporte urbano
As perspectivas para o futuro do transporte urbano estão diretamente associadas às inovações tecnológicas no âmbito da mobilidade. No começo desde mês, o estudo “Três Revoluções no Transporte Urbano” mostrou que pode haver uma redução de 80% nas emissões se as cidades adotarem três “revoluções” na tecnologia veicular: veículos autônomos, veículos elétricos e compartilhamento de veículos.
Realizado pelo ITDP e pela UC Davis, o documento apresenta essas revoluções e o potencial de mudança de cada uma, caso sejam adotadas, em três cenários: 1) se mantivermos as coisas como estão (business as usual), 2) se duas das três revoluções forem implementadas e 3) se as três mudanças forem adotadas. Se amplamente implementadas, as três revoluções podem representar uma redução de 40% nos custos com transporte urbano até 2050. O compartilhamento de veículos e o uso de fontes renováveis de energia são cruciais para esse resultado.
Revitalização de bairros em São Paulo mostra o poder do diálogo entre sociedade e poder público
Construir um bairro sustentável pede tecnologias e práticas que potencializem as condições já oferecidas pelo ambiente e promovam o uso eficiente de recursos como água da chuva e iluminação natural. Estimular um estilo de vida mais sustentável e mudar a maneira como se relacionavam com o lugar onde moravam foram os desejos que moveram moradores das Vilas Jataí, Beatriz e Ida, em São Paulo, a transformarem seus bairros.
O processo se desenrolou a partir de um movimento espontâneo dos próprios moradores. Mais especificamente, conforme conta o Estadão, em uma barraca de festa junina onde as pessoas deixavam post-its com seus desejos para o bairro. O conteúdo dos bilhetes – menos violência, grandes prédios, grandes comércios – deixava transparecer a vontade de viver um lugar mais humano e uma rotina mais tranquila.
O desenho do bairro pode impactar a saúde tanto quanto a genética
A conclusão a que podemos chegar com a análise do estudo The Case for Healthy Places (em português, “O caso dos lugares saudáveis”) cabe em uma frase: “O lugar onde uma pessoa mora pode ser um indicativo de saúde até mais confiável do que seu código genético”.
A afirmação, proferida por Melody Goodman, professora da Universidade de Washington, sintetiza a influência que o lugar onde moramos exerce sobre nós. A forma como diferentes bairros são desenhados tem um impacto considerável sobre a saúde física e mental das pessoas. As oportunidades e serviços que oferecem, os lugares de que dispõem, a organização do mobiliário urbano, as condições de segurança e acessibilidade – uma intrincada rede de elementos age sobre os organismos humanos, afetando-os positiva ou negativamente.
Três apostas para o futuro da mobilidade
A mobilidade é protagonista quando o assunto é o acesso a bens, serviços e oportunidades de trabalho e lazer oferecidas pelas áreas urbanas. Para se obter quase qualquer coisa, conseguir chegar é fundamental. Atendimento médico, aulas na escola ou na faculdade, uma entrevista de emprego, as compras no supermercado, um passeio no parque no final de semana. Tudo está atrelado a um deslocamento.
Desde a invenção da roda, a evolução dos meios de transporte deu às pessoas mais velocidade e poder de alcance. Ir mais longe ficou mais fácil, mais rápido, mais simples. Não só a velocidade dos meios de transporte aumentou: hoje, as inovações e tecnologias de todos os setores, incluindo a mobilidade urbana, desenvolvem-se em ritmo acelerado. As tecnologias de informação e comunicação tornaram-se parte do dia a dia nas cidades. Pensar na cidade é pensar em como a tecnologia pode qualificar, facilitar e, muitas vezes, automatizar a infraestrutura e os serviços urbanos, a forma como nos deslocamos.