A mobilidade é protagonista quando o assunto é o acesso a bens, serviços e oportunidades de trabalho e lazer oferecidas pelas áreas urbanas. Para se obter quase qualquer coisa, conseguir chegar é fundamental. Atendimento médico, aulas na escola ou na faculdade, uma entrevista de emprego, as compras no supermercado, um passeio no parque no final de semana. Tudo está atrelado a um deslocamento.
Desde a invenção da roda, a evolução dos meios de transporte deu às pessoas mais velocidade e poder de alcance. Ir mais longe ficou mais fácil, mais rápido, mais simples. Não só a velocidade dos meios de transporte aumentou: hoje, as inovações e tecnologias de todos os setores, incluindo a mobilidade urbana, desenvolvem-se em ritmo acelerado. As tecnologias de informação e comunicação tornaram-se parte do dia a dia nas cidades. Pensar na cidade é pensar em como a tecnologia pode qualificar, facilitar e, muitas vezes, automatizar a infraestrutura e os serviços urbanos, a forma como nos deslocamos.
As perspectivas para o futuro da mobilidade, como aponta estudo publicado em outubro de 2016 por Bloomberg New Energy Finance e McKinsey & Company, são fortemente baseadas na tecnologia. Em paralelo à urbanização, que deve adensar ainda mais as áreas urbanas nas próximas décadas, o estudo prevê que os sistemas de mobilidade do futuro sejam diferentes daqueles a que estamos acostumados hoje. E as inovações tecnológicas ocuparão um papel central nessa mudança de cenário.
Algumas tendências afetarão a mobilidade urbana nos próximos anos: carros elétricos, carros autônomos, shared mobility (sistemas de compartilhamento), a conectividade entre as coisas (Internet of Things), sustentabilidade. Esses fatores, associados à demanda por parte das pessoas, devem gerar sistemas de mobilidade cada vez mais independentes. Serviços de car-sharing e transporte sob demanda (como o Uber) já estão presentes em milhares de cidades em todo o mundo, e uma série de startups e empresas de tecnologia começam a testar também serviços utilizando veículos autônomos, lançando a possibilidade de encomenda de viagens em estilo porta a porta, sem a necessidade de intervenção humana.
A partir dessas premissas, conforme indica a pesquisa, três modelos de sistemas de mobilidade tendem a prosperar nos próximos anos, cada um ajustando-se melhor a um determinado tipo e contexto de cidade.
Sistemas limpos e compartilhados. O modelo é mais aplicável em centros urbanos em desenvolvimento, com áreas metropolitanas densas, onde o processo de urbanização, somado ao desafio dos congestionamentos e da poluição atmosférica, torna urgente a necessidade de um sistema de transporte mais limpo. É o território certo para investir na qualificação do transporte coletivo, no desenvolvimento de sistemas compartilhados e na implementação de veículos elétricos pequenos e de baixa velocidade, ideais para áreas densas como os centros das cidades.
Onde pode dar certo? Em cidades densas e emergentes. Com base em critérios como PIB per capita, população, histórico de implementação de bons projetos e urgência de reduzir congestionamentos e emissões, algumas candidatas apontadas pelo estudo são Istambul (Turquia), Déli e Mumbai (Índia).
Sistemas autônomos. Tendem a prosperar em cidades desenvolvidas e que registrem a expansão das áreas suburbanas. Numa visão de futuro em que as pessoas prezam por privacidade e autonomia, ganham as ruas veículos elétricos, autônomos e individuais, acompanhados de sistemas integrados e conectados. Nesse cenário, embora elétrico, o carro ainda é protagonista. É onde entram estratégias de gestão de demanda de viagens, como taxas de congestionamento e a delimitação de áreas onde a circulação de veículos é proibida.
Onde pode dar certo? Em áreas urbanas expandidas, nas quais o carro ainda é um componente necessário para a mobilidade. Conforme o estudo, as áreas metropolitanas de Sydney (Austrália), Houston (Estados Unidos) e Ruhr (Alemanha) são exemplos de onde o modelo pode se desenvolver.
Seamless mobility. O terceiro modelo proposto pelo estudo é o que pode se desenvolver em áreas metropolitanas densas e desenvolvidas. Nesse sistema, a mobilidade pode gradativamente se tornar um serviço multimodal, porta a porta, conforme demanda, acionado via smartphone. As fronteiras que hoje separam transporte privado, coletivo e compartilhado são mais tênues – daí a nomenclatura seamless, sem emendas –, e é possível imaginar veículos elétricos autônomos, responsivos à demanda, transportando entre duas até 20 pessoas.
Onde pode dar certo? Em cidades ricas e bem desenvolvidas, como as europeias e norte-americanas. Exemplos são Londres (Inglaterra), Xangai (China) e Singapura.
Não é possível determinar quanto tempo os modelos apontados no estudo levarão até se estabelecer ou mesmo se serão, na prática, como descritos no papel. O desejo das pessoas no que diz respeito à mobilidade, no entanto, não deve mudar: chegar da origem ao destino de forma eficiente, segura e confortável. De modo geral, acredita-se que o futuro trará uma combinação efetiva entre sistemas de compartilhamento, veículos elétricos e autônomos e sistemas integrados de energia, transporte coletivo e infraestrutura urbana. A conectividade entre serviços e infraestrutura deve caracterizar as cidades do futuro, que navegarão entre os diferentes modelos e possibilidades conforme suas condições locais – população, densidade, espraiamento, níveis de congestionamento, entre outras.
Diferentes cidades, com diferentes contextos, inevitavelmente farão diferentes escolhas e seguirão diferentes caminhos. Em escala global, é possível que as mudanças levem mais tempo. De qualquer forma, as tendências apontadas – conectividade, veículos autônomos, sistemas elétricos, serviços inteligentes e sob demanda –, juntas, podem ter um impacto significativo sobre a mobilidade.
Via The CityFix Brasil.