A luz desempenha um papel essencial no mundo do design de interiores, mas também pode criar espaços públicos imersivos. Enquanto James Turrell, Olafur Eliasson e Dan Flavin são celebrados por sua maestria na transformação de cores, reflexos e contrastes luminosos, é importante notar que o campo da iluminação artística não é exclusivamente dominado por homens. Em resposta à falta de representação de artistas femininas na área da luz, uma perspectiva inovadora e esclarecedora surge dos designers de iluminação britânicos Sharon Stammers e Martin Lupton, do Light Collective.
Após a criação da plataforma "Women in Lighting", o livro delas intitulado Women Light Artists dá um passo audacioso ao nos apresentar 40 mulheres criativas cujo trabalho irradia engenhosidade e brilho. O livro oferece uma variedade de projetos fascinantes, que vão desde piscinas interativas até a dança das sombras coloridas da luz do dia sobre uma ponte em Londres, da projeção tranquila em um marco icônico de Berlim até o arco-íris vibrante que se curva sobre o horizonte de Manhattan. Cada obra incorpora um diálogo único entre luz e espaço. Essa jornada luminosa presta uma valiosa homenagem ao poder das mulheres artistas que, por muito tempo, ficaram nas sombras.
Quando capitais como Paris e Berlim decidiram apagar a iluminação de edifícios públicos e monumentos para economizar energia no contexto da invasão russa da Ucrânia, em julho de 2022, cidades de toda Europa central passaram a seguir esse modelo. Imagens desses marcos icônicos na escuridão inundaram a mídia e permitiram aos políticos uma atitude ambientalista, mesmo que momentânea. No entanto, projetistas e designers começaram a questionar a sustentabilidade dessa iniciativa. De uma perspectiva mais ampla, parece que essa suposta ação radical fez parte de uma campanha bastante midiática e com pouco efeito nas cidades. Serão necessários mais passos para que isso gere um grande impacto na economia de energia.
O lema do Solar Decathlon Europe 21/22 era converter e expandir em vez de demolir e reconstruir. A reciclagem de janelas, o uso de materiais biodegradáveis nas luminárias e a conexão da luz com sensores são apenas alguns exemplos inovadores da competição internacional de estudantes universitários em Wuppertal, na Alemanha. Pela primeira vez, o concurso apresentou um prémio de iluminação arquitetónica sustentável. Esta era uma questão de qualidade e de quantidade, e se aplica à luz do dia e à luz artificial.
Com prédios envidraçados de todos os lados e salas brilhantemente iluminadas de maneira monótona, não é supresa que queiramos espaços internos e externos que sejam menos claros. Refúgios de sombra no sol escaldante, salas escurecidas e contrastes são bem recebidos pelos olhos como um oásis. O alto consumo de energia e o aumento da poluição por iluminação no mundo todo mostram o quão sério o problema do excesso de luz é, e sua contribuição alarmante para as mudanças climáticas. Para um futuro melhor, é imperativo explorar maneiras de projetar e focar no potencial da escuridão.
Fora da China, as fachadas midiáticas geralmente aparecem como elementos individuais competindo por atenção. Na China, entretanto, é possível encontrar grandes grupos de fachadas com uma mensagem comum em várias áreas metropolitanas. Essas fachadas mesclam visualmente muitos arranha-céus em uma única entidade panorâmica. Mas quais são as razões pelas quais esse fenômeno é exclusivo da China? E como isso começou? A Media Architecture Biennale uniu cultura e política para fornecer uma resposta ao surgimento das paisagens midiáticas na China.
Imagine se a luz, além de nos permitir enxergar o mundo, fosse também capaz de transmitir informações e significados. Padrões mensuráveis de iluminação natural, traduzidos em níveis de ‘lux’ recomendados para determinadas tarefas, levaram a uma compreensão quantitativa da luz. No entanto, a arquitetura se apropria da luz natural não apenas para cumprir requisitos formais e padrões matematicamente calculados. A iluminação natural é utilizada, sobretudo, para transmitir emoções, revelar espaços e construir atmosferas. Dito isso, poderíamos afirmar que a iluminação é uma forma de linguagem utilizada pelos arquitetos para se comunicar com as pessoas? Desde uma perspectiva semiótica, poderemos melhor compreender como a luz e a sombra contribuem para a construção de significado na arquitetura.
Edifícios nem sempre são capazes de dar respostas rápidas às questões sociais mais urgentes. Ainda assim, no auge da crise pandêmica na China, as fachadas dos edifícios se transformaram em um dos principais veículos de informação e um das armas mais poderosas no combate à disseminação do vírus. Rapidamente, no pior momento do surto de coronavírus na cidade de Wuhan, as autoridades locais utilizaram telas de LED e super-projetores para reproduzir imagens de esperança e solidariedade. Recentemente, outros países também adotaram a mesma estratégia, e até agora, parece que tal abordagem tem dado ótimos resultados no combate à propagação do contágio.
À primeira vista, parece que a força dos projetos de arquitetura das lojas da Apple são uma mera consequência da qualidade do design de seus produtos. Entretanto, desde que Steve Jobs inaugurou a primeira AppleStore em 2001, a gigante americana da industria da tecnologia mudou seu conceito de projeto de arquitetura e também de iluminação, pelo menos, cinco vezes. Desta maneira, parece que a medida que uma marca cresce e se expande no mercado internacional, novos ares e novas ideias são mais do que apenas um desejo, mas uma necessidade para que ela possa manter sua posição no mercado. Em cada um destes períodos conceituais que guiaram os projetos das suas lojas, a Apple fez uso de detalhes e sistemas sofisticados em busca de um projeto de iluminação perfeito - uma estratégia fundamental para aprimorar a qualidade ambiental destes espaços assim como a sustentabilidade e eficiência de suas lojas.
Quando perguntaram a Tadao Ando, arquiteto japonês vencedor do Prêmio Pritzker de 1995, qual seria o elemento mais consistente em sua obra, ele respondeu sem pestanejar: a luz. Através de sua arquitetura, Tadao Ando se apropria da luz e da sombra de uma forma quase coreográfica. Em determinados momentos, a sombra projetada em uma parede de concreto mais parece uma impressionante obra de arte. Em outros projetos são os reflexos na superfície d'água que transformam por completo a nossa compreensão do espaço. Sua abordagem arquitetônica enraizada na tradicional arquitetura japonesa e potencializada por um vasto vocabulário arquitetônico moderno, provocou profundas transformações em nossa disciplina durante a segunda metade do século XX colocando-o como uma das mais importantes figuras do regionalismo crítico. Cada um de seus projetos apresenta soluções individuais e profundamente conectadas à seus contextos específicos - como a Igreja da Luz, a Casa Koshino ou o Templo da Água-, aproximando a arquitetura tradicional japonesa à universalidade da arquitetura moderna. Ele foi capaz de reproduzir a luz difusa do interior das casas japonesas, filtrada pelas paredes de papel, através do uso criativo dos materiais e da simples configuração dos espaços.
Enquanto muitos arquitetos pensam em janelas para iluminar os espaços internos, Norman Foster fica intrigado com a luz natural vinda de cima. O famoso arquiteto britânico sempre admirou a obra de Louis Kahn e Alvar Aalto pela forma como lidavam com a luz natural - especialmente no que diz respeito à cobertura. Em particular, grandes edifícios públicos beneficiam-se desta estratégia para criar espaços agradáveis. Portanto, Foster considera a luz natural indispensável quando desenvolve megaestruturas para aeroportos ou arranha-céus corporativos. Mas a luz natural que vem de cima é muito mais do que uma dimensão estética, observa Foster: "Além das qualidades humanísticas e poéticas da luz natural, há também implicações energéticas".
Na imaginação poética de Luis Barragán, a cor desempenha um papel tão significativo quanto a dimensão ou o espaço. Texturas ásperas e reflexos d'água aumentam o impacto da luz solar em seus edifícios coloridos. Mas de onde vem essa vibração e como ela é potencializada pela própria arquitetura?
As viagens de elevador podem oferecer uma experiência inspiradora, mas mesmo sendo indispensáveis nos edifícios modernos, os usuários enfrentam espaços extremamente compactos, os quais são projetados para se adequarem apenas aos edifícios. Os estranhos olhares para o chão ou para o rosto de outras pessoas revelam nosso desconforto com a multidão anonima dos elevadores. Não seria possível uma experiência espacial mais emocionante? As telas e projeções estão começando a ser utilizadas em elevadores, mas representam apenas o início de uma revolução na atmosfera criada durante o transporte vertical.
Enquanto muitas cidades se esforçam para parecem espetaculares à noite,Zurique adota uma estratégia modesta para a iluminação noturna.Muitos centros urbanos no mundo ficam supersaturados à noite, com edifícios individuais chamando a atenção com luzes brilhantes,fortes contrastes ou iluminação colorida de fachada. O master plan de Zurique para iluminação, por sua vez, focounuma imagem geral da cidade, com níveis sensíveis de luz branca.No entanto, esta presença noturna não é fruto de um projeto simples; ela foi baseada em estudos urbanos detalhados e projeções precisas e personalizadas, onde a tecnologia é discretamente escondida em favor da autenticidade cultural.
Os projetos de Zaha Hadid são notáveis não só por suas formas inovadoras de manusear materiais tangíveis, mas também pela sua imaginação em relação à luz. Suas teorias de fragmentação e fluidez são técnicas projetuais bem conhecidas que possibilitaram sua descoberta de formas. No entanto, seus avanços no uso da luz para transmitir sua arquitetura foram, muitas vezes, negligenciados -mesmo que tenham se tornado um elemento essencial para revelar e interpretar sua arquitetura. A transição de três décadas de linhas mínimas de luz no seu projeto do Corpo de Bombeiros de Vitra até o átrio mais alto do mundo no arranha-céu Leeza SOHO, que recolhe uma abundância de luz natural, mostra o notável desenvolvimento do legado luminoso de Zaha Hadid.
Lojas emblemáticas agradam tanto os compradores de moda como os designers devido ao seu papel de laboratórios para as últimas tendências e experiências do varejo. Os arquitetos desenvolveram várias formas de "vestir" lojas de alta costura, de ícones distintos durante o dia a sedutoras imagens noturnas. As imagens que acompanham este artigo, criadas pelo arquiteto e ilustrador português André Chiote, ajudam a explorar o potencial gráfico de marcas famosas como Dior, Prada e Tod's. As ilustrações revelam as várias técnicas empregadas pelos arquitetos, do jogo de camadas translúcidas a vistas internas íntimas ou contrastes de luz e sombra.
Mesmo o modernismo promovendo a transparência da arquitetura de vidro, muitos dentro do movimento estavam conscientes da monotonia de grandes fachadas de vidro, com até Mies van der Rohe usando elementos como sua marca registrada montantes para quebrar suas fachadas. Mas, nos anos seguintes, inúmeros arranha-céus de envidraçamento estrutural uniformes surgiram e entediaram cidadãos urbanos. Em resposta a isso, reinterpretações não convencionais de fachadas despertaram interesse.
Acompanhados pela crença de que a luz e a luminosidade poderiam ajudar na criação de uma arquitetura icônica e um mundo melhor, vidro e metal foram transformados de forma inovadora, para criar imagens cristalinas. Como resultado, o locus do sentido na arquitetura deslocou-se do espaço interno e forma à superfície exterior.
Ao longo do século passado, a relação da arquitetura com a água tem sido desenvolvida ao longo de uma variedade de diferentes caminhos. Com sua "Casa Cascata", por exemplo, o mestre americano Frank Lloyd Wright confrontou o fluxo dramático da água com linhas horizontais expressivas para aumentar a experiência da natureza. Desde então, o uso da água na arquitetura tornou-se mais variada e complexa. Um espaço feito quase exclusivamente de água surgiu com o projeto de Isamu Noguchi na Expo de Osaka: a água brilhante parecia cair do nada e brilhava no escuro. Mais tarde, com a digitalização e as formas fluidas dos projetos paramétricos, o foco mudou para uma arquitetura líquida feita de água e luz. As interpretações têm variado de formas arquitetônicas modeladas para literais gotas de água, como a visionária “Bubble”, de Bernhard Franken, para a BMW, a instalações espetaculares feitas de linhas de água, transformadas em pixels pela luz.
A luz natural tem se mostrado um excelente elemento criador de formas com o qual a arquitetura pode criar ambientes dinâmicos. Pioneiro em projetos de iluminação, William M. C. Lam, (1924-2012) enfatizou em seu livro "Sunlighting as Formgiver" que a consideração pela luz natural vai muito mais além da economia de energia. Os arquitetos já encontraram inúmeras maneiras de implementar a luz natural e o fato de propor uma tipologia lumínica coerente pode ser um alvo valioso durante o processo de projeto. No entanto, análises de iluminação natural centram-se principalmente no consumo de energia.
Siobhan Rockcastle e Marilyne Andersen, porém, desenvolveram uma abordagem qualitativa no EPFL, em Lausanne. Seu interesse foi impulsionado pela diversidade espacial e temporal da luz do dia, criando uma matriz com 10 tons de luz natural.