Edifícios nem sempre são capazes de dar respostas rápidas às questões sociais mais urgentes. Ainda assim, no auge da crise pandêmica na China, as fachadas dos edifícios se transformaram em um dos principais veículos de informação e um das armas mais poderosas no combate à disseminação do vírus. Rapidamente, no pior momento do surto de coronavírus na cidade de Wuhan, as autoridades locais utilizaram telas de LED e super-projetores para reproduzir imagens de esperança e solidariedade. Recentemente, outros países também adotaram a mesma estratégia, e até agora, parece que tal abordagem tem dado ótimos resultados no combate à propagação do contágio.
Comumente, fachadas digitais são utilizadas como ferramentas de marketing e publicidade. Novas tecnologias e sistemas permitem projetar imagens cada dia maiores e mais precisas. As fachadas do século XXI são paredes que falam, estruturas capazes de se comunicar com as pessoas. Edifícios corporativos têm utilizado tais tecnologias como estratégia de autopromoção e valorização de suas marcas. Na China, entretanto, o governo tem o poder – em determinados casos – de decidir qual o conteúdo destas imagens. Ao longo das últimas décadas, este instrumento legal tem sido utilizado para promover importantes eventos nacionais, como o 70º aniversário da República Popular da China. Na ocasião do último Festival das Lanternas, comemorado no décimo quinto dia do primeiro mês no calendário lunisolar chinês, arranha-céus do país todo foram iluminados para prestar uma singela homenagem às milhares de vitimas do coronavírus no país e no mundo. Mensagens de apoio e imagens de solidariedade serviram de alento à população de todo o país. Embora a maioria das pessoas estivessem de quarentena em casa, sem poder acompanhar de perto o espetáculo de luzes e cores, os canais de TV fizeram que todas as mensagens chegassem aos quatro cantos do país. Dessa forma, milhões de fachadas publicitárias, normalmente utilizadas como ferramenta de promoção de interesses particulares, passaram a enviaram mensagens solidariedade, construindo uma rede de comunicação à favor da coletividade e do bem estar comum de toda à população. Ainda assim, não devemos esquecer que estes painéis digitais monumentais, na escala de um país como a China, demandam um alto consumo de energético, levantando uma série de questões ambientais a serem resolvidas.
#Dubai’s @BurjKhalifa lights up to show support for Wuhan and Chinese communities around the world. pic.twitter.com/81K8VaZqxF
— Dubai Media Office (@DXBMediaOffice) February 2, 2020
Os Emirados Árabes Unidos foi o primeiro país a seguir o exemplo da China. Os mais emblemáticos edifícios foram iluminados de vermelho e estrelas douradas em solidariedade ao primeiro país assolado pela maior crise sanitária dos últimos séculos. Edifícios como o Burj Khalifa em Dubai, a Ponte Sheikh Zayed de Zaha Hadid, ou a sede da ADNOC projetada pelo HOK em Abu Dhabi, exibiram mensagens de apoio e confiança. Novamente, as fachadas dos edifícios se transformaram em um poderoso meio de comunicação e apoio à uma causa comum.
Algumas semanas atrás, o Irã também iluminou de vermelho seu mais simbólico edifício, a Torre Azadi em Teerã, em homenagem as vitimas do coronavírus na China. O icônico arranha-céu construído em 1971, completamente revestido de mármore branco, foi iluminado com cores da bandeira da China, exibindo uma mensagem de apoio em inglês e chinês. O Egito foi outro país a mostrar solidariedade à causa, projetando estrelas douradas sob um fundo vermelho sobre a superfície de seus mais icônicos monumentos como o Templo de Karnak, em Luxor, e a Cidadela do Cairo.
É importante lembrar que, muitos países acostumados a prestar este tipo de homenagem, decidiram por algum motivo, não aderir à causa nesta ocasião. Edifícios do mundo todo foram pintados com as cores da bandeira da França logo após os atentados terroristas de 2015. A Ópera de Sydney, a Tower Bridge de Londres, o portão de Brandemburgo em Berlim, o One World Trade Center em Nova Iorque e o monumento Angel de la Independencia na Cidade do México foram instantaneamente iluminados para mostrar solidariedade às vitimas da tragédia no país. O que aconteceu na cidade de Paris em 2015 pegou o mundo todo de surpresa, causando a mobilização imediata de centenas de países, milhares de cidades e milhões de pessoas. O surto de coronavírus nasceu em uma pequena província no centro da China, cresceu lentamente espalhando-se pelo país para mais recentemente se transformar em uma pandemia mundial. Parece que a gravidade da epidemia de Covid-19 foi totalmente subestimada pelos países da Europa Central e também pela maioria dos países ao redor do mundo. Nenhum ato simbólico de solidariedade foi prestado à China por parte de países da Europa Central e tampouco dos Estados Unidos, revelando um descaso absoluto pela causa e o que é mais importante, uma completa despreocupação com a gravidade da questão – um posicionamento que neste momento esta custando a vida de milhares de pessoas. A China, por outro lado, compreendeu instantaneamente o poder de comunicação de tais atos simbólicos, utilizando as fachadas de seus edifícios para projetar mensagens de apoio e conscientização, salvando a vida de milhares de pessoas e reconhecendo o valioso esforço de milhões de enfermeiros e profissionais da saúde.
Light Matters, uma coluna mensal sobre a luz e espaço, é escrita por Thomas Schielke. Residindo na Alemanha, é fascinado por iluminação na arquitetura, trabalha para a empresa de iluminação ERCO, publicou diversos artigos e foi co-autor do livro "Light Perspectives". Para mais informações acesse www.erco.com, www.arclighting.de ou siga ele @arcspaces
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