Transcender a ideia de um tempo progressivo, linear e ocidental. Criar estratégias de contorno, atravessar limites e escapar das impossibilidades colocadas pelo mundo. Atenta à “política de movimento e movimentos políticos entrelaçados nas expressões artísticas,” a 35ª Bienal de Artes de São Paulo - coreografias do impossívelapresenta, através da intervenção espacial e de sua lista de participantes, modos de se relacionar que expandem os aspectos culturais e sociais que demarcam o sentido – aparentemente insuperável – da crise que enfrentamos como sociedade.
Para se aprofundar em como as questões espacial, territorial e arquitetônica se colocam na próxima edição de uma das maiores e mais importantes exposições de arte do mundo, conversamos com o coletivo de curadores* formado por Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel.
O que é a cidade? E o contrário de mata. O contrário de natureza. A cidade é um território artificializado, humanizado. A cidade é um território arquitetado exclusivamente para os humanos. Os humanos excluíram todas as possibilidades de outras vidas na cidade. Qualquer outra vida que tenta existir na cidade é destruída. Se existe, é graças à força do orgânico, não porque os humanos queiram.
Fui criado numa casa de chão batido, onde andava descalço. As galinhas e os outros animais conviviam conosco dentro de casa. Quando uma galinha estercava na casa de chão batido, a parte úmida do esterco, das fezes da galinha, era absorvida pela terra. Tirávamos a parte sólida e jogávamos no quintal para servir de adubo. Para o povo da cidade, isso é um horror. Pisar as fezes da galinha? Impossível! Tem que ter uma cerâmica bem lisinha para poder enxergar qualquer outra vida, qualquer outro vivente que estiver ali, para poder desinfetar e matar qualquer microrganismo. Matar até o que não se vê. Para andar descalço, é preciso desinfetar o chão: a cerâmica foi criada porque os humanos não podem pisar a terra. Os calçados foram criados porque os humanos não podem pisar a terra. Porque a terra é o anseio original.
https://www.archdaily.com.br/br/1004170/cidades-e-cosmofobiaAntônio Bispo dos Santos
À medida que reconhecem a crescente importância da inovação no cenário empresarial de hoje, os escritórios de arquitetura estão passando por uma transformação. Empresas de diversas indústrias também começaram a valorizar o impacto do design na resolução de desafios, graças ao sucesso de startups focadas neste âmbito, como o Airbnb. Tradicionalmente confinados ao desenho de estruturas físicas, os escritórios de arquitetura estão ampliando seu escopo e abraçando a pesquisa e a inovação como elementos integrais de seu processo de projeto. Com a criação de divisões de pesquisa e inovação, esses escritórios não apenas aprimoram suas próprias práticas, mas também oferecem sua expertise para lidar com as necessidades em constante evolução de nossa era — desde avanços humanos e tecnológicos até inovação estratégica.
Infraestudio é uma prática de arquitetura e arte radicada em Havana, Cuba, que tem se mantido obcecada pela ficção desde a sua fundação em 2016. Fernando Martirena, Anadis González, entre outros membros e colaboradores, trabalham com o narrativo e o discursivo em diferentes frentes: do projeto de edifícios, a pesquisas, exposições, textos e ativismo. Isso lhes permite operar discretamente em uma cidade singular, mostrando como é fazer arquitetura contemporânea em Cuba.
Por esses motivos, o Infraestudio foi selecionado pelo ArchDaily como uma das melhores novas práticas de arquitetura de 2023. Eles preocupam-se em criar uma arquitetura que se esconde na paisagem, mostrando o vazio como representação de uma ideia, não pensando em formas, mas em estratégias, e construindo com o mínimo necessário.
Nos últimos anos, o foco em materiais sustentáveis, alinhados à agenda ecológica e de baixo carbono se intensificou na indústria da arquitetura. Em meio a esse interesse, a arquitetura derivada do cânhamo está gradualmente ganhando força e escala global. Materiais à base de cânhamo surgiram como uma alternativa favorável aos industrializados tradicionais, apresentando uma infinidade de benefícios que poderiam revolucionar a indústria da construção. Apesar de sua grande promessa, vários obstáculos impedem a adoção generalizada do cânhamo, inibindo seu potencial transformador na indústria da construção.
O ano era 1969. Lina Bo Bardi vagava pelo bairro paulistano do Bixiga, que na época mais parecia uma zona de guerra. As clareiras e pilhas de escombros eram resultado de uma urbanização violenta que cortava a região sob a forma do complexo viário leste-oeste de São Paulo.
Nesse contexto, Lina recolhia objetos pessoais encontrados nos entulhos, catava o que havia de mais sórdido, como Zé Celso, diretor e criador do Teatro Oficina, afirmou em entrevista. Essa operação tinha um motivo, compor o cenário da peça Na selva das cidades, desenhado pela própria arquiteta. Nela, conformava-se um palco em forma de ringue de boxe materializado pelos entulhos das demolições ocorridas no entorno do teatro. Uma peça dividida em 11 rounds no qual em cada um deles destrói-se uma instituição até destruir o próprio ringue. No final, os atores retiram o até o piso do teatro e chegam na terra.
Questões ambientais se colocam como o grande tema para a arquitetura há alguns anos. A iminente escassez de recursos naturais e a conscientização acerca dos danos ambientais da indústria construtiva têm forçado o campo profissional a posicionar-se e desenvolver soluções que mitiguem o impacto da área de atuação no planeta. O desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitam materiais mais sustentáveis é fundamental, mas esse incentivo pode (e deve) partir do ponto inicial da prática arquitetônica: o projeto.
No seu livro Curadoria: o poder da seleção no mundo do excesso, Michael Bhaskar define curadoria como "usar atos de seleção e organização (mas também refinar, reduzir, exibir, simplificar, apresentar e explicar) para agregar valor." Originário da palavra latina "curare", que significa "cuidar", o papel do curador em dissecar nossa compreensão do mundo ao nosso redor não pode ser negligenciado. Ao longo do tempo, à medida que a definição se transforma, a prática da curadoria continua a evoluir, desempenhando o papel de cuidadora de nosso ambiente construído.
Bem-estar, combate ao sedentarismo, saúde mental e, até mesmo, inclusão social. Ao ser palco de práticas esportivas e culturais, os ginásios possuem um relevante papel para a sociedade. Pensar este espaço de forma adequada para receber esportistas e a comunidade de forma confortável, ao mesmo tempo que se busca por um diálogo com o entorno e uma identidade própria, é papel do arquiteto por trás do projeto.
Este artigo é o quinto de uma série focada na Arquitetura do Metaverso. O ArchDaily colabora com John Marx, arquiteto, fundador e diretor artístico-chefe da Form4 Architecture, para trazer artigos mensais que buscam explorar o Metaverso, transmitir o potencial desse novo domínio e entender suas limitações.
Os escritores de ficção científica nos inspiram com visões audaciosas e provocativas do futuro. Huxley, Orwell, Assimov e Bradbury são nomes que facilmente vêm à mente. Eles imaginaram grandes avanços tecnológicos e muitas vezes previram mudanças na estrutura social que foram resultado da necessidade humana de abrir a Caixa de Pandora. Grande parte do charme e fascínio da ficção científica está na audácia de algumas dessas previsões. Elas parecem desafiar as leis da natureza e da ciência. Então, mais rápido do que se poderia imaginar, o espectro da inventividade humana faz com que se tornem realidade.
Já pensou na possibilidade de não existirem mais pessoas em situação de rua? Os Estados Unidos pensaram e países como Canadá, Espanha, Portugal, França e Dinamarca seguiram a onda, incluindo a metodologia do Housing First em suas estratégias nacionais para resolver a situação.
A fórmula consiste em fornecer exatamente o que lhes falta: moradia e conexão. Os resultados são consistentes e, para completar, benéficos para os cofres públicos. No Brasil, o Projeto RUAS está testando o modelo e busca recursos para expandi-lo. A ideia da ONG é entender como ele se adapta à nossa realidade e, futuramente, sugeri-lo ao poder público.
As cidades ocupam apenas 3% da superfície do planeta, mas são responsáveis pela maior parte do consumo global de energia e das emissões de carbono. Muitas também são mais vulneráveis às mudanças no clima e aos desastres naturais devido à densidade populacional e à interconexão entre as infraestruturas. Para evitar os piores impactos das mudanças climáticas – incluindo perdas humanas, sociais e econômicas –, sabemos que é fundamental tornar as cidades mais resilientes e preparadas para o clima em transformação. Mas estudos recentes indicam que ainda estamos longe disso.
A campanha "Green Obsession" lançada por Stefano Boeri Architetti foi eleita vencedora do SDG Action Awards, o mais importante reconhecimento de projetos que apoiam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Como parte da Campanha de Ação dos ODS, as Nações Unidas se propuseram a premiar iniciativas que "mobilizam, inspiram e conectam comunidades para promover mudanças positivas". A iniciativa vencedora pretende melhorar a relação entre a natureza e o urbanismo, implementando os princípios da arborização urbana. "Green Obsession" representa uma série de conferências, programas públicos e um livro, Green Obsession: Trees Towards Cities, Humans Towards Forests, publicado em 2021 e apoiado pela Graham Foundation.
Os escritórios de arquitetura e design Néstor Montenegro (EXTUDIO), Enorme Studio e Smart and Green Design serão os responsáveis por desenvolver o projeto do Pavilhão da Espanha na Expo Osaka 2025. Isso acontece após serem selecionados em um concurso público convocado pela Acción Cultural Española (AC/E), a instituição responsável por representar o país em Exposições Universais e Internacionais.
Da teoria das cores de Le Corbusier às propostas estéticas da Bauhaus, as cores desempenharam um papel essencial ao longo da história arquitetônica. No entanto, estamos no limiar de uma nova era de inovação, na qual o significado, a aplicação e o impacto das cores na arquitetura também estão em transformação. Com isso, novas questões surgem: novos materiais e acabamentos poderiam revolucionar a paleta de cores? Quais as possibilidades de coloração em espaços virtuais? Quais serão as próximas tendências de cor no mundo do design de interiores?
Após a Segunda Guerra Mundial, a falta de moradia se espalhou por grande parte da Europa e Milão não foi uma exceção. Vários planos e soluções foram concebidos para enfrentar essa crise, e comunidades satélites para acomodar entre 50.000 e 130.000 residentes foram erguidas. A primeira dessas comunidades começou a ser construída em 1946, apenas um ano após o fim da guerra: o projeto Gallaratese.
No final de 1967, o renomado Studio Ayde, liderado por Carlo Aymonino, foi escolhido para projetar o Gallaratese 2. Aymonino convidou Aldo Rossi para contribuir com suas visões singulares para uma comunidade microcósmica ideal. Juntos, os dois arquitetos italianos começaram uma jornada para moldar um ícone habitacional inovador e historicamente significativo para Milão. Registrada pelas lentes de Kane Hulse, a obra e sua importância para a arquitetura são revisitadas nesta série de fotografias.
Há uma percepção na sociedade de que o número de pessoas em situação de rua tem crescido no Brasil. Para compreender melhor o tema, o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, criado no âmbito do Programa Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais, compilou dados de milhares de municípios em uma série histórica que vai de 2012 a 2021. Infelizmente, os dados indicam que esse problema realmente vem se agravando em nosso país.
https://www.archdaily.com.br/br/1004546/o-que-dizem-os-dados-sobre-a-populacao-de-rua-no-brasilAndré Sette e Anthony Ling
A Sun Tower, da OPEN Architecture, projetada como um marco para a cidade costeira chinesa de Yantai, atingiu sua altura máxima — 50 metros — no mês passado, no dia do solstício de verão. A inauguração está prevista para 2024. Projetada para ser um espaço cultural, o edifício se propõe a redefinir o entendimento comum de "projetar com a natureza".
La Fábrica, icônico projeto de Ricardo Bofill, é um testemunho do poder transformador da arquitetura. Localizada nos arredores de Barcelona, essa criação mostra a notável metamorfose de uma fábrica de cimento abandonada em uma impressionante obra-prima arquitetônica.
https://www.archdaily.com.br/br/1004811/la-fabrica-de-ricardo-bofill-uma-mistura-harmonica-de-passado-e-presenteArchDaily Team
Após uma pausa de três anos, o festival de construção da Hello Wood está de volta para receber estudantes, arquitetos e jovens profissionais de todo o mundo para participar do camp de construção de 10 dias e testar suas habilidades de construção em madeira, além de aprender a participar ativamente do projeto e da construção no próprio local. Pela primeira vez na história do evento, o workshop deste ano acontece em um novo local, uma cratera de uma pedreira de basalto abandonada na montanha Haláp, na Hungria. O workshop também se alinha e apoia o título de Veszprém de Capital Europeia da Cultura de 2023, que também inclui mais de uma centena de outras vilas e cidades em toda a região de Bakony-Balaton. O evento aconteceu entre 6 e 15 de julho, culminando num festival de música de dois dias aberto a todos.
Com sua mistura única de forma, função e sustentabilidade, a arquitetura de bambu se destaca devido às suas geometrias complexas, espacialidade tridimensional e grande dependência da habilidade artesanal. Durante muitos anos, os modelos físicos foram centrais para materializar as visões dos arquitetos e transmitir projetos intricados aos artesãos habilidosos responsáveis pela construção. Agora, estamos no meio de uma mudança de paradigma. A revolução digital está trazendo ferramentas de design assistido por computador e design paramétrico para o primeiro plano, desbloqueando o potencial do bambu de maneiras nunca antes imaginadas. Essa evolução apresenta possibilidades empolgantes e novos desafios tanto para os construtores quanto para os artesãos.
A pergunta crucial agora é: podemos traduzir efetivamente essas inovações em design de ponta para o mundo prático dos artesãos que dão vida a essas visões? Em um recente curso de construção e design de 11 dias no Bamboo U, nos mergulhamos em um mundo onde a tecnologia encontra a tradição, experimentando a mistura inovadora da construção de bambu e tecnologias de realidade aumentada (AR). Guiados pela experiência do Dr. Kristof Crolla e Dr. Garvin Goepel, da Universidade de Hong Kong e da Universidade Chinesa de Hong Kong, embarcamos em uma jornada emocionante para construir não uma, mas duas, encantadoras cúpulas de concha de grade, sob o auxílio de instruções holográficas. Neste artigo, exploramos essa dinâmica interseção entre tradição e tecnologia no mundo da arquitetura de bambu a partir da perspectiva do Bamboo U.
De fato, diante das mudanças climáticas, parece bem razoável voltarmos a valorizar nas construções aspectos como ventilação e iluminação naturais, por exemplo, tal qual se fazia no passado — e, com isto, reduzir o consumo de energia e a produção de gases de efeito estufa.
https://www.archdaily.com.br/br/1004818/urbanismo-sustentavel-de-volta-para-o-futuroVitor Meira França
O escritório suíço Oppenheim Architecture venceu um concurso de duas etapas para o projeto e restauração do Museu Besa em Tirana, Albânia. A instituição é dedicada a exibir o código de honra albanês representado pelo nome "Besa", um conceito que, resumidamente, significa receber qualquer hóspede como se fosse seu. O museu é uma extensão do Museu Judaico em Vlora, aprofundando-se no princípio de Besa e seu papel na ajuda prestada aos judeus na Albânia durante o Holocausto.
O arquiteto japonês Shigeru Ban anunciou a intenção de colaborar com a prefeitura de Lviv para projetar uma expansão para o hospital municipal. Maior hospital da Ucrânia, esta unidade viu um aumento no número de pacientes desde o início da guerra, levando à necessidade de aumentar sua capacidade. A proposta de Shigeru Ban utiliza madeira laminada cruzada e juntas inspiradas em técnicas tradicionais de construção em madeira para criar um ambiente seguro e acolhedor para cura e recuperação.