Ela é uma forma arquitetônica onipresente. Uma tipologia que atravessa séculos e fronteiras, um marco em todas as culturas. A tenda. Na sua forma mais simples – é um abrigo, um material colocado sobre uma armação de madeira. É uma linguagem arquitetônica que está intrinsecamente ligada à vida nômade. Yurts, por exemplo, funciona como uma moradia facilmente portátil para os povos cazaque e quirguiz. Ao mesmo tempo, as tendas provaram ser um precedente estilístico popular para os arquitetos, sendo as estruturas leves do arquiteto alemão Frei Paul Otto um exemplo disso. A tenda é uma linguagem arquitetônica complicada – que atravessa a linha entre o temporário e o permanente, e que também funciona como um símbolo de riqueza e um símbolo de escassez.
Campo de refugiados: O mais recente de arquitetura e notícia
Tendas: uma linguagem arquitetônica
Arquitetura e assistência: reformulando a pesquisa sobre assentamentos informais
A quase sete quilômetros do verde do Parque Uhuru, no centro de Nairóbi, fica o assentamento informal de Kibera. É uma área cujo caráter urbano é composto por telhados de ferro ondulados, paredes de taipa e uma complicada rede de postes de energia. Kibera, neste momento, é um lugar bem conhecido. Muito já foi escrito e pesquisado sobre essa “cidade dentro de uma cidade”, desde suas questões de infraestrutura até sua navegação na pandemia do COVID-19.
Respostas arquitetônicas para crises humanitárias: indo além do projeto
Após décadas de crises socioculturais e econômicas em todo o mundo, a comunidade arquitetônica percebeu que é hora de "projetar como se ela se importasse". E com isso, abraçou um movimento que viu arquitetos e designers usarem suas habilidades a fim de desenvolver soluções para crises humanitárias, desde a construção de habitações modulares e mapeamento de paisagens, até o desenvolvimento de aplicativos ou documentários, tudo de um ponto de vista altruísta. Mas, já que, o trabalho pro bono ainda não está enraizado no ethos da arquitetura, como os arquitetos romperam com o modelo tradicional de arquitetura “corporativa” e estabeleceram uma forma de garantir a responsabilidade ética pelo bem-estar humano?
Cidades e conflitos: projetos urbanos de reuso adaptativo
A COP26, Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, está programada para ser realizada na Escócia na última semana de outubro de 2021. No pano de fundo desta conferência está uma maior consciência global das mudanças climáticas, à medida que discussões ocorrem sobre como um futuro mais igualitário pode ser alcançado. O estado atual e futuro da arquitetura é um componente-chave desta conversa, já que, as críticas são dirigidas aos escritórios de arquitetura que fazem uso do "greenwash" (ou maquiagem verde) levantando questões sobre se o termo "sustentabilidade" está cada vez mais sendo usado apenas como a palavra da moda de hoje.
Cidades invisíveis: repensando a crise dos refugiados através da arquitetura
Quando digo Katuma, Hagadera, Dagahaley, Zaatari ou Ifo o que é os vem à mente? Estes nomes singulares e originais poderiam facilmente ser algumas das 55 cidades invisíveis de Ítalo Calvino não é mesmo?
No entanto, estas cinco cidades não são estruturas invisíveis, inventadas ou fruto da fantasia de um poeta. Katuma, Hagadera, Dagahaley, Zaatari e Ifo são assentamentos informais localizados no Quênia e na Jordânia, cidades onde atualmente vivem entre 66.000 e 190.000 refugiados, a maioria vindos de países limítrofes. Erguidas como acampamentos supostamente temporários a mais de meio século atrás, estas cidades cresceram e se desenvolveram, permanecendo habitadas até os dias de hoje. Comumente carentes de infraestrutura urbana e espaços públicos de qualidade, algumas delas contam com escolas e hospitais, sendo que em Zaatari é possível até encontrar uma academia de circo. Ainda assim, para a maioria das pessoas que ali vivem, estas são as únicas cidades que elas já conheceram.
Campos de refugiados: de assentamentos temporários a cidades permanentes
Segundo dados veiculados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), mais de 70 milhões de pessoas têm sido forçadas à abandonar suas casas ao longo dos últimos anos devido a conflitos, violência e catástrofes naturais, sendo que 26 milhões destas são consideradas refugiados de guerra. Em um contexto tão crítico, não podemos apenas continuar pensando em números. É preciso considerar, em primeiro lugar, que cada unidade desta conta representa uma vida – seres humanos que precisam de ajuda. Portanto, chegou a hora de superarmos este permanente estado de perplexidade e partirmos para a ação, isso porque situações como esta não se resolvem da noite para o dia – elas podem durar uma vida inteira. Na atual conjuntura, campos de refugiados não mais podem ser vistos apenas como estruturas temporárias, e é exatamente ai que os arquitetos podem fazer a diferença.
Quando lidamos com crises humanitárias provocadas por conflitos armados, não estamos falando de um fenômeno passageiro. Trata-se, na maioria dos casos, de um caminho sem volta. De fato, segundo o próprio Comissariado das Nações Unidas do Quênia, de todas aquelas pessoas que se veem forçadas a abandonar os seus países de origem ––e têm a felicidade de encontrar um lugar para viver––, “a maioria delas passam mais de 16 anos vivendo em estruturas temporárias.”
Para além da habitação temporária: cinco exemplos de infraestrutura social para refugiados
Ao longo da história do planeta terra, a migração humana - seja em busca de alimento, abrigo ou melhores condições de vida - tem sido a norma e nunca a exceção. Atualmente, no entanto, estamos testemunhando um fenômeno migratório sem precedentes. Segundo números publicados pelas Nações Unidas, mais de 68,5 milhões de pessoas encontram-se bem longe de suas casas no presente momento; os números oficiais apontam para mais de 25 milhões de refugiados, dos quais, mais da metade tem menos de dezoito anos. Entre outros fatores, os conflitos que os países do chamado "primeiro mundo" levam para países como a Síria e Mianmar, estão transformando algo que está na natureza do homem - o processo migratório - em uma crise sem precedentes e um dos principais desafios do século XXI.
Projetos emergenciais geralmente são associados à catástrofes naturais como terremotos e tsunamis. Abrigos emergenciais tem sido projetados e construídos ao longo dos últimos anos com mais e mais frequência e em números cada vez maiores. Mas até hoje, por incrível que pareça, projetos de habitação emergencial que possam proporcionar mais dignidade à vida de milhões de refugiados não tem recebido apoio suficiente e muito menos, a atenção devida por parte da nossa comunidade internacional de arquitetos. Questões importantíssimas permanecem sem respostas: Como adaptar as nossas cidades para poder atender às necessidades mais urgentes criadas pelo cada vez mais intenso processo de migração? Como podemos garantir que nossas comunidades sejam capazes de absorver e integrar refugiados e migrantes em seu tecido urbano e contextos culturais, econômicos e sociais?
No dia mundial dos refugiados, queremos chamar a atenção de todos os arquitetos e arquitetas, divulgando cinco exemplos brilhantes de projetos sociais ao redor do mundo - escolas, hospitais e centros comunitários - especificamente aqueles criados para dar abrigo e uma vida mais digna para populações deslocadas e refugiados.
A primeira "tenda de Maidan" é construída para ajudar refugiados na Grécia
Em um esforço para ajudar a situação dos refugiados em todo o mundo que fogem da guerra e da perseguição, dois jovens arquitetos em 2016 embarcaram em um projeto destinado a melhorar a saúde mental nos campos. Liderado por Bonaventura Visconti di Modrone e Leo Bettini Oberkalmsteiner, e apoiado pela Organização Internacional para Migração da ONU, o projeto “Maidan Tent” permite que os refugiados se beneficiem do espaço público interno - uma área comum para combater o trauma psicológico induzido pela guerra, perseguição e migração imposta.
Dois anos depois, a primeira tenda foi instalada no campo de refugiados de Ritsona, na Grécia, atualmente abrigando mais de 800 pessoas. O acampamento que agora abriga a inaugural Tenda Maidan também foi o local onde a equipe de projeto fez oito visitas ao longo dos últimos dois anos.
5 projetos que ressignificam antigos espaços violentos na Colômbia
A necessidade de reconstrução, tanto física como mentalmente, abre uma grande porta para diferentes interpretações, que nos mostram a capacidade do ser humano em se adaptar apesar de todas as adversidades. Um ser humano resiliente, enfrentando problemas em territórios remotos que foram limitados por conflitos armados, a opressão e o medo.
A arquitetura para o pós-conflito é uma das grandes contribuições para a nova construção de um país que carece de mais consciência social neste processo de paz. A ressignificação de seus territórios, a memória e o senso de apropriação são as características essenciais que enquadram os espaços arquitetônicos e recuperam as zonas que já foram cenário da violência. Seu simbolismo hoje desempenha um papel importante em muitas comunidades, que através da arquitetura são identificadas, mostrando que esses lugares remotos da bela Colômbia hoje tornaram-se exemplos de unidade e convivência.
Diante dessa realidade, selecionamos cinco projetos que despertaram as raízes territoriais, proporcionando espaços flexíveis que prometem novas práticas na trama social.
Concurso propõe alternativas para reintegração social após guerra no Iraque
Archstorming anunciou os vencedores do Open Ideas Competition: Mosul Postwar Camp, em que arquitetos e estudantes de arquitetura tinham o desafio de projetar uma solução de reintegração social com ajuda humanitária essencial para as pessoas que retornam a Mosul após a guerra do Iraque contra o ISIS. Os resultados do concurso provaram que existem muitas formas de revitalizar a vida das pessoas deslocadas através dos espaços que habitam.
Maidan Tent: uma resposta arquitetônica para a crise de refugiados na Europa
Nos últimos dois anos, mais de um milhão de pessoas fugiram do conflito sírio para se refugiar na Europa, testando exaustivamente a capacidade do continente de responder a uma crise humanitária em grande escala. Com a crise de refugiados síria ainda não resolvida, e campos de refugiados temporários agora firmemente estabelecidos nas fronteiras da Europa, arquitetos e designers dedicam energia para melhorar as condições de vida das pessoas que fogem da guerra e da perseguição.
Um exemplo emergente de arquitetura humanitária é a Maidan Tent, um centro social a ser construído em um campo de refugiados em Ritsona, Grécia. Liderado por dois jovens arquitetos, Bonaventura Visconti di Modrone e Leo Bettini Oberkalmsteiner, e com o apoio da Organização Internacional das Nações Unidas para Migrações, Maidan Tent permitirá que os refugiados se beneficiem do espaço público interno - uma área comunal para descontrair o trauma psicológico induzido pela guerra , perseguição e migração forçada.
Paz, a mensagem de esperança de Outsiders Krew em Bogotá
Em um ano marcado pelo Plebiscito pela Paz e o posterior cenário de pós-conflito na Colômbia, hoje a comunidade do bairro Mariscal Sucre em Bogotá se enaltece ante a cidade e o país graças ao mural que integra suas fachadas. Por meio da palavra PAZ, o bairro sobressai de seu contexto informal e marginal, para incluir-se na paisagem urbana composta por morros, por meio dessa obra de arte urbana.
Este é o resultado do trabalho de Outsiders Krew no setor nordeste da capital, nas costas dos morros sobre a Avenida Circunvalar. Em sua segunda visita, os artistas conseguiram estabelecer uma ligação com o bairro vizinho, Chapinero Alto, e com a própria cidade. Sua disposição estratégica formou a palavra PAZ sobre uma rica paleta de cores (verde, violeta, rosa e azul) e a soma de todas as suas fachadas na inclinação significativa da ladeira.
Maria Neto vence Prêmio Fernando Távora com projeto sobre o maior campo de refugiados do mundo
A Ordem dos Arquitectos de Portugal - Secção Regional do Norte indicou como vencedora do Prêmio Fernando Távora 2016 a arquiteta portuguesa Maria Neto por seu projeto As cidades invisíveis de Dadaab, região da fronteira entre o Quênia e a Somália, palco do maior campo de refugiados do mundo, onde vivem entre 350 mil e 500 mil pessoas. Neto foi premiada com uma bolsa de viagem de pesquisa.
As cidades invisíveis de Dadaab foi a escolha do júri, composto pelos arquitectos Daniel Couto, Inês Lobo (em representação da Casa da Arquitectura), Cláudia Costa Santos (em representação da Ordem), pela coreógrafa Olga Roriz e Maria José Távora, representante da família do arquiteto que dá nome ao prêmio. Segundo informa a Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos em sua página de Facebook, o júri considerou selecionou o projeto porque este “se distingue por remeter para a própria essência da arquitetura: o abrigo”.
5 muros que ainda dividem populações no mundo
Este artigo, escrito por Felipe Amorim, foi originalmente publicado na página Opera Mundi em novembro deste ano com o título "Israel, EUA, Coreia, Grécia e Ceuta: conheça cinco muros que ainda estão de pé".
Há 25 anos, caía na Alemanha o Muro de Berlim. Para muitos, o episódio sinalizava o início de uma nova era, de expansão da globalização e diminuição das fronteiras — simbólicas e reais. Um quarto de século após a queda deste ícone da Guerra Fria, ainda persiste, espalhada pelo mundo, uma série de fronteiras muradas construídas para separar povos.
Abaixo, selecionamos cinco desses "muros contemporâneos":
Além da tenda: Por que campos de refugiados precisam de arquitetos (agora mais do que nunca)
Só em 2013 cerca de 1 milhão de pessoas saíram da Síria para escapar de um conflito civil travado há mais de dois anos. O total de refugiados sírios está bem acima de 2 milhões, um número sem precedentes e uma realidade perturbadora que colocou os países que acolhem estes refugiados sob imensa pressão em relação a infraestrutura.
Os países tem ao menos um protocolo a seguir. Manuais da ONU são consultados e utilizados para informar uma abordagem apropriada quanto ao planejamento dos acampamentos. A terra é negociada e uma organização em grelha é definida. O método, em geral, é meticuloso - adequado para uma questão com prazo de validade.
Ou seria, se a questão fosse, de fato, temporária.