Cidades estão repletas de entulhos e a necessidade de reutilizar os recursos existentes tornou-se fundamental para combater o aumento da produção de resíduos. Mais de um terço de todos os resíduos gerados na União Europeia vêm da construção e demolição, contendo diferentes materiais como vidro, concreto, tijolos e cerâmicas. A dúvida que fica é sobre como gerenciar essa quantidade impressionante de produção de resíduos da construção. De acordo com a lei espanhola sobre resíduos e solos contaminados, resíduos de concreto e cerâmica sem processamento considerável podem ser reutilizados na construção. Ao combiná-los com tecnologia, pode-se criar soluções inovadoras que contribuem para minimizar o impacto ambiental.
Economia Circular: O mais recente de arquitetura e notícia
Materiais ecológicos: rumo a uma nova economia
Os materiais de construção mais primitivos do mundo estão sendo usados para criar os edifícios mais avançados. À luz das crises ambientais, os arquitetos estão concentrando seus esforços em projetar ambientes melhores para as pessoas e o planeta. Os resultados podem muitas vezes parecer “greenwashing”, deixando de abordar a raiz do dano ecológico. A arquitetura ambientalmente responsável deve ter como objetivo não reverter os efeitos da crise ecológica, mas instigar uma revolução nos edifícios e na forma como os habitamos. Ensaios do livro The Art of Earth Architecture: Past, Present, Future preveem uma mudança que será um salto filosófico, moral, tecnológico e político para um futuro de resiliência ambiental.
O que é arquitetura “cradle to cradle”?
O termo “cradle to cradle” foi cunhado pelo arquiteto estadunidense William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart em seu livro-manifesto Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things, lançado em 2002. Trata-se de uma teoria que não é meramente arquitetônica, mas se aplica em qualquer produto, promovendo uma abordagem biológica à fabricação na qual os componentes são considerados nutrientes em um “metabolismo saudável”.
Substituindo cimento por resíduos: economia circular através da tecnologia de polímeros
Ao abordarmos sobre reciclagem de materiais de construção há algumas dificuldades a se enfrentar para um resultado realmente abrangente e efetivo. Primeiramente, uma demolição sem cuidado pode tornar o processo muito complexo, misturando produtos com destinações distintas. Além disso, nem todos os materiais contam com processos realmente eficientes para sua reciclagem ou processamento como um outro produto. Muitos ainda são caros ou complexos demais. Mas a indústria da construção, sendo uma enorme contribuidora para a produção de resíduos e a emissão de gases do efeito estufa, também tem desenvolvido múltiplas novas tecnologias para melhorar suas práticas. É o caso do projeto WOOL2LOOP, que busca resolver um dos maiores desafios na utilização de resíduos de construção e demolição com uma abordagem de circularidade.
Economia circular no desenho urbano: sustentabilidade e envolvimento comunitário
Embora a economia circular seja frequentemente discutida em relação ao objeto arquitetônico através das lentes da reciclagem de materiais, projetos para desmontagem e passaportes de materiais, a estrutura é mais plenamente implementada na escala do bairro e da cidade. Sejam visões de comunidades circulares que sugerem algum nível de autossuficiência ou políticas postas em movimento pelas cidades, projetos em escala urbana exemplificam os princípios orientadores da economia circular, fornecendo um vislumbre do que uma versão completa dela pode oferecer. A seguir, explore as estratégias usadas em ambientes urbanos circulares, desde a arquitetura e materiais de construção até a produção de energia, gestão de resíduos e produção de alimentos, bem como os processos e operações que regem esses projetos, fornecendo insights sobre as condições que informam a circularidade.
Bienal Architekturwoche Basel divulga projeto de pavilhão feito com materiais reciclados
O novo evento bienal Architekturwoche Basel (AWB) será lançado em maio como uma plataforma para discutir arquitetura e desenvolvimento urbano através das lentes da construção sustentável e da economia circular. A edição inaugural também marca o lançamento do primeiro Pavilhão de Basel, uma estrutura temporária destinada a mostrar novas possibilidades de construção ecológicas. O projeto vencedor, “Loggia Basileana”, criado pelo escritório de arquitetura isla, é feito de componentes de construção reutilizados e apresenta uma série de módulos que formam uma passagem contínua de pedestres ao longo de uma ferrovia em Dreispitz.
A reciclagem de concreto já é uma realidade
Muito tem se falado sobre a circularidade na construção civil. Inspirando-se na natureza, a economia circular trabalha em um processo contínuo de produção, reabsorção e reciclagem, auto gerindo e regulando-se naturalmente, onde os resíduos podem ser insumos para a produção de novos produtos. Trata-se de um conceito interessantíssimo, mas que enfrenta algumas dificuldades práticas no cotidiano, seja no processo de demolição / desmontagem, na destinação correta dos materiais e resíduos, mas, muitas vezes, na carência por tecnologias para reciclar ou dar um novo uso aos materiais de construção. Cerca de 40% de todos os resíduos gerados no Planeta Terra provém da construção civil, e boa parte deles poderiam ser reciclados. Especificamente o concreto é um material chave, seja por conta de sua grande pegada de carbono na produção, sua onipresença e uso massivo, mas também devido à dificuldade de reciclá-lo ou reutilizá-lo.
Valentino Gareri Atelier projeta protótipo para vila de economia circular na Austrália
Valentino Gareri Atelier foi selecionado para projetar o projeto-piloto de um modelo de comunidade de economia circular, que visa redefinir a expansão urbana através da sustentabilidade e um programa diversificado. Compreendendo oito vilarejos residenciais com espaços de coworking e entretenimento, a Vila Espiral será criada utilizando métodos emergentes de impressão 3D e promoverá a circularidade através de um centro de desperdício de recursos, um sistema agrícola regenerativo diversificado, um sistema de gestão sustentável da água e da energia renovável.
O potencial do bambu e da madeira engenheirada para a indústria da construção: entrevista com Pablo van der Lugt
Pablo van der Lugt é arquiteto, autor de livros e palestrante. Sua pesquisa enfoca o potencial de materiais como bambu e madeira engenheirada para o setor da construção civil e seus impactos positivos no mundo. “Ao longo de minha carreira profissional na universidade (incluindo minha pesquisa de doutorado sobre a pegada de carbono de bambu e madeira engenheirada) e na indústria, nos últimos 15 anos, descobri que há muitos conceitos errôneos sobre esses materiais que dificultam sua adoção em larga escala. Por esta razão, eu ‘traduzi’ minhas descobertas de pesquisa em dois livros contemporâneos para designers e arquitetos sobre o potencial do bambu: Booming Bamboo e madeira projetada: Tomorrow’s Timber. Eles visam dissipar esses mitos e mostrar o incrível potencial da última geração de materiais de construção de base biológica na necessária transição para um ambiente de construção circular, saudável e neutro em carbono. ” Recentemente, tivemos a oportunidade de conversar com ele sobre esses temas. Leia mais abaixo.
Equipe brasileira projeta fazenda vertical com estrutura de madeira para concurso na China
O Cora Coletivo, um grupo brasileiro transdisciplinar, desenvolveu um projeto na cidade de Dongguan/China, para o concurso Urban Greenhouse Challenge II (UGC2). A proposta de uma fazenda vertical icônica em madeira abriga cultura, lazer e toda a cadeia de produção e distribuição alimentar. Além disso, a área também conta com projeto paisagístico nos espaços livres, e Sistema Agroflorestal (SAF) de produção alimentar.
Pavilhão da Finlândia na Expo 2020 Dubai evoca conexão do país com a natureza
O Pavilhão Finlandês para a Expo 2020 de Dubai procura evidenciar a profunda conexão do país escandinavo com a natureza e a sustentabilidade—algo que contribui e muito para com a alta qualidade de vida de seus habitantes. Intitulado “Snow Cape”, o pavilhão projetado pela JKMM Architects evoca sutilmente os cenários naturais finlandeses através de sua materialidade e atmosfera, ao mesmo tempo que incorpora muitos dos princípios de economia circular defendidos pelo país nórdico. A estrutura de acesso, onde os visitantes são recebidos, assume a forma de uma tenda, criando um importante espaço de encontro e socialização entre os povos, lembrando a herança nômade do povo Finlandês— conectando ainda com o título do pavilhão escrito em árabe.
Carlo Ratti Associati e Italo Rota exploram economia circular no Pavilhão da Itália na Expo 2020 Dubai
CRA-Carlo Ratti Associati e Italo Rota Building Office, junto com Matteo Gatto e F&M Ingegneria projetaram o Pavilhão Italiano na Expo Dubai 2020 com foco na arquitetura re-configurável e circularidade. Os arquitetos usaram casca de laranja, pó de café, algas e areia como materiais de construção, juntamente com plástico reciclado para as cordas da fachada e cascos de barco para o telhado. O projeto arquitetônico do pavilhão e os materiais usados criam um sistema natural de mitigação do clima que substitui o ar-condicionado.
Passaportes de materiais: como dados incorporados podem transformar a arquitetura e o design
Muitas vezes, os edifícios acabam como lixo no final de seu ciclo de vida. Como o ambiente construído pode se mover em direção a uma economia circular e, por sua vez, re-imaginar como os materiais valiosos são rastreados e reciclados? Procurando resolver este problema, os "passaportes de materiais" são uma ideia que envolve repensar como os materiais são recuperados, durante a reforma e demolição, para reutilização. O resultado é que, quando um prédio está pronto para ser demolido, ele se torna um banco de armazenamento de materiais úteis.
Repensando os ciclos de produção e uso dos materiais na arquitetura
Já ouviu falar em agrowaste design ou “design com agroresíduos”? É assim a arquiteta filipina-ganesa Mae-Ling Lokko intitula o seu trabalho, uma pesquisa pioneira sobre o uso dos biomateriais na arquitetura. Junto com a crescente demanda por produção de alimentos e habitação no século XXI, há um fluxo de recursos materiais de crescimento igualmente rápido na forma de subprodutos de agrotóxicos. Isso tem o potencial não apenas de fechar as lacunas do ciclo de vida de produtos, mas também de impulsionar formas de cidadania generativa por meio do upcycling.
Ling procura repensar os ciclos e uso dos produtos na construção civil através da economia circular, ou seja, nada é desperdiçado, tudo pode ser reutilizado, mesmo depois de obsoleto.
Bairro flutuante em Amsterdã oferece uma nova perspectiva sobre circularidade e resiliência
Schoonschip é um inovador bairro circular de Amsterdã, um projeto comunitário definido para se tornar um protótipo para empreendimentos urbanos flutuantes. Com um masterplan elaborado pelo escritório de arquitetura holandês Space & Matter, o projeto compreende 46 residências em 30 lotes de água conectados por um cais e que emprega recursos descentralizados e sustentáveis de energia, água e sistemas de esgoto. Com o último de seus edifícios concluído este ano, o empreendimento apresenta uma estratégia de adaptação importante de ser considerada, em face das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar.