Embora a economia circular seja frequentemente discutida em relação ao objeto arquitetônico através das lentes da reciclagem de materiais, projetos para desmontagem e passaportes de materiais, a estrutura é mais plenamente implementada na escala do bairro e da cidade. Sejam visões de comunidades circulares que sugerem algum nível de autossuficiência ou políticas postas em movimento pelas cidades, projetos em escala urbana exemplificam os princípios orientadores da economia circular, fornecendo um vislumbre do que uma versão completa dela pode oferecer. A seguir, explore as estratégias usadas em ambientes urbanos circulares, desde a arquitetura e materiais de construção até a produção de energia, gestão de resíduos e produção de alimentos, bem como os processos e operações que regem esses projetos, fornecendo insights sobre as condições que informam a circularidade.
A economia circular costuma ser reduzida aos 3Rs (reduzir-reutilizar-reciclar), porém, o conceito é muito mais complexo, apresentando múltiplas ramificações que envolvem mudanças de paradigma na forma como os ambientes urbanos são projetados. As cidades são centros de consumo de recursos e produtoras significativas de emissões de gases de efeito estufa. O modelo econômico predominante é linear e se traduz em matérias-primas sendo extraídas para fabricar componentes que são posteriormente utilizados e acabam como resíduos no final de seu ciclo de vida. A demanda por matérias-primas deverá dobrar até 2050. Portanto, as comunidades urbanas são fundamentais para o desenvolvimento de modelos de economia circular, ou seja, é imprescindível analisar a estrutura urbana como um todo.
Em 2020, a UE publicou um Plano de Ação da Economia Circular, um dos componentes críticos para a implementação do Green New Deal. A estratégia envolve a concepção de produtos sustentáveis, a redução de resíduos e a criação de um mercado da UE para materiais secundários, entre outras etapas. O plano descreve a possível introdução de requisitos de conteúdo reciclado para certos produtos de construção, uma mudança significativa de paradigma para os códigos desse setor. Além disso, a UE procura promover iniciativas para reduzir a impermeabilização do solo e reabilitar terrenos abandonados ou contaminados.
As cidades já estão liderando os esforços para combater as mudanças climáticas e estabelecendo as bases para uma economia circular, permitindo ainda várias oportunidades de mitigação climática. O desenvolvimento de estratégias de economia circular requer a criação de uma compreensão holística de como uma cidade gerencia seus recursos, quais são seus padrões de resíduos e envolver as partes interessadas privadas para se tornarem parceiras em uma nova estrutura econômica local.
Um exemplo pioneiro no estabelecimento de uma economia circular local é a cidade de Praga. Em 2019, a cidade, juntamente com a organização Circle Economy, com sede em Amsterdã, analisou os fluxos de materiais locais e as emissões de carbono em relação à economia local para identificar as principais indústrias nas quais as práticas de economia circular poderiam ser introduzidas. O plano de ação resultante se traduziu na criação de uma rede de pontos de reutilização que processam elementos descartados, como eletrodomésticos e móveis, coletando resíduos domésticos orgânicos que são convertidos em biogás, e na implementação de princípios agrícolas circulares nas terras rurais ao redor da cidade.
Para além das políticas de regulamentação de recursos, produtos e gestão de resíduos, no nível do planeamento urbano há uma forte aposta na autossuficiência em termos de produção de energia e alimentos, bem como uma maior preocupação com o envolvimento da comunidade. A Space&Matter, com sede em Amsterdã, implementou com sucesso os princípios da economia circular em nível de bairro, capitalizando processos participativos. Em sua busca por ambientes urbanos à prova de futuro, o escritório de arquitetura estabeleceu uma empresa de desenvolvimento de projetos que permitiria um processo de co-criação envolvendo cidadãos e usuários finais. Para a prática, envolver as pessoas no projeto e na liderança de suas comunidades é um dos principais passos para o desenvolvimento de uma economia circular.
Um dos projetos mais notáveis da empresa é o Schoonschip, um bairro circular inovador em Amsterdã e um projeto voltado para a comunidade. Abrigando mais de 100 moradores, o projeto apresenta sistemas descentralizados e sustentáveis de energia, água e resíduos. Uma rede inteligente de painéis solares ajuda os moradores a trocar energia entre si, enquanto as tecnologias de tratamento de água recuperam energia e nutrientes das águas residuais. A associação de proprietários optou por compartilhar a informação acumulada durante o desenvolvimento da proposta, portanto, o projeto é de código aberto. O conhecimento utilizado para criar o empreendimento residencial foi compilado em um site detalhando vários aspectos, desde materiais até produção de alimentos e diretrizes legais.
Para a Aldeia Circular Taisugar em Taiwan, o estúdio Bio-architecture Formosana focou na modularidade para agilizar a montagem e desmontagem e simplificar o banco de dados de materiais. O projeto apresenta sistemas de energia renovável, amenidades compartilhadas e uma série de sistemas de produção de alimentos, incluindo hidropônicos. Ao mesmo tempo, o projeto implementa o modelo de "produto como serviço", com elevador, iluminação, móveis e sanitários alugados em vez de comprados. Voltando-se para as paisagens rurais, Valentino Gareri Architects concebeu o projeto piloto para um modelo de aldeia de economia circular. De forma semelhante a uma cidade-jardim, o conceito prevê comunidades de até 200 pessoas com espaços de co-working e convivência com micro-redes de água e energia e um sistema agrícola regenerativo. O projeto também converte materiais inorgânicos em novos produtos ou outros recursos, semelhantes aos pontos de reutilização de Praga.
Mover-se para uma economia totalmente circular é um processo complexo com várias etapas, principalmente orientado por políticas públicas. No entanto, como ilustrado por esses poucos exemplos, arquitetos, urbanistas e comunidades podem tomar a iniciativa de traduzir a estrutura circular na escala de um projeto urbano, por meio de intervenções que contribuam não apenas para forjar a visão da economia circular, mas também para o avanço do conhecimento na área.
Este artigo é parte do ArchDaily Topics: Caminho para uma arquitetura neutra em carbono apresentado por Randers Tegl.
Randers Tegl pretende assumir a responsabilidade e pensar a sustentabilidade como parte da meta de carbono zero. Tanto em termos de como os materiais de construção afetam o clima e como eles envelhecem, mas também com foco na arquitetura. É por isso que a Randers Tegl criou sua série sustentável GREENER, que vem com documentação completa na forma de EPD, para que seja possível utilizar o produto em programas de cálculo técnico.
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