As cidades são sistemas vibrantes que têm significado e se movem com o ritmo da vida humana que as alimenta. No tecido das paisagens urbanas, arquitetos e urbanistas colaboram para criar harmonias espaciais que vão além da estética e buscam justiça social e expressão poética. Nelas, os cidadãos se envolvem, tornando-se participantes ativos na narrativa contínua da cidade — a melodia metropolitana.
Em 2023, o ArchDaily publicou matérias sobre a poética do urbanismo, explorando um futuro em que as cidades atendem às necessidades sociais e emocionais de seus habitantes.
Em um momento marcado por desafios ambientais e uma crescente demanda por autenticidade e diversidade cultural, os arquitetos estão recorrendo cada vez mais aos sistemas de conhecimento indígena não apenas como fontes de inspiração, mas como soluções viáveis para se adaptar e responder aos desafios locais e globais. Como guardiãs tradicionais da terra, as comunidades indígenas possuem uma compreensão profunda de seus ecossistemas, materiais disponíveis localmente, normas culturais e restrições sociais. Esse conhecimento é valioso para a arquitetura contemporânea, podendo ajudá-la a se adaptar tanto às pessoas quanto aos seus ambientes.
As práticas vernaculares e indígenas estão surgindo como base para a reimaginação arquitetônica, dando informações sobre disposições espaciais, escolha de materiais e técnicas de construção, ao mesmo tempo em que permite a integração da inovação e da expressão contemporânea. Essa cuidadosa combinação de tradição e modernidade pode ter um impacto significativo em termos de sustentabilidade, pois arquitetos que adotam a abordagem indígena para aproveitar os recursos disponíveis podem não apenas criar estruturas enraizadas em seu contexto, mas também minimizar o impacto ecológico da construção. Além disso, colaborar diretamente com as comunidades indígenas leva a projetos que priorizam a participação comunitária, a sensibilidade cultural e ao desenvolvimento sustentável.
Na Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano, o Centro Cultural Europeu (ECC) apresentou a sexta edição de sua extensa exposição de arquitetura intitulada Time Space Existence. A edição de 2023 da mostra coletiva chama a atenção para as expressões de sustentabilidade em suas várias formas, abrangendo desde o foco no meio ambiente e paisagem urbana até debates sobre inovação, reuso, comunidade e inclusão. 217 projetos de participantes renomados como Snøhetta ou MADWORKSHOP e profissionais emergentes como Urban Radicals ou ACTA estão atualmente em exibição até 26 de novembro de 2023, nos Palazzos Bembo e Mora, e nos Jardins de Marinaressa em Veneza.
Em resposta às mudanças climáticas, as instalações apresentadas investigam novas tecnologias e métodos de construção que reduzem o consumo de energia por meio de design circular e desenvolvem materiais de construção inovadores, orgânicos e reciclados. Os participantes também abordam a justiça social ao apresentar soluções habitacionais idealizadas para comunidades deslocadas e minorias, enquanto outros examinam as tensões entre o ambiente urbano construído e a natureza que o cerca para identificar oportunidades de coexistência.
Em 2020, em meio à primeira onda de bloqueios devido à pandemia, o município de Amsterdã anunciou sua estratégia para se recuperar dessa crise adotando o conceito de “Economia Donut” (traduzido também como economia da rosquinha). O modelo é desenvolvido pela economista britânica Kate Raworth e popularizado por meio de seu livro, Doughnut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st-Century Economist, lançado em 2017. Ela argumenta que o verdadeiro propósito da economia não precisa igualar o crescimento. Em vez disso, o objetivo é encontrar um ponto ideal, uma forma de equilibrar a necessidade de fornecer a todos o que precisam para viver uma vida boa, uma “base social”, enquanto limitamos nosso impacto no meio ambiente, “o teto ambiental”. Com a ajuda de Raworth, Amsterdã reduziu essa abordagem às proporções de uma cidade. O modelo agora é usado para informar estratégias em toda a cidade em apoio a essa ideia abrangente: proporcionar uma boa qualidade de vida para todos sem colocar mais pressão no planeta. Outras cidades estão seguindo este exemplo.
No último novembro, a conferência anual do clima em Sharm el-Sheikh, a COP 27, terminou com um acordo provisório firmado para estabelecer um fundo climático de “perdas e danos” para a África e outros países em desenvolvimento. Para os africanos, isso foi motivo de uma comemoração contida, já que por gerações o continente construiu sua agenda de mudança climática quase exclusivamente em torno da busca pela justiça climática, visando responsabilizar as nações industrializadas pela maior parte das emissões globais de carbono.
Tudo isso se desenrolou ao mesmo tempo em que a maioria dos países africanos lida com os desafios mais básicos: saneamento urbano ineficiente; má gestão de águas pluviais; escassez de água, saneamento e instalações de higiene; desmatamento e degradação ambiental.
https://www.archdaily.com.br/br/996449/e-hora-da-africa-criar-sua-propria-agenda-para-as-mudancas-climaticasMathias Agbo, Jr.
A cidade de Los Angeles selecionou seis finalistas para o concurso de projeto de um novo memorial dedicado às vítimas do massacre chinês de 1871. Em um dos capítulos mais sombrios da história da cidade, em 24 de outubro de 1871, cerca de 10% da população chinesa da época, pelo menos 18 residentes, foram assassinados por uma multidão de manifestantes. O memorial busca aumentar a conscientização pública sobre o assassinato em massa com motivação racial de 1871, ao mesmo tempo, em que aborda as preocupações contemporâneas sobre raça, intolerância e violência. O memorial foi anunciado pela primeira vez em abril de 2021, e está previsto para ser construído próximo ao local do massacre e ao Museu Sino-Americano.
A justiça do projeto é baseada na experiência pessoal e construída por meio de ações cotidianas. Wandile Mthiyane é um arquiteto que personifica essa ideia, um ativista que cresceu em Durban, na África do Sul, durante o Apartheid. Desde jovem sentiu-se atraído pela construção e pelo design, um contexto diretamente ligado à sua infância. Com o tempo, percebeu que queria construir um futuro melhor trabalhando para desfazer os efeitos arquitetônicos da segregação racial institucionalizada. Hoje, Wandile é reconhecido por estratégias que geram impacto social, incluindo seu trabalho para transformar sua cidade natal, Durban.
A Missão Cidade Inteligente do governo indiano, lançada em 2015, prevê o desenvolvimento de cem "cidades inteligentes" até 2020 para apresentar soluções para a rápida urbanização do país;trinta cidades foram adicionadas à lista oficial na semana passada, levando o número total atual de iniciativas planejadas para noventa. A missão de US$ 7,5 bilhões abrange o desenvolvimento geral de infraestrutura básica — abastecimento de água, eletricidade, mobilidade urbana, habitação a preços acessíveis, saneamento, saúde e segurança — ao mesmo tempo que incluem "soluções inteligentes" baseadas em tecnologia para impulsionar o crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos nas cidades.
Em um país imerso em corrupção, a missão foi elogiada pelo uso transparente e inovador de um nacional "Desafio Municipal" para dar financiamento às melhores propostas dos órgãos municipais locais. Seu manifesto utópico e implementação, no entanto, são motivos de grande preocupação entre os planejadores urbanos e tomadores de decisão hoje, que questionam se a própria ideia de cidade inteligente indiana é inerentemente falha.