De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de deficiência, seja física ou intelectual, e 80% delas estão em países do Sul Global. Embora tenha havido avanços na garantia dos direitos dessas pessoas, elas continuam enfrentando diversas barreiras e estão entre os grupos mais excluídos dos serviços essenciais da sociedade, como saúde, educação e emprego. Nesse contexto, a arquitetura desempenha um papel crucial ao garantir a segurança e a autonomia espacial de todas as pessoas, assegurando sua participação plena e efetiva na sociedade.
Sul Global: O mais recente de arquitetura e notícia
Lições aprendidas com a realocação e construção de novas capitais no sul global
A mudança de uma capital é uma decisão complexa com várias dimensões e consequências tanto para a antiga quanto para a nova capital. Pode ser impulsionada por fatores políticos, econômicos, sociais, e tem implicações urbanas e arquitetônicas para os moradores, como localização, planejamento, projeto de construção, finalidade da antiga capital, condições climáticas e separação dos centros políticos/administrativos das cidades culturais e econômicas.
Diante deste debate, o Egito está construindo uma nova capital para aliviar a pressão populacional e urbana sobre o Cairo. Da mesma forma, a Indonésia está planejando uma nova capital em resposta aos desafios enfrentados por Jacarta, como poluição, congestionamento de tráfego e aumento do nível do mar. É valioso examinar outros países no sul global que realocaram suas capitais, observando as lições arquitetônicas e urbanas aprendidas com suas experiências.
Como projetar para a informalidade?
A arquitetura informal é o modo dominante de urbanização em cidades de rápido crescimento e industrialização em todo o mundo. Em Délhi, cidade com a maior população da Índia, metade de seus moradores vive em assentamentos informais. Lagos, na Nigéria, com uma população de mais de 22 milhões, também tem 60% de seus moradores vivendo em assentamentos informais. Esse padrão também é observado no Cairo, Johannesburg, Kinshasa e outras cidades do sul global que enfrentam desafios semelhantes de desigualdade e escassez de moradias. À medida que sua população cresce e a urbanização avança, a exploração da arquitetura informal para atender à demanda por moradias acessíveis e serviços básicos só aumentará.
Principais pavilhões e instalações de 2023: interrogando a arquitetura do Sul Global
A arquitetura no Sul Global frequentemente incorpora uma rica herança cultural e artística, integrando cores, padrões intricados e elementos simbólicos. Ela também enfrenta desafios como recursos limitados, rápida urbanização e desigualdade social, buscando soluções inclusivas e comunitárias. Instalações e pavilhões servem como modelos radicais para questionar esses ideais arquitetônicos e buscar soluções inovadoras. Como parte da nossa retrospectiva de 2023, apresentamos algumas das principais instalações arquitetônicas do ano, abrangendo exposições como a Bienal de Arquitetura de Veneza, além de pavilhões permanentes que exploram materiais locais, reuso de resíduos e ressignificação de narrativas históricas.
Comunidades, meio ambiente e novas narrativas: as melhores entrevistas de 2023
Em um momento da história onde alguns buscam alternativas em outros planetas e outros procuram refúgio em mundos virtuais, paradoxalmente, o futuro parece ser mesmo a terra. Essa talvez seja uma das grandes lições que 2023 ensinou à arquitetura. Compreender isso implica tomar consciência, também, de que nosso planeta está sendo exaurido a olhos vistos — e uma fatia generosa dessa responsabilidade pertence às cadeias produtivas que envolvem a arquitetura e a construção civil.
Se ainda há alguma coisa que pode ser feita para mitigarmos a crise climática e ambiental em que nos encontramos, ela deverá necessariamente passar por uma revisão de todos os paradigmas que definem a indústria. É preciso mudar o foco e buscar outras narrativas sobre as quais sustentar os modos de fazer arquitetura em escala planetária. Essas ideias ecoaram em muitas vozes este ano e, ao mesmo tempo em que se debateu a possibilidade de futuro para o planeta, igual atenção foi dedicada à escala, valores e culturas locais. As entrevistas selecionadas aqui contam histórias sobre comunidade, meio ambiente, cidades, práticas e novas narrativas para a arquitetura em 2023 e além.
Descarbonização e soluções regionais: os principais temas da arquitetura para a COP28
Em 30 de novembro teve início em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a COP28, a cúpula climática da ONU. O evento consiste no encontro anual de governos nacionais e tem como objetivo de estabelecer estratégias para limitar a extensão da crise climática e seus efeitos adversos. A cúpula do ano passado definiu várias medidas importantes, incluindo a promessa de um fundo global destinado a fornecer ajuda financeira a países em desenvolvimento afetados por desastres climáticos.
O propósito principal da COP é reforçar os compromissos do Acordo de Paris, assinado em 2015, que busca manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5ºC. Como a indústria da construção é responsável por 39% das emissões globais, a arquitetura desempenha um papel vital na redução da pegada de carbono, tornando a COP28 um evento crucial para os arquitetos.
Criando ícones: um caminho para a construção de edifícios monumentais no sul global
Edifícios que são projetados para contar histórias e memórias, evocar um senso de aspiração, definir narrativas culturais e construir uma identidade nacional sempre serão importantes em todas as sociedades. Quando os edifícios têm esse poder de moldar comunidades, impactar a imagem de uma cidade e mudar o curso do crescimento socioeconômico, então podem ser identificados como icônicos. Embora o termo "icônico" seja subjetivo, é uma palavra que expande os limites da arquitetura em qualquer contexto. Ele exige originalidade espacial, propõe uma tecnologia de materiais inovadora e necessita de um investimento socioeconômico considerável para ser realizado.
No entanto, uma vez que as economias dos países em desenvolvimento do sul global nem sempre podem atender aos requisitos dessas estruturas arquitetônicas, seria possível existir um modelo socioeconômico mais adequado para estruturas monumentais nesse contexto? Os princípios graduais de mudanças e crescimentos pequenos e adaptáveis podem ser aplicados à aspiração finita e icônica dessa arquitetura?
Explorando a escassez no sul global: Trienal de Arquitetura de Sharjah 2023 anuncia lista de participantes
Um grupo de 31 arquitetos, escritórios e designers foram convidados a participar da Trienal de Arquitetura de Sharjah, de 11 de novembro a 10 de março de 2024. Para sua segunda edição, o evento visa explorar soluções de projeto inovadoras que surgem das condições de escassez no sul global. Os participantes, representando 27 países, oferecem uma resposta diversa e internacional ao tema, abordando suas implicações para o futuro da arquitetura. A Trienal tem curadoria de Tosin Oshinowo e gira em torno do tema A Beleza da Impermanência: Uma Arquitetura de Adaptabilidade.
Por que o Sul Global precisa de referências diferentes de sustentabilidade?
Enquanto os governos do mundo lidam com as crises ambientais, a indústria da construção civil corre para reavaliar o projeto sustentável e desenvolver novas formas de medir sua eficiência. Consequentemente, os sistemas de certificação de edifícios verdes (GBCS) começaram a ganhar força no século XX para avaliar e promover práticas de construção ditas sustentáveis. No entanto, o chamado Sul Global enfrenta desafios distintos na construção de cidades sustentáveis. Suas nações em desenvolvimento exigem abordagens diferentes para projetar arquiteturas apropriadas, econômicas e inspiradoras para um futuro promissor.
Como conciliar criação pecuária e ambiente urbano?
À medida que as pessoas continuam a migrar das áreas rurais para as urbanas, o espaço se torna um privilégio. Muitos lugares estão ficando cada vez mais congestionados – com moradias adequadas e acessíveis em escassez e sistemas de transporte lutando para atender os moradores. Mas, por mais que a conversa sobre urbanização seja sobre pessoas, às vezes também é sobre os animais que vêm com essas pessoas – a criação pecuária urbana que desempenha um papel fundamental no sustento a nível individual, além de se tornar uma via para o comércio.
Como as Filipinas estão usando materiais nativos e locais na arquitetura contemporânea
A história e a formação cultural das Filipinas estão refletidas na paisagem construída por todo o país, com suas estruturas e habitações que expressam várias influências das nações que ocupavam as ilhas.
Quando falamos sobre arquitetura e habitações filipinas, de modo geral, podemos pensar na primeira casa filipina conhecida: Bahay Kubo. A Bahay Kubo é uma pequena cabana composta por nipa, bambu e outros materiais regionais. Comumente, muitas pessoas ainda optam por adotar este tipo de habitação, que se modernizou com o passar do tempo e permanece como conceito em casas contemporâneas.
A varanda: um espaço de transição desaparecendo na Índia
Um antigo conto folclórico indiano narra a história de um semideus, Hiranyakashipu, que recebeu a dádiva da indestrutibilidade. Ele desejou que sua morte nunca fosse provocada por qualquer arma, humana ou animal, nem de dia ou de noite, e nem dentro nem fora de sua residência. Entretanto, para cessar sua trajetória, o Senhor Vishnu assumiu a forma de um ser meio-humano-meio-animal para matar o semideus durante crepúsculo no limiar de sua casa.
Um novo guia abrangente sobre a arquitetura da África Subsaariana
Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.
Comparados ao Ocidente e Oriente, a consciência e o conhecimento da arquitetura da África subsaariana - África ao sul do deserto do Saara - são escassos. Um novo livro pretende mitigar esse descuido, e é uma conquista significativa. Architectural Guide Sub-Saharan Africa (editora DOM, 2021), organizado por Philipp Meuser, Adil Dalbai e Livingstone Mukasa, levou mais de seis anos para ser elaborado. O guia de sete volumes apresenta a arquitetura nos 49 estados-nação subsaarianos do continente, inclui contribuições de cerca de 340 autores, 5.000 fotos, mais de 850 edifícios e 49 artigos expressamente dedicados a teorizar a arquitetura africana em seus aspectos sociais, econômicos, históricos e contexto cultural. Entrevistei dois dos editores — Adil Dalbai, pesquisador e arquiteto praticante especializado na África subsaariana, e Livingstone Mukasa, um arquiteto nativo de Uganda interessado nas interseções entre a história da arquitetura e a antropologia cultural — sobre os desafios de criar o guia, algumas de suas revelações sobre a arquitetura da África e seu impacto potencial.