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UBU Editora: O mais recente de arquitetura e notícia

Cidades e cosmofobia

O que é a cidade? E o contrário de mata. O contrário de natureza. A cidade é um território artificializado, humanizado. A cidade é um território arquitetado exclusivamente para os humanos. Os humanos excluíram todas as possibilidades de outras vidas na cidade. Qualquer outra vida que tenta existir na cidade é destruída. Se existe, é graças à força do orgânico, não porque os humanos queiram.

Fui criado numa casa de chão batido, onde andava descalço. As galinhas e os outros animais conviviam conosco dentro de casa. Quando uma galinha estercava na casa de chão batido, a parte úmida do esterco, das fezes da galinha, era absorvida pela terra. Tirávamos a parte sólida e jogávamos no quintal para servir de adubo. Para o povo da cidade, isso é um horror. Pisar as fezes da galinha? Impossível! Tem que ter uma cerâmica bem lisinha para poder enxergar qualquer outra vida, qualquer outro vivente que estiver ali, para poder desinfetar e matar qualquer microrganismo. Matar até o que não se vê. Para andar descalço, é preciso desinfetar o chão: a cerâmica foi criada porque os humanos não podem pisar a terra. Os calçados foram criados porque os humanos não podem pisar a terra. Porque a terra é o anseio original.

O complexo arte-arquitetura / Hal Foster

Arte e arquitetura nunca estiveram tão próximas como atualmente. Mas seria a mescla positiva? Em seu livro, Hal Foster critica o mau uso da arte na arquitetura e a obsessão em juntar as duas em projetos arrojados, mas esvaziados de sentido. Já a condição de complexo, cujas significações abrangem desde o léxico psicanalítico até a designação de grandes aparatos sociais – como um “complexo industrial-militar” –, é, segundo o autor, um aspecto definidor da cultura atual e permite compreender fatores sociais e econômicos do mundo contemporâneo.

Casa Butantã – Paulo Mendes da Rocha / org. Catherine Otondo

Embora não costumem figurar nas publicações sobre sua obra, as residências de Paulo Mendes da Rocha revelam aspectos norteadores de seu pensamento. Por serem projetos experimentais, com os quais ele consolidou sua técnica e visão, constituem ricos objetos de estudo. Entre eles, a Casa Butantã, desenhada para o arquiteto e sua família em 1964, é quase um manifesto sobre uma nova maneira de morar. O concreto aparente, a continuidade dos espaços e a elegância das linhas despertam a atenção; mas é a concepção radical na qual se baseia a relação entre o privado e o comum o elemento inovador do projeto. A casa representa sua visão da arquitetura como experiência compartilhada do espaço – um dos elementos amplamente admirados em seu trabalho e mencionado pelo júri que o agraciou com o Prêmio Pritzker.

O livro oferece ao leitor uma visão completa da casa e busca transmitir o caráter experimental e lúdico de um dos projetos mais emblemáticos do arquiteto. Além da apresentação da arquiteta Catherine Otondo, a edição conta com posfácio de Flávio Motta, croquis e desenhos técnicos do projeto, depoimento inédito de Paulo Mendes da Rocha e ensaio fotográfico também inédito de seu filho – e o atual residente da casa – Lito Mendes da Rocha.