As cidades estão crescendo, e crescendo para cima. Isso está longe de ser um fenômeno contemporâneo apenas, claro, e por mais de um século, os arranha-céus têm sido uma parte integral dos cenários urbanos por todo o mundo. Esse crescimento urbano engloba uma rede complexa de processos – avanços em conexões de transporte, urbanização e migração, para mencionar alguns deles. O crescimento, no entanto, é muito frequentemente associado a um fracasso governamental em atender todas as demandas da população urbana. Assentamentos informais são nascidos disso: pessoas encontrando seu espaço por si próprias para viver em meio à falta de apoio do Estado.
Kowloon Walled City: O mais recente de arquitetura e notícia
Arquiteturas improvisadas: o cenário das alturas
Como os erros do passado nos ajudarão a moldar as cidades do futuro?
Como seriam nossas cidades se deixássemos de experimentar e explorar novas soluções sempre em busca de uma melhor qualidade de vida para seus habitantes? Por mais que estejamos sempre trabalhando e desenvolvendo projetos e estratégias urbanas que nos permitam qualificar nossos espaços e, desta forma, construir cidades mais humanas, nem todas as iniciativas no campo da arquitetura e do urbanismo foram assim tão bem-sucedidas, as quais foram deixadas de lado para desaparecer na profundidade da nossa memória. Enquanto procuramos melhor compreender como será o futuro das nossas cidades, talvez seja importante analisar as lições que aprendemos com o tempo, para que os nossos erros históricos não voltem a se repetir mais adiante.
O que as descrições ocidentais sobre a cidade murada de Kowloon não dizem
Uma versão mais longa deste artigo, escrita pela estagiária do ArchDaily Sharon Lam, foi originalmente publicado na Revista Salient, dos estudantes da Victoria University of Wellington, intitulado "In the Shadow of the Kowloon Walled City."
É a década de 1970 em Hong Kong, e você tem onze anos de idade. Cedo uma noite, você sai para um bairro próximo para jantar com sua família. A cinco minutos a pé de sua escola primária, é também um lugar que você frequenta com seus amigos. A comida aqui é boa e o lugar é especialmente conhecido por sua fishball noodle soup, que é o que você sempre pede. Você esteve aqui tantas vezes que percorrer os corredores subterrâneos para a barraca de macarrão é fácil, e você sabe para onde pisar para evitar os tetos que gotejam mais. Seu bowl de macarrão chega e você come-o, inconsciente do fato de que nos próximos dois anos este bairro vai aumentar sua população e sua infâmia, e permanecerá até décadas mais tarde como uma das mais notáveis anomalias sociais na história recente.
No seu pico, a Cidade Murada de Kowloon era o lar de 33.000 pessoas em apenas dois hectares de terra - o tamanho de cerca de pouco mais que dois campos de futebol - tornando-o o lugar mais denso na Terra na época. Era um conglomerado de pequenos apartamentos, um sobre o outro, com varandas enjauladas e conectados através de um labirinto de corredores úmidos e escuros. Enquanto isso, o restante de Hong Kong continuava normal, aparentemente não afetado pelo crime e a miséria dentro da cidade murada.
Cidade da Imaginação: Kowloon Walled City 20 anos depois
Há vinte anos, um dos conjuntos arquitetônicos mais incomuns e inesperados foi destruído: Kowloon Walled City, o lugar mais densamente povoada do mundo. Miserável, escura e labiríntica, a cidade informal não apresentava apenas as condições ideais para o crime organizado, mas também para uma comunidade vibrante. Agora, o Wall Street Journal lançou um pequeno documentário que revisita a cidade, revelando o porquê dela assumir um papel tão especial em nossa cultura contemporânea.
A arquitetura de Kowloon Walled City: Um trecho do livro "City of Darkness Revisited"
Tendo em vista o lançamento de uma segunda edição revisada do livro "City of Darkness" - o texto oficial sobre Kowloon Walled City, que você pode ajudar a financiar pelo Kickstarer aqui - os autores Greg Girard Ian Lambot compartilharam um trecho de "City of Darkness Revisited".
As fases iniciais da cidade murada se caracterizaram por tipologias construtivas previsíveis e os edifícios foram construídos no princípio dos direitos dos ocupantes, com a construção em locais aleatórios de terra disponível por quem chegou lá primeiro. Os corredores e passagens evoluíram - de forma não planejada - até o "mapa" estabelecido da cidade, o qual se manteria até que fosse demolida. Uma fonte elétrica básica existia, cada vez mais sobrecarregada por ligações clandestinas que passavam do limite do sistema, e os poucos fontanários forneciam a única água disponível. O aumento da necessidade de acomodar a crescente população residencial e comercial, forçou, nos anos 60, a tipologia do edifício da cidade murada, inicialmente com um estruturas residenciais de dois a três andares, a dar um salto para seis a sete andares. Isso representou um limiar importante, pois nessas alturas maiores os edifícios, inevitavelmente, se tornam mais complexos e exigem o uso de concreto armado, mais investimento e assim por diante. Eles também exigiam uma maneira diferente de viver. A água era levada manualmente até os pavimentos mais altos, assim como os botijões de gás propano, usados para cozinhar ou aquecer a água.
'City of Darkness' no Kickstarter: a nova edição do livro sobre Kowloon Walled City
Há 20 anos atrás, Greg Girard e Ian Lambot publicaram "City of Darkness", um livro que documenta a vida na emblemática Kowloon Walled City em Hong Kong durante seu auge nos anos 1980. Quando a favela vertical foi demolida em 1993, esta série de fotografias, entrevistas e ensaios se tornou uma especie de homenagem póstuma, contando com textos fundamentais para compreender o lugar mais populoso que já existiu sobre a terra.
Duas décadas depois, Girard e Lambot revisitam o livro - e para financiá-lo lançaram uma campanha no Kickstarter.
Saiba mais sobre o que há de novo nesta edição e como você pode ajudar a financiar o livro.
The Indicator: A favela exótica e a persistência da cidade murada de Hong Kong
Sempre que vejo argumentos sensacionalistas sobre a intensidade espacial supostamente sublime de Kowloon Walled City em Hong Kong (demolida em 1994), elas me parecem nada além de fantasias coloniais que têm pouca relação com a realidade de viver no meio de uma das favelas mais cruéis do mundo. Você vê Kowloon aparecer constantemente como sendo ainda uma questão válida ou mesmo interessante. Este assentamento informal foi diagramado, fotografado e discutido por décadas do ponto de vista estético, tornando seus vitimizados e oprimidos habitantes praticamente invisíveis. Não significa que não tenha sido o lar de muitas pessoas e que não existam "boas lembranças" de lá, mas ainda, como todas as favelas, era um lugar difícil de viver, repleto de contradições na névoa de esperança por uma vida melhor.