Nas últimas décadas, houve um avanço extraordinário no desenvolvimento de ferramentas de desenho paramétrico. Originalmente desenvolvidas nas indústrias aeroespacial e automotiva, essas ferramentas há muito vêm tendo um forte impacto no processo de projeto de edifícios. Todavia, apenas, nos últimos anos, vêm sendo transladadas para o urbanismo, constituindo o que vem sendo chamado de urbanismo paramétrico – uma nova corrente de desenho urbano que emergiu especialmente do escritório Zaha hadid Architects. Este artigo analisa a emergência dessa nova teoria urbana, visando identificar seus limites e apontar aprimoramentos futuros. É verificado que apesar das potencialidades, o urbanismo paramétrico explora apenas parâmetros formais ambientais e funcionais para promover ambientes urbanos vibrantes. Parâmetros de configuração do espaço também poderiam ser incorporados como forma de promover a vitalidade de áreas urbanas. Essencialmente, o trabalho argumenta que criar vida urbana é um problema especial de desenho da configuração espacial e urbanidade é parametrizável e pode ser utilizada como um critério de desempenho para o projeto de formas urbanas desde a fase inicial. O urbanismo paramétrico é uma nova corrente de desenho urbano que emergiu da prática do escritório Zaha Hadid Architects – dirigido por Zaha Hadid e Patrik Schumacher – e do ambiente acadêmico da Architectural Association School. Esse novo modelo de urbanismo se fundamenta essencialmente em sistemas de desenho paramétrico[i] nos quais o foco de interesse não está na forma em si, mas em seus parâmetros geradores. Nesses sistemas, “pela atribuição de diferentes valores aos parâmetros, objetos ou configurações podem ser gerados [ou modificados simultaneamente]” (Kolarevic 6, p.17).O desenho paramétrico mantém a capacidade de o modelo alterar-se durante todo o processo de projeto, permitindo gerar e testar grande quantidade de versões. De fato, a introdução do desenho paramétrico no urbanismo tem grande potencial porque “aspectos como densidade, uso, forma, espaço e tipologia – que, por natureza pertencem, ao desenho urbano – podem ser todos definidos parametricamente (Steinø and Veirum 8, p.1).
No entanto, apesar das potencialidades oferecidas pelo urbanismo paramétrico para aumentar a eficiência e a qualidade das propostas de desenho urbano, esse novo modelo de urbanismo explora apenas parâmetros formais, funcionais e ambientais para constituir, nas palavras de seus autores, “atmosferas urbanas vibrantes” (Gerber 2, p.157). Por um lado, o urbanismo paramétrico emprega estratégias formais para gerar geometrias urbanas complexas.
Aplica técnicas de variação, diferenciação e deformação paramétricas para gerar malhas urbanas de geometria fluída que se ajustam aos tecidos urbanos pré-existentes e, além disso, trata os aglomerados urbanos como um enxameado de vários edifícios (Schumacher, 2008b).
Vários projetos urbanos produzidos pelo escritório Zaha Hadid Architects, nos últimos anos, baseiam-se nessas estratégias formais, a saber: One North Masterplan, em Cingapura; o Thames Gateway Masterplan, em Londres; e o Kartal-Pendik Masterplan, em Istambul.
Por outro lado, o urbanismo paramétrico emprega apenas estratégias de densidade e mistura de usos para criar vida urbana, mas essas estratégias são insuficientes para garantir que os espaços urbanos propostos tenham êxito na promoção de urbanidade. Embora densidade e mistura de atividades sejam importantes atributos da vida urbana, não são suficientes. Parâmetros de configuração do espaço[ii] também são fundamentais, tanto para entender as dinâmicas urbanas como para propor novas formas urbanas. Teorias urbanas recentes como a Sintaxe Espacial (Hillier & Hanson 3, 1984) têm demonstrado que a configuração espacial determina padrões de movimento de pedestre através do espaço, independente de uso do solo e outros atratores (Hillier 4, 1993).
Assim sendo, como forma de aprimorar o urbanismo paramétrico, parâmetros de configuração do espaço poderiam ser incorporados de modo a assegurar que os arranjos urbanos propostos tenham êxito na promoção de vitalidade urbana. Para isso, desenvolvi uma metodologia de desenho paramétrico orientada por parâmetros de urbanidade (Canuto 1, p.117-155), baseada nos paradigmas de urbanidade e formalidade, formulados por Frederico de Holanda (Holanda 5, p.125), que desenvolveu um método para aferir o grau de vitalidade de áreas urbanas cujos valores variam entre 1 (máximo grau de formalidade) e 5 (máximo grau de urbanidade).
Para facilitar a visualização desses níveis, converti as variáveis espaciais em parâmetros computacionais e codifiquei as planilhas para colorir os valores de urbanidade em uma escala de cores que varia do vermelho ao branco.
Gerou-se, a partir disso, um mapa de urbanidade que pode auxiliar arquitetos e urbanistas a planejar e propor espaços urbanos mais eficientes.
[i] São ferramentas como o Generative Components e Digital Project, bem como o Maya Mel Script e Rhino Script que permitem a modelagem paramétrica por meio de scripts.
[ii] Percentage of open spaces over total study area; mean convex space; mean number of entrances per convex space; percentage of blind convex spaces; square meters of convex space per entrance; meters of perimeter of barriers per entrance; economy of urban network; integration and intelligibility.
REFERÊNCIAS
Canuto, R. (2010). Urbanismo Paramétrico: parametrizando urbanidade. Recife: EDUFPE.
Gerber, D. (2006) Towards a parametric urbanism. Interactive Cities. Paris: Anomos e Hyx Edições.
Hillier, B. and Hanson, J. (1984). The Social Logic of Space. London: Cambridge University Press.
Hillier, B. et al (1993). Natural Movement: or configuration and attraction in urban pedestrian movement. [s. l.]: Environment and Planning B.
Holanda, F. (2002). O espaço de exceção. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
Kolarevic, B. (2005) Architecture in the digital age: design and manufacturing. London: Taylor & Francis.
Schumacher, P. (2008). Design Research within the Parametric Paradigme. RIBA Journal. London: RIBA
Steinø, N. and Veirum, N. (2005) “Parametric Urban Design”. Paper for the AESOP 05 Congress, Vienna, July 13-17, 2005
AGRADECIMENTOS
O author agradece aos professores Luiz Manuel do Eirado Amorim e Mauro Normando Macêdo Barros Filho, orientadores da dissertação Urbanismo Paramétrico: Parametrizando Urbanidade sintetizada neste artigo.
Sobre o autor: ROBSON CANUTO - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano | Universidade Federal de Pernambuco Contato: robsoncanuto.arq@gmail.com