Nos últimos anos, canais de informação como The New York Times e CNN têm caracterizado as lutas dos arquitetos citando estatísticas de desemprego extremo que atingem 13,9% para os recém-formados, o mais alto dentre todos os cursos nos Estados Unidos. Muitos escritórios de arquitetura ainda estão relutantes em contratar novos arquitetos em tempo integral para suas equipes, e muitas vezes os estudantes e recém-formados continuam sem trabalho. Cerca de 40% dos licenciados em Arquitetura têm buscado trabalho fora da profissão de arquitetura, e o Conselho Nacional de Arquitetura relata que atualmente existe 26.850 alunos matriculados em cursos de arquitetura, podemos supor que ao longo dos anos seguintes 10.000 novos arquitetos irão seguir seus caminhos em outras ocupações.
Um dos campos mais criativos e bem vistos que podem oferecer a um arquiteto, de uma ampla gama, é a indústria cinematográfica. E, de fato, aqueles com antecedentes de arquitetura têm feito a transição para a indústria do cinema há décadas. Nossa linha do tempo mostra exemplos de pessoas que estudaram arquitetura que têm desfrutado de um enorme sucesso na indústria do cinema nos últimos 80 anos, como atores, cenógrafos ou diretores.
Leia mais sobre suas histórias (incluindo como Jimmy Stewart passou da arquitetura para o cinema) após o intervalo...
Os leitores podem se surpreender ao saber que os vencedores do Oscar e lendas do cinema clássico, Jimmy Stewart e Anthony Quinn, ambos estudaram arquitetura. Jimmy Stewart formou-se na Universidade de Princeton em 1932. Desde menino, ele tinha um forte interesse na aviação, e por isso a sua tese de arquitetura focou no projeto de um aeroporto.
Ele começou sua carreira de ator antes de entrar no na Aeronáutica na Segunda Guerra Mundial, atuando em 29 filmes de 1935 a 1939. Stewart foi a estrela de quatro filmes de Alfred Hitchcock: A Corda, Janela Indiscreta, O Homem Que Sabia Demais e Vertigo, além de 80 filmes ao longo de sua carreira.
O gráfico abaixo mostra alguns de seus filmes mais famosos em que desempenhou papel de protagonista.
Para estudantes de arquitetura considerando uma carreira na indústria do cinema, a cenografia pode ser o caminho mais óbvio de entrada. Um exemplo de quem fez esse salto é Anshuman Prasad, que se formou na Universidade de Illinois. Após escrever sua tese "Beyond Mise-En-Scene: Narrative Through Architecture in Main Stream Cinema (1980-2002)", Prasad mudou-se para Los Angeles para seguir carreira como cenógrafo. Um de seus projetos mais recentes como cenógrafo é o filme Capitão América. De 2005 a 2013 participou de muitos filmes de sucesso, incluindo Duro de Matar 4, Se Beber Não Case, Sexo Sem Compromisso, e Millenium - Os homens que não amavam as mulheres, como mostra o diagrama abaixo.
Prasad vê sua carreira cinematográfica mais como uma especialização do que um abandono da arquitetura, já que suas experiências como cenógrafo lhe renderam uma nova apreciação do clima e do caráter dos espaços. Em particular, luz, sombra, reflexos e chuva podem criar variações incríveis dentro de um espaço. O benefício de ser um cenógrafo é que todas essas condições podem ser controladas. Ele também acredita que o aspecto mais crítico da cenografia é definir proporções, e aqui a sua formação em arquitetura é especialmente útil. Olhando para trás, para a transição de carreiras, Prasad relembra: "Eu acredito que foi a diversidade do trabalho que sempre me atraiu para a cenografia e havia muita paixão, afinal, era Hollywood. Para alguém que ainda acreditava em mágica, era o trabalho dos sonhos."
Antes de se tornar um cenógrafo virtual, Tino Schaedler começou a estudar arquitetura na Universidade de Hanover, na Alemanha, formando-se em 1999. Ele atuou como arquiteto durante três anos, trabalhando para Daniel Libeskind e Barkow Leibinger, enquanto lecionava na Universidade de Artes de Berlim.
Quando entrevistado por designboom.com, ele admitiu que sentia-se sufocado como arquiteto. Embora fascinado pelos meios e técnicas acessíveis, ele suportou longas horas, muita pressão e pouco dinheiro. Ele rapidamente percebeu o potencial de ampliar seus projetos e suas habilidades de representação com o avanço das ferramentas digitais e decidiu frequentar a escola de cinema no Instituto de Arte de Vancouver, onde recebeu um diploma em animação 3D e efeitos visuais, em 2003.
Schaedler percebeu que a sua formação em arquitetura proporcionou-lhe uma ampla gama de "compreensão e sensibilidade para outros campos." Foi uma decisão difícil deixar a arquitetura, mas isso levou a uma maior liberdade criativa. Seus conhecimentos de arquitetura o tornaram um cenógrafo virtual, não limitando-o às práticas de construção tradicionais.
De 2003 a 2011, ele esteve envolvido com filmes de sucesso como A Fantástica Fábrica de Chocolate, V de Vingança, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, e Viagem Fantástica. Ele agora vê o espaço como uma relação impulsionada por uma narrativa ao invés de conceitualmente rígido. Schaedler continua gostando de ser totalmente responsável por seus projetos e crescer na sua paixão como cenógrafo virtual, diretor de arte e arquiteto. Nosso gráfico destaca todos os 10 filmes de Schaedler em Hollywood até hoje.
Outro arquiteto que mudou sua rota é o diretor de cinema Joseph Kosinski. Depois de estudar engenharia na Universidade de Stanford em 1996, Kosinski concluiu seu mestrado em arquitetura na Universidade de Columbia em 1999. Ele alega ter aprendido duas coisas na escola de arquitetura: a capacidade de ser auto-crítico e que ele não queria ser um arquiteto.
Sua decisão de não ser um arquiteto valeu a pena. Kosinski fez sua estréia como diretor em 2010, com o filme Tron: O Legado. Ele desembarcou neste trabalho devido a suas habilidades de modelagem digital, que aprendeu enquanto estudava arquitetura. Originalmente, a Disney tentou usar para o filme uma fórmula semelhante a do blockbuster Matrix, mas Kosinski foi capaz de convencer o produtor Sean Bailey a contratá-lo com base em sua capacidade de conceituar uma nova realidade no mundo de Tron.
Este ano, Kosinski estendeu seu trabalho no cinema como diretor, escritor e produtor de Oblivion, estrelado por Tom Cruise. Devido à popularidade instantânea do filme, número um de bilheteria em sua semana de estréia, a experiência de Kosinski na arquitetura ganhou atenção extra. Como cineasta, ele é capaz de ser mais que um sonhador usando as ferramentas digitais da arquitetura, podendo criar o que não pode, ainda, ser construído fisicamente. Nosso gráfico mostra os seus três filmes de Hollywood.
Para Prasad, Schaedler e Kosinski, essa transição entre áreas criativas tornou seus trabalhos de criação mais gratificante, muito melhor remunerados e mais satisfatórios. Suas histórias nos lembram que aqueles com formação em arquitetura têm sorte, pois têm o embasamento criativo, conhecimento técnico e flexibilidade para ser bem sucedido em uma variedade de outras indústrias. Trabalhar em um escritório de arquitetura padrão pode não ser para todos, especialmente se isso implica trabalhar longas horas, ingratas, ficando preso em desenhos de detalhes de banheiros. Estas histórias mostram como um diploma de arquitetura permite que arquitetos sigam seus próprios caminhos e criem o trabalho de seus sonhos.
Erik Butka graduou-se em Arquitetura pela Universidade de Michigan e concluiu seu mestrado na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. Depois de trabalhar em uma empresa de arquitetura e fortalecer suas habilidades de modelagem digital, está considerando a transição para a indústria cinematográfica.
Meagan Calnon formou-se em Arquitetura pela Universidade de Miami e concluiu seu mestrado pela Universidade de Illinois. Além da arquitetura, ela continua se interessar por saídas criativas multidisciplinares, incluindo mobiliário e design de produto.
Kathryn H. Anthony, Ph.D. é Professora na Escola de Arquitetura da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign e autora de dois livros acadêmicos: O Renascimento do Design e Projetando para a Diversidade: Gênero, Raça e Etnia na Arquitetura, mais de 100 artigos acadêmicos e dois aplicativos para iOS: Guia de Sobrevivência do Estudante de Design, e o Guia de Sobrevivência do Estudante.