INTERIORS: Análise espacial do videoclipe "Mirrors" de Justin Timberlake

Interiors é uma publicação online sobre cinema e arquitetura, publicada por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Publicam uma coluna exclusiva no ArchDaily analisando e diagramando filmes em termos de espacialidade.

A aventura dos diretores nos videoclipes começou com os anos 1990, quando a MTV começou a creditá-los junto aos artistas e o título das músicas. Diretores visionários como Michel Gondry, Spike Jonze e David Fincher comprovaram que os vídeos se tornariam uma produção autoral, assim como os filmes. A mudança dos vídeos estilizados e centrados na performance do artista para trabalhos narrativos, no entanto, veio depois, quando o meio tornou-se mais "cinemático" em sua estrutura visual e narrativa.

Os vídeos de Justin Timberlake alinham-se a essa evolução. Seus trabalhos iniciais focam na locação e no espaço, coreografias e atuação. Em "Cry Me a River", acompanhamos o movimento por vários cômodos de uma casa. Em "Rock Your Body", a coreografia recebe a atenção, envolvida por luzes em um espaço restrito. Em "My Love", vemos o contraste de preto e branco na vastidão de um espaço vazio. No entanto, a base narrativa de "Mirrors", do seu antecipado álbum The 20/20 Experience, marca uma nova etapa.

Cortesia de INTERIORS

A diretora de “Mirrors,” Floria Sigismondi, já realizou clipes de Marilyn Manson, David Bowie, Leonard Cohen e Muse. Em 2006, dirigiu seu primeiro longa-metragem, The Runaways. Em "Mirrors", ela vai ainda além de seus trabalhos prévios, passando de uma câmera em movimento contínuo para uma estética mais consolidada, com a câmera estática. A ênfase fica na história, no espaço e na composição, cada um deles elementos inerente aos outros.

A história, que consiste em quatro momentos ao longo de várias décadas, foca em uma mulher que recorda sua vida e casamento. O fato do vídeo ser dedicado a William e Sadie Bomar, avós de Justin Timberlake (casados por 63 anos até a morte do avô do artista em 2012), indica a natureza pessoal da narrativa. 

Os primeiros três momentos acompanham a vida de um casal - um rapaz e uma moça jovem se conhecem em um bar e se encontram depois em um parque de diversões, em seguida se casam e esperam um filho. Depois, um casal idoso juntos no fim de suas vidas. Finalmente, a mulher, agora mais velha, reflete sobre sua vida enquanto a ausência do marido se reflete nas imagens dos dois juntos nos espelhos. No quarto momento o artista aparece em um epílogo.

O vídeo é construído com os momentos em paralelos, avançando e retrocedendo. A diretora conecta estas múltiplas linhas temporais em um único espaço - o quarto do casal. Em diversas cenas, vemos como a diretora cria "níveis", passando objetos como livros e um anel de um para outro, estabelecendo uma continuidade e um legado mútuo.

“Mirrors” é uma música sobre os entes queridos serem um reflexo uns dos outros, e o vídeo toma esta visão de um modo literal, usando os espelhos na cenografia para refletir o estado de espírito dos personagens e comentar sobre a relação entre eles. A cena de abertura (0:12) por exemplo, introduz o espectador ao casal idoso, cujos movimentos refletem um os do outro. Em segundo plano, vemos seu reflexo no espelho, incoerente com a ação no primeiro plano. Em outra cena (4:20), vemos a esposa debruçando-se sobre o marido deitado e o lado oposto é um espelho com diversos ângulos. A fratura do espelho coloca a situação do relacionamento naquele momento. Isto é retomado à frente (5:23), quando vê-se o casal mais velho separado por quatro planos de imagem. Esta separação mais clara sugere a distância causada pela morte do marido.

Também é interessante notar como quarto muda ao longo da vida dos personagens. No início do vídeo, os primeiros momentos do casamento se contrastam com um plano do casal mais velho. O quarto permanece em grande parte o mesmo, exceto por pequenos detalhes. Na juventude, acima da lareira estão diversos objetos, enquanto na velhice, estes são substituídos por fotografias dos dois, enfatizando a "reflexão" sobre o passado. Nas paredes os objeto (0:06) também são substituídos por mais espelhos (0:12).

No diagrama, analisamos os espelhos que rodeiam Justin Timberlake na porção final do vídeo. O fato de "Mirrors" possuir um epílogo significa que a música está dividida em duas partes o que, logo, faz parecer que são dois vídeos, um refletindo o outro.

O diagrama retrata o momento em que o artista passa em frente aos espelhos (6:53). Esse ponto merece destaque por ser o ápice dos dois lados. A câmera se move em um plano aberto, mostrando todo o espaço e a disposição dos espelhos. A posição é também onde dois espelhos refletem um ao outro. O espaço consiste de três planos que se interseccionam, formando triângulos. A complexidade do espaço vêm do posicionamento dos espelhos, que cria uma impressão de ampliação. Dessa forma, o espaço é determinado pela ilusão de múltiplos ângulos.

Discutiu-se muito sobre o número de dançarinos na cena, mas são na realidade quatro. Seus movimentos são refletidos pelos espelhos e existem quatro nichos (mesmo números de momentos da narrativa) onde se posicionam. Justin Timberlake dança ao redor dos espelhos, interage com eles até que sua imagem se sincroniza com a de uma das dançarinas. O emprego complexo dos espelhos ecoa a mensagem da música: cada indivíduo busca pelo seu amado, sua própria imagem refletida.

Diagrama disponível na Loja Oficial do site.

Interiors é publicado online todo dia 15, analisando e diagramando filmes em relação ao seu uso do espaço. Por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Confira seu Website, Issuu Site e Loja Oficial e acompanhe no Facebook e no Twitter.

Sobre este autor
Cita: INTERIORS Journal. "INTERIORS: Análise espacial do videoclipe "Mirrors" de Justin Timberlake" [INTERIORS: Justin Timberlake's "Mirrors"] 09 Ago 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Arruda, Murilo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-133230/interiors-analise-espacial-do-videoclipe-mirrors-de-justin-timberlake> ISSN 0719-8906

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