Eu obtenho a maior parte do meu conhecimento sobre as tendências e interesses atuais dos arquitetos através de mídias social e websites. Meu Facebook mostra constantemente uma série de imagens, artigos e vídeos que variam de novos edifícios a algoritmos, da evolução de bactérias até declarações românticas, poéticas (e geralmente confusas) sobre arquitetura.
Todos tem uma coisa em comum: foram postados no Facebook por arquitetos e estudantes de arquitetura. Para mim, isso mostra a atual desordem e falta e foco no campo. Publicações de arquitetura e websites apenas confirmam meu pensamento. E nada reafirma isso mais do que minhas experiências diárias no MIT.
Leia mais a seguir.
Esta instituição maravilhosa está repleta de indivíduos inteligentes que são bem sucedidos no que escolheram investir suas vidas. A enorme variedade de assuntos relacionadas à arquitetura é alucinante. Por exemplo, há arquitetos que passam o tempo pesquisando sobre compartilhamento de bicicletas e ciclismo social. Há arquitetos que passam o tempo pesquisando sobre plantas para cultivar dentro do espaço confinado dos apartamentos das grandes cidades. Há aqueles que tentam desenvolver um novo meio de transporte, ciclomotores e carros dobráveis, adicionando sensores e motores a uma roda de bicicleta... A lista continua - e não é um fenômeno exclusivo do MIT.
Isso levanta a questão: onde está a arquitetura? Todas essas pessoas têm formação de arquitetura. Se agora pesquisam sensores para bicicletas ou plantas, ainda são arquitetos? Por que há tantos deles? O que as escolas de arquitetura ensinaram ou mostraram a eles que seus interesses se tornaram o que são hoje? É quase como se a arquitetura pudesse facilitar literalmente qualquer coisa que você gosta, dentro ou fora da disciplina.
Ou não pode…?
Creio que isto depende da sua definição de arquitetura. Afinal, essas várias ramificações (por falta de uma palavra melhor) da arquitetura só existem no mundo acadêmico (a academia permite que você publique e seja reconhecido por suas ideias - sem ter que passar pela política e burocracia de contratos e construções). E ainda assim, estas "ramificações" tem uma relevância muito pequena no mundo profissional, na "arquitetura" como sempre conhecemos.
Em uma entrevista recente com Iman Ansari, Peter Eisenman relembra como Manfredo Tafuri uma vez lhe disse, "Peter, se você não construir, ninguém levará suas ideias a sério. Você deve construir porque ideias não construídas são simplesmente ideias não construídas." Para Eisenman, "Arquitetura envolve ver se essas ideias podem resistir ao ataque da construção, das pessoas, do tempo, da função, etc. Tafuri disse que a história não vai se interessar pelo seu trabalho se você não construir nada. Eu acho que isso está absolutamente certo. Se eu não tivesse construído nada, nós não estaríamos conversando agora." Eisenman diferencia arquitetura de construção: para ele, arquitetura "só existe nos desenhos", enquanto a construção "existe fora dos desenhos".
Mas Eisenman é um exemplo de arquiteto do passado?
Há arquitetos, como Eisenman, que estão tentando levar a profissão de volta ao que costumava ser, focando nas pessoas e no ambiente construído. E há aqueles que acreditam que o futuro dos arquitetos reside na indefinição das barreiras entre arquitetura e todos os outros campos de conhecimento.
E então, da forma como existe hoje, arquitetura é um caso vivo de contradição. De um lado há o mundo do trabalho profissional - onde ideias são construídas, contratos são assinados, e o produto final é entregue ao público para ser visto e experienciado. Por outro lado há o mundo acadêmico - onde teorias são testadas, barreiras são quebradas, e novas ideias são frequentemente criadas. Os dois estão paradoxalmente conectados e divergentes.
Colocado de outra forma, o campo da arquitetura gerou uma disciplina inteiramente nova. Por alguma razão, ainda é chamada de arquitetura - mas não tem nada a ver com o projeto ou a construção de edifícios.
Como um jovem designer, costumo refletir sobre como será meu futuro no campo que escolhi. Por vezes, parece bem desencorajador. A maior parte das pessoas tenta conseguir um trabalho em escritórios conhecidos. Alguns passam de pesquisadores durante os anos de formação a pesquisadores em tempo integral. Alguns decidem lecionar, muitas vezes apenas para pagar as contas. Uma grande maioria, na verdade, luta para conseguir qualquer coisa. A prática popular dos escritórios de contratar estagiários não remunerados, sem qualquer garantia de contratação em tempo integral quando o estágio termina, também não ajuda. O futuro parece muito severo.
Mas este também é o caso em muitas outras profissões. Nós arquitetos, entretanto, podemos ser otimistas.
Durante os últimos anos dos meus estudos na graduação, um dos meu professores, que inicialmente estudou física e depois mudou para arquitetura, me disse: "arquitetura é o último refúgio remanescente para os generalistas."
"O último refúgio remanescente para os generalistas"… Esta afirmação é terrivelmente precisa. Independente do que acontecer com a profissão no futuro próximo, as possibilidades são quase infinitas. E mesmo que possa parecer confuso, talvez esta desordem seja necessária para a sobrevivência. Não são muitas as profissões que tem o luxo de acomodar uma diversidade tão grande de interesses como a arquitetura; talvez isso seja a chave para sua sobrevivência e evolução.
Dessen Hillman é atualmente um estudante de pós-graduação no MIT, buscando seu diploma SMArchS em Arquitetura e Urbanismo.Tem interesse em investigar o papel da arquitetura em diversas configurações urbanas através do projeto.