Admirável (e digital) mundo novo da Arquitetura

"Cada vez mais, vivemos as cidades mediados pela tecnologia digital - seja por meio dos aplicativos de smartphone, seja trocando mensagens com um amigo. O modo como nossas cidades acolhem seus habitantes, seus trabalhadores e visitantes é, atualmente, tanto físico quanto digital.

John Tolva, Diretor Técnico da prefeitura de Chicago, tem uma missão: estabelecer um diálogo entre os mundos físico e digital.

Para agregar cada vez mais informação ao mundo físico, um número crescente de especialistas começa a se envolver com arquitetura, planejamento e urbanismo. Mas, até o momento, a transição para o digital não se consolidou.

Descubra por que os arquitetos devem estar à frente da sobreposição entre digital e espacial.

Barcelona is currently leading the way in bringing technology to the streets. Image of Barcelona © Jordi Payà via Flickr

Ainda que Tolva compare o Facebook aos subúrbios ("um sistema restrito de afinidades que impede os encontros ao acaso") e o Twitter com uma rua de uma cidade (" caracterizado por envolvimento e diversidade divergentes"), alegando que estes "espaços" digitais poderiam aprender com o urbanismo, ele se ocupa mais com a sobreposição de espaços digitais e reais, citando aplicativos como o Foursquare, que proporcionam a criação de lugares através da casualidade dos encontros.

No entanto, os melhores recursos para estimular essa espontaneidade não são aplicativos e aparelhos, mas a "incorporação da tecnologia no ambiente". Isso garante que o impacto das novas tecnologias seja mais amplo, e não restrito àqueles que se comprometem com a sua implementação.

Mas de quem é a responsabilidade de comandar essa integração, de apontar como o digital deve ser incorporado no espaço? Tolva atribui esse papel aos planejadores.

"Para mim está claro que essa esfera deve ser incluída nas escolas de arquitetura e urbanismo. Precisamos deixar de enxergar a tecnologia como uma ferramenta da construção. Ela é algo concreto e deveria ser projetada e moldada da mesma forma como fazemos com paredes e ruas".

"Esse é um argumento - que uso frequentemente - de uma disciplina que ainda não existe, uma fusão de desenho urbano e planejamento urbano com informática e redes de espaços públicos. [...] Precisamos de um processo de projeto simbiótico que coloque em primeiro plano a esfera social. Essa é a transição necessária, e essencialmente é o que torna as cidades vitais".

A questão está diretamente ligada a Smart Cities e a "Internet of Things". Enquanto os arquitetos ficam para trás, o setor de tecnologia segue em frente. Um exemplo disso é o Contiki, um sistema operacional de baixo consumo de energia que instala uma conexão de internet básica em objetos surpreendentemente pequenos - de lâmpadas controladas remotamente a aparelhos de GPS.

Contiki já possui uma aplicação no espaço urbano: a empresa de tecnologia Zolertia criou um sistema de monitramento de ruído instalado em Barcelona que cria mapas da poluição sonora em tempo real. O projeto faz parte do Laboratório Urbano de Barcelona, uma plataforma para testar projetos inovadores que "se dirijam a alguma necessidade não atendida do município". O experimento urbano de Barcelona foi tão bem-sucedido que está no topo da lista de John Tolva de exemplos de cidades a seguir.

Por que então, se perguntados sobre o que há de especial em Barcelona, os arquitetos citam somente um arquiteto que morreu há 87 anos (Antoni Gaudí) ou uma renovação urbana ligada a Jogos Olímpicos décadas atrás? Provavelmente, eles nem sequer tem conhecimento dos experimentos com tecnologia ligada ao espaço. Com todo respeito a Gaudí, essa condição mostra como a profissão de arquitetura encontra-se perigosamente retrógrada; em uma era na qual os arquitetos batalham para comunicar seu valor para a sociedade, a única maneira de sobreviver é olhar para o futuro - talvez a tecnologia urbana seja a chance dos arquitetos de tornarem-se relevantes outra vez.

Em um artigo em Next City, Molly Turner mostra como planejadores e especialistas podem se ajudar mutuamente.

"Especialistas em tecnologia gostam de trabalhar em uma tabula rasa, livres de restrições, obstáculos pré-concebidos ou mesmo da vantagem de noções consolidadas. E ainda que, eventualmente, isso proporcione rompantes de genialidade, está método é, muitas vezes, acompanhado de repetições de erros urbanísticos do passado, como a dependência exagerada do senso comum ou a falha em considerar importantes questões sociais e culturais."

Na mesma linha, John Maeda explica na Bettery Magazine o que significa ser um projetista envolvido com tecnologia:

"Sua experiência da sua cidade, sua casa, seu carro ou seu escritório muitas vezes resulta de alguma tecnologia inata à vida urbana diária... que tornou-se especial e única através do design. O design agrega o componente emocional, humanizando a tecnologia presente em nosso ambiente".

The D-Tower in Doetinchem. Image © Dennis Leidelmeijer via Flickr

Alcançar o equilíbrio entre tabula rasa e conhecimento institucionalizado, com a humanização necessária, seria o santo graal do planejamento digital. E, na realidade, arquitetura, informática e tecnologia já se cruzaram antes: na cidade holandesa de Doetinchem, no ano de 2003, os arquitetos do escritório NOX colaboraram com o artista Q. S. Serafijn e os especialistas em tecnologia do V2_Lab para produzir a D-Tower. Essa torre de epóxi de forma bizarra conectava-se a um questionário online. Todos os dias, moradores de Doetinchem respondiam perguntas que aferiam seu humor naquele dia, e à noite a torre iluminava-se de acordo com o estado de espírito dominante: azul para felicidade, vermelho para amor, verde para raiva e amarelo para medo.

Após dez anos, o mesmo projeto estaria ainda mais integrado à cultura online, provavelmente analisando o humor dos usuários do Twitter. A tecnologia para um projeto desse tipo já existe; o desafio é utilizar este tipo de pensamento para produzir algo que vá além da curiosidade e do artifício, mas que comunicasse informações realmente úteis aos cidadãos.

John Tolva acredita que nossa experiência das cidades será muito mais intensa quando os arquitetos aprenderem a usar a tecnologia como um material e não somente como uma ferramenta:

"O projeto de um urbanismo interligado, se bem feito, fará as cidades ainda melhores, estruturadas em eixos já existentes: conforto, segurança, sustentabilidade e, claro, como uma rede social".

Mas talvez tão importante quanto, este poderia ser um meio dos arquitetos garantirem seu próprio futuro.

Sobre este autor
Cita: Stott, Rory. "Admirável (e digital) mundo novo da Arquitetura" [Architecture's Brave New Digital World] 06 Set 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Arruda, Murilo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-138857/admiravel-e-digital-mundo-novo-da-arquitetura> ISSN 0719-8906

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