No artigo a seguir, que foi publicado originalmente na Medium como "What Starbucks Gets that Architects Don't", Christine Outram, lamenta que os arquitetos de hoje simplesmente não dão ouvidos às necessidades reais das pessoas.
Caros arquitetos,
Vocês estão desatualizados. Sei disso porque já fui uma de vocês. Mas agora mudei. Evolui porque apesar do amor que vocês sentem por uma bela curva e suas experimentações com formas, vocês não entendem as pessoas.
Vou me corrigir. Vocês não escutam as pessoas.
Em termos legais, um arquiteto é aquele profissional da construção que tudo vê, tudo sabe. Vocês são os responsáveis por tudo que acontece de errado em um edifício, mas e se alguém simplesmente odiar os espaços que você projetou? Se alguém se sentir desconfortável, ou com frio, ou com medo? Bom, quanto a isso não existe nenhuma ação judicial.
Costumava pensar que era impossível para vocês responder à um público do mesmo modo que fazem as startups. Essas startups podem construir um produto, lançá-lo na internet e ajustá-lo com base no feedback que recebem. É um processo interativo. Arquitetura, pensava, era muito permanente para isso. Tinha muita coisa em jogo, apenas uma chance de se fazer corretamente, muitas variáveis e todo aquele blá blá blá.
Mas a verdade é que muitos de vocês nem tentam. Se baseam nas regras de ouro e livros consagrados, mas vocês raramente fazem pesquisas etnográficas aprofundadas. Podem sentar no terreno durante uma hora e observar as pessoas "utilizarem o espaço" mas vocês levantam e vão lá falar com elas? Descobrem suas motivações? Suas tentativas realmente incorporam as vontades dessas pessoas no processo de projeto?
O mundo está mudando. Vocês têm todas essas ferramentas em suas mãos. Novas ferramentas que não vejo sendo usadas e muitas técnicas antigas nas quais vocês poderiam melhorar bastante.
Essa ideia fez sentido pra mim quando li um artigo recente sobre os projetos das lojas Starbucks. Vocês podem odiar o Starbucks. Podem acreditar que eles são uma entidade comercial sem alma, sem nenhum mérito arquitetônico, mas sabem em que eles são bons? São bons em responder às necessidades das pessoas e seus desejos.
Do artigo:
Starbucks entrevistou centenas de consumidores de café, buscando saber o que eles queriam encontrar em uma cafeteria. O consenso da maioria esmagadora na verdade não tinha nada a ver com o café, os consumidores procuravam o que seria um lugar de descanso, um lugar de pertencimento.
Meus caros arquitetos. É por isso que a Starbucks possui mesas redondas em seus estabelecimentos. Elas foram pensadas "em um esforço de proteger a auto-estima de seus consumidores solitários". Não eram mesas redondas porque o arquiteto pensou que ficaram mais agradáveis assim, não eram redondas porque eram mais baratas, mas eram redondas porque, assim como conclui o artigo, "não existem lugares vazios em mesas redondas".
As mesas redondas no Starbucks foram o resultado de se perguntar como queremos que as pessoas se sintam antes de considerar o que queremos que elas façam.
A forma segue o sentimento.
Agora, eu não estou dizendo que todos os arquitetos são ignorantes neste sentido. Arquitetos residenciais muitas vezes têm sucesso quando se trata de construir espaços habitáveis. E aí tem Gehl Architects. Eles são famosos e respeitados por suas técnicas etnográficas - embora hoje em dia eles pareçam mais focados em master plans e renovações urbanas, e não acho que realmente façam arquitetura. Ou fazem? E mesmo assim, eu teria que assumir que esses arquitetos empregam métodos antigos de observação com exemplos limitados de escalas.
Aparentemente, vocês não abraçaram as oportunidades que a internet tem nos oferecido. Oportunidades como: pesquisa de um grande número de pessoas que usam ferramentas online ou simulação da probabilidade de um espaço comercial realmente ter tráfego de pedestres. Ninguém quer uma série de lojas vazias. Acaba tornando-se um bairro triste. Vocês poderiam utilizar e desenvolver ferramentas que auxiliem a entender se isso vai acontecer. Mas vocês não o fazem.
O mesmo acontece para o resto da profissão. Vamos combinar que a maioria dos edifícios comerciais, hospitais e delegacias de polícia estão abaixo do esperado de um edifício público. E mesmo quando são agradáveis aos olhos, isso não significa que eles foram construídos para atender as necessidades humanas: se não acredita em mim, leia este artigo do New York Times sobre os edifícios de Santiago Calatrava.
Não é de se espantar que a arquitetura se transformou em uma vocação de nicho. Não se relaciona mais com as pessoas.
O problema é que arquitetos parecem seguir as últimas tendências descoladas da linguagem formal. Proponho um desafio: folheiem alguma revista de arquitetura hoje. Encontram alguma pessoa nas fotografias? Imaginei que não. Com certeza encontrarão muitas imagens que idolatram ângulos obtusos ou o encontro de dois materiais.
Posso estar errada. Talvez a profissão tenha crescido e amadurecido enquanto eu não estava olhando e começou a direcionar um olhar mais centrado nas pessoas que vão habitar seus edifícios. Mas o que realmente me deixa perplexa é que a maioria de vocês nunca realizam avaliações pós-ocupação! (Essa eu não consigo superar).
Então se eu estiver errada, me prove. Até que seja provado o contrário, permaneço desapontada.
Você é um estudante ou profissional formado em arquitetura que quer ajudar a entender se arquitetos realmente escutam as pessoas e quais ferramentas e técnicas utilizam para fazer isso? Responda à essa pesquisa.
Christine Outram é uma estrategista de cidades inteligentes centrada nas pessoas, amante da música, e arquiteta responsável pelo projeto da Copenhagen Wheel. Começou sua carreira praticando arquitetura e desenho urbano na Austrália. Desde que mudou para os EUA, é pesquisadora membro do laboratório MIT’s SENSEable City Lab, fundou o grupo de reflexão City Innovation Group, e atualmente é coordenadora-chefe, ou Senior Inventionist' da Deutsch LA.