The Indicator: Uma réplica a "Porque deixei a arquitetura"

O discurso de Christine Outram em “Why I Left the Architecture Profession” (publicado no ArchDaily Brasil como "Porque deixei a arquitetura") é uma tentativa honesta e aparentemente espontânea de demarcar uma posição contra uma profissão "desatualizada". É explosivo em sua afirmação de que "vocês", sendo todos vocês arquitetos, estão fora de alcance. "Vocês" não ouvem seus clientes. "Vocês" estão obcecados com a forma. "Vocês" são máquinas desalmadas, projetadas por modelos de códigos e "copiar e colar", sem preocupação com a humanidade. Seu texto é como uma bomba, espalhando estilhaços em todas as direções. É um ataque que atingiu inocentes. É indelicado e imprudente.

Ele implora para ser desconstruído. Exige um contra ataque. E, julgando pela longa discussão em comentários, foi o que aconteceu. Seja como for, as questões são óbvias. Dizer a arquitetos que eles estão "desatualizados" ou que não ouvem parece uma tentativa calculada de conseguir sua atenção e fazê-los de alguma forma provar a si mesmos, de deixá-los irritados de forma equivalente a sua própria raiva.

Bem, chamou minha atenção. Aqui está minha réplica.

Infelizmente, a visão globalizada de Outram da profissão aparece como uma perspectiva externa, enraizada em uma vaga percepção generalizada do que arquitetos fazem e como trabalham, o tempo todos lhes despindo de capacidade humana de empatia e da habilidade fundamental de escutar. Ainda mais deprimente é que sua solução é que todos nos tornemos mais como Starbucks. Seu argumento foi compreendido e é claro que ela estava apenas usando isto como exemplo, mas ele não valida ou prova suas reivindicações iniciais. 

Ela se apóia, ao contrário, na emoção para provar seu argumento. O suposto abismo que ela identifica entre arquitetos e todo os outros aparentemente causa uma reação de choque, como o som de um mestre Zen quebrando o silêncio. Agora entendemos qual é o problema com a arquitetura! Arquitetos não ouvem e precisam ser mais como etnógrafos. Precisam colocar mais mesas redondas nos espaços para que pessoas solitárias não se sintam sozinhas!

É claro, sabemos muito bem que muitos arquitetos são culpados pelo que ela diz, e não devemos ignorar isto. Mas o mercado e a cultura irão decidir quem fica e quem cai, quem constrói ou cai no esquecimento. Sabemos que há tantas abordagens na arquitetura quanto arquitetos trabalhando. Além disso, a cultura é dividida e controversa quando se trata de valores espaciais e materiais. Assim também são clientes e seus arquitetos. Arquitetura não é monolítica e não deve buscar soluções monolíticas como as que Outram sugere. Uma abordagem etnográfica não é uma cura universal e a arquitetura não deve ser mal interpretada como doença.

Eu vejo “Why I Left” como um reflexo da negativa visão populista da arquitetura. Como se a recessão não fosse o suficiente, arquitetos também precisam constantemente defender a si mesmos de estereótipos negativos criados pela cultura popular. Atacar arquitetos é algo popular. Não vou sequer me preocupar em defender os bons, os arquitetos mestres que de fato ouvem e escutam, que entendem, que não estão "desatualizados". Vocês sabem quem são. Continuem o que estão fazendo. O trabalho fala por si mesmo e seus clientes adoram vocês.

Além disso, pode ser entendido como uma expressão da falha ideológica e intelectual que existe entre o público e a profissão, que arquitetos não estão necessariamente psicologicamente preparados para consertar. Também não é responsabilidade deles. De alguma forma, a estrutura cultural necessária para dar suporte à compreensão da arquitetura foi corroída a tal ponto que acaba sendo definida de formas opostas. Arquitetura versus pessoas. Arquitetura contra arquitetura. Arquitetura contra razão, contra beleza, sentimento, humanidade. Quando se tornou uma disciplina por si só, de alguma forma perdeu a sua reivindicação ao humanismo, banida das humanidades de que fora outrora concebida como parte. Arquitetos não podem necessariamente corrigir estes problemas.

Mas tudo isso soa como desculpa. Pobres arquitetos. Ninguém os entende e eles também não entendem ninguém. Absurdo. Você faz ou não. Você faz bem ou não. É isso.

Quanto a deixar a profissão? Se você deixar a arquitetura, ela vai com você e permanece, sempre, uma parte de quem você é. É mais difícil ficar. Sua arquitetura, se você de fato a faz, é a expressão de quem você é. Mas pode se tornar insuportável quando forças além da sua vontade impedem que se materialize. Na realidade do mercado, atuar de forma a expressar suas crenças e valores centrais pode ser uma luta constante. Não é para todos e nem todos encontram os clientes certos  para transformar seus planos em construções.

Why I Left” termina assim: “Então se eu estiver errada, me prove. Até que seja provado o contrário, permaneço desapontada". Este modesto texto termina com: Vocês não precisam provar nada. Já provam a vocês mesmos e a seus clientes todos os dias.

Para uma análise do papel da compreensão na arquitetura veja o artigo do colaborador do Archdaily Sherin Wing,Architects Who Listen”.

Guy Horton é escritor e vive em Los Angeles. Além de autor de "The Indicator", colabora frequentemente para The Architect's Newspaper, Metropolis Magazine, The Atlantic Cities, e The Huffington Post. Também escreveu para Architectural Record, GOOD Magazine, e Architect Magazine. Você pode ouvir Guy em rádio e podcast como convidado do programa DnA: Design & Architecture em 89.9 FM KCRW de Los Angeles. Siga-o no Twitter @GuyHorton.

Imagem via Shutterstock.com

Sobre este autor
Cita: Horton, Guy. "The Indicator: Uma réplica a "Porque deixei a arquitetura"" [The Indicator: A Rebuttal to "Why I Left the Architecture Profession"] 24 Nov 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Marcon, Naiane) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-154758/the-indicator-uma-replica-a-porque-deixei-a-arquitetura> ISSN 0719-8906

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