Em setembro deste ano o reconhecido fotógrafo de arquitetura, Iwan Baan, fez uma interessante apresentação para o TED. Iwan Baan captura, através de sua câmera, as impressionantes formas como as pessoas configuram seu próprio espaço construído, e suas imagens nos mostram a criatividade e a capacidade de adaptação dos seres humanos ao mundo que nos rodeia.
Desde arquiteturas sofisticadas de renomados arquitetos a habitações artesanais, Iwan Baan se relaciona com o ser humano através de sua capacidade de fotografar a arquitetura e documentar a interação das pessoas em seu interior.
Tal como existem cidades antigas, como Roma, existem também outras novas, como Dubai. Do mesmo modo, existem cidades inteiras projetadas por grandes arquitetos, sobre as quais se sobrepõem novas cidades, desenhadas por seus habitantes que buscam adaptar-se a suas próprias necessidades.
Um dos casos apresentados por Iwan Baan é a cidade de Chandigarh, na Índia, projetada por Le Corbusier:
Agora, 60 anos depois, a cidade está sendo invadida por pessoas com costumes totalmente distintos do que, quiçá, fora a intenção original. Como aqui, onde se vê as pessoas sentadas nas janelas do pavilhão de reuniões.
A apropriação dos espaços por parte das pessoas, uma vez que o arquiteto responsável já não está presente, é parte do interesse de Iwan Baan, que através de um magnífico trabalho fotográfico nos mostra como as pessoas constróem em lugares inesperados.
De uma vista aérea é possível distinguir como cada esquina da capital da Venezuela está coberta por populações e bairros marginalizados. No centro de Caracas, encontra-se a Torre David, um edifício incompleto de 45 pavimentos que estava em construção até o colapso da economia da Venezuela, seguido pelo falecimento de seu empreendedor imobiliário no início dos anos 90. Este edifício construído pela metade foi convertido, durante os últimos oito anos, em um espaço público-privado, onde residem mais de 3.000 pessoas que cada dia entram e saem por uma só porta. O edifício tornou-se uma verdadeira cidade onde seus habitantes encontraram soluções em reposta às diversas necessidades que surgem ao se morar em uma torre de 45 andares inacabada e sem elevadores.
Sem conhecimentos sobre projeto arquitetônico, criaram uma forma única, uma cidade viva, uma micro economia com pequenos negócios e supermercados e, inclusive, cabelereiros. O estacionamento vizinho foi anexado, criando rotas para táxis que facilitam a subida, quanto possível. Com a vantagem de já ter resolvido o problema do teto, as pessoas têm solucionado outras questões como a transparência, a circulação e ventilação, sempre adaptando-se às condições do lugar, criando uma fachada mutante que varia de acordo com as necessidades de cada um.
Iwan Baan explica que quando um novo residente se muda ao edifício marca seu território com lençóis e outros itens que tem em mãos. A seguir tomam decisões de projeto como, por exemplo, se utilizam ladrilhos vermelhos para dividir um espaço e, se não dispuserem da quantidade suficiente, preocupam-se em utilizar um papel de parede que se assemelhe ao material utilizado anteriormente, para formar um espaço visualmente contínuo. Esse é mais que um teto para ele, é um lugar e deve ser bem visto. A Torre conta com todo tipo de serviços, incluindo pequenas indústrias, igrejas e um ginásio no trigésimo pavimento.
No caso de Makoko, na Nigéria, 150 mil pessoas vivem sobre a água, com uma trama de canais que conectam todas as residências. Com sistemas de água, eletricidade e infraestrutura básica, a população de Makoko conseguiu adaptar-se ao lugar convertendo canoas em pequenos negócios e criando um sistema econômico baseado na pesca. O local conta com lojas e, inclusive, salas de cinema, no entanto o espaço público se limita a uma escola pública flutuante de três pavimentos construída no começo deste ano pelo escritório NLÉ Arquitectos. O primeiro pavimento da escola funciona como uma área de jogos no horário das aulas e, durante a tarde, converte-se num espaço de trabalho que responde às necessidades físicas e sociais da comunidade. À noite, Makoko é iluminada, em certos pontos, por uma pequenas fogueiras.
Na cidade do Cairo encontramos um povoado de 50 a 70 mil pessoas chamado Sabeleen. No ano de 1980 um grupo descendente de agricultores decidiu estabelecer-se no lado oriental da cidade do Cairo. Sem planejamento ou qualquer arquiteto, a comunidade, cuja economia baseava-se principalmente na coleta de lixo, construiu edifícios de vários pavimentos. O primeiro nível de cada edificação é utilizado para as atividades relacionadas ao lixo e cada apartamento é distinto ao outro, há desde uma granja para vacas a espaços luxuosamente decorados.
Na província de Shaanxi, na China, 40 milhões de pessoas vivem em casas conhecidas como yaodongs. Seu projeto data da época de bronze da China, na dinastia Xia (2 mil anos a.C.). As habitações, quadradas ou retangulares construídas mediante a técnica de subtração, estão literalmente construídas sete metros abaixo da terra. As habitações têm a capacidade de manter-se frescas no verão e quentes durante o inverno, já que a terra age como isolante térmico. Para a comunidade, esta é a maneira mais lógica de se viver sem dinheiro; sem poder comprar materiais, seu projeto e construção estão intimamente ligados às circunstâncias do ambiente onde vivem.