Este artigo por Chris Knapp, diretor do Built-Environment Practice, foi originalmente publicado como "O Fim da Pré-fabricação". Knapp convoca ao fim da pré-fabricação como uma diretriz de projeto, ressaltando seu fracasso - que dura já um século - em viver sua promessa, bem como a possibilidade oferecida pela mais recente tecnologia de "produzir em massa a singularidade".
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Este artigo não apresenta uma citação exaustiva de cada lacuna na história da pré-fabricação e nem permite muita referência aos poucos sucessos da pré-fabricação na aceitação cultural - Japão e Escandinávia assumem o comando a este respeito. No entanto, dito isto, deve-se refletir sobre esta série de falhas utópicas na evolução da pré-fabricação e se questionar por que os arquitetos não conseguiram capitalizar eficientemente esta técnica.
Pré-fabricação - não há outra palavra no vocabulário da arquitetura que mais erroneamente afirma uma mudança positiva. Por mais de um século, esta estratégia industrial de produção aplicada ao edifício serviu tanto de fonte inesgotável de otimismo para a arquitetura, como de incontáveis decepções. Este é um convite para o fim da pré-fabricação.
No início: O Fim
Como um corpo de profissionais que pululam em torno da disciplina, arquitetos, construtores, empreendedores, críticos e políticos têm usado o termo "pré-fabricação" tantas vezes e de tantas maneiras que sua clareza e foco para a integração bem sucedida foi perdida. Lidando com as melhores maneiras de melhorar a arquitetura através da aplicação verdadeiramente inteligente de técnicas de pré-fabricação, a indústria focou na criação de uma cultura de casas pré-fabricadas e numa estratégia de mídia para promover este efeito, ao invés de fazer o trabalho necessário para impulsionar a técnica. Como a onda verde da sustentabilidade, a pré-fabricação foi reduzida a uma resposta para resolver várias crises de habitação hoje ou para ajudar a apoiar a mercantilização do Modernismo.
Uma história de falsos começos
Ao discutir a pré-fabricação, esta refere-se especificamente a uma habitação construída fora do local, parcialmente ou totalmente. Por definição, o termo identifica uma gama de aplicações para o edifício e para a construção de componentes de qualquer escala, e não apenas de habitação. No entanto, a meta da pré-fabricação se concentrou na habitação desde seu início.
Barry Bergdoll, curador de arquitetura e design no Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque, apresentou a exposição Home Delivery: Fabricating the Modern Dwelling em 2008. O surgimento da pré-fabricação é datado da colonização do século XIX, que, quando combinado com o início da revolução industrial, rendeu processos de pré-fabricação para igrejas de ferro fundido, casas de madeira para a Austrália e Nova Zelândia, e casas de chapas metálicas para as colônias da França, Alemanha e Bélgica. A partir desta época de produção taylorista, que buscou encontrar a eficiência na aplicação de novos materiais para os problemas arquitetônicos (muito para o pesar do arquiteto francês Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc e do teórico Inglês John Ruskin), veio a tentativa moderna de sistematizar as técnicas de fabricação.
Este novo ramo da produção industrial teve um grande apelo para os inovadores, tais como inventor americano Thomas Edison, em sua patente para um tipo de casa de concreto totalmente pré-moldado, por exemplo, e dentro da arquitetura, a estrutura Dom-Ino de Le Corbusier. Relacionado diretamente com o surgimento da produção fordista, seu partido espacial de módulos empilhados poderia ser aplicado à escala da Maison Citroen ou da Ville Radieuse. Ao usar o modelo Dom-Ino, Le Corbusier apenas criou polêmica através da estética da máquina, ou realmente ofereceu algo para habitação que deveria ter continuado para além da década de 1950?
Da mesma forma, Walter Gropius tentou por muitos anos desenvolver uma resposta à produção industrial baseada em "princípios artisticamente unificados" indo além da sua exposição de casas para a Bauhaus de Weimar (1923) e do Weissenhoff Estate em Stuttgart (1927). Gropius construiu muito pouco, apesar de sua posição de influência na direção da Bauhaus e da Universidade de Harvard. Ele, no entanto, estimulou novas experiências nos EUA que se vão desde as casas de madeira compensada de Marcel Breuer até a casa de aço Case Study de 1950 na Califórnia.
O falso início mais impressionantes na história da pré-fabricação é o de R Buckminster Fuller. Para um homem que poderia palestrar durante oito horas seguidas e convincentemente propor uma cúpula geodésica para cobrir a parte baixa de Manhattan, sua pequena produção - construiu apenas algumas poucas de sua Dymaxion e Casas Wichita - causou grande decepção. A resposta de Fuller para as crises habitacionais do pós-guerra, através da tecnologia dos aviões - tanto em termos de materiais (alumínio) e de processos (linhas de montagem) - se aparelha às tentativas de Jean Prouvé, importantes, mas limitadas em habitação, e prenuncia a temática da refabricação da arquitetura do escritório americano Kieran Timberlake, surgida cerca de 50 anos mais tarde.
Contenção de Relevância
Normatização, sistematização, pureza dos materiais e inovação técnica em apoio ao progresso social eram conceitos centrais do movimento moderno, mas, como observado por Mark e Peter Anderson do escritório norte-americano Anderson Anderson Architecture, esses ideais que floresceram em outras indústrias perderam força durante o períodos de desaceleração intelectual da arquitetura no final do século XX. Recuando para debater a contradição composicional ou que o pós-estruturalismo não ajudou a arquitetura a manter-se alinhada às necessidades da sociedade de habitação de qualidade ou engajamento tecnológico. Além disso, os arquitetos passaram nesta mesma época a livrar-se da responsabilidade, abrindo mão do risco, relevância e lucro para os construtores, empreendedores e seguradoras. Enquanto isso, as indústrias automotiva e aeroespacial efetivamente aproveitaram o potencial técnico e comercial da era industrial, resultando em produtos de amplo reconhecimento e valor cultural.
Vale destacar os principais eventos que complicaram ainda mais essa história. Em 16 de maio de 1968, o projeto Ronan Point Flats de Taylor Woodrow no leste de Londres desabou parcialmente devido à insuficiência estrutural das paredes pré-fabricadas que suportavam a torre de 22 pavimentos. A combinação de habitação pública e tecnologia de pré-fabricação em conjunto neste desastre fatal induzido pelo fogo ajudou a concretizar opinião pública na Europa a respeito das deficiências da habitação pré-fabricada. Juntamente com a demolição planejada de Pruitt-Igoe, projeto de Minoru Yamasaki em 1972 e a proliferação de casas pré-fabricadas muito baratas em todo os EUA, não é de admirar que um forte estigma siga a pré-fabricação e a habitação por toda a parte. Nas últimas décadas do século XX, a pré-fabricação chegou a ser comparada à construção de baixa qualidade que não é facilmente personalizada, desejada ou culturalmente significativa.
Adicione a isso o predomínio contínuo das tipologias de habitação pré-fabricadas produzidas por arquitetos que continuam a ser inacessíveis para o consumidor típico e têm vida útil ideterminada. Entre os exemplos recentes, a Casa Celofane de Kieran Timberlake para exposição Home Delivery em 2008, ou a Casa Loblolly, um protótipo que foi construído para uso próprio em 2006. Ambas funcionam como veículos para a retórica da mudança na indústria pré-fabricada, apesar de não fazerem nada para combater os excessos de despesas. A Casa FlatPak de Charlie Lazor é mais um exemplo de inacessibilidade contínua da pré-fabricação. Muito honesto para este dilema, o desenhista da Burst, Jeremy Edmiston, observou que "a pré-fabricação não diz respeito ao controle de custos, mas ao gerenciamento de risco." De fato.
Um final anunciado é o início: a verdadeira perícia do arquiteto
Voltando ao início do século XX, vale a pena apontar algo identificado pelo arquiteto Wes Jones, de Los Angeles, que Le Corbusier aparentemente errou: sua atitude em defender a abstração ao invés da diferença em sua resposta à tecnologia e à mecanização. O legado herdado desta escolha - a linguagem redutora de austeridade formal modernista - se encaixa particularmente bem com a arquitetura pré-fabricada. A economia de meios, redigidos pela estética do pragmatismo produzido ao longo do século passado, alienou as gerações que não se importam com os ideais modernistas. A caixa pré-fabricada e sua referência ao modernismo, ou a eficiência dos containers como casas, limitam a sensibilidade daqueles que desejam mais que abstração e redução à forma geométrica. Os consumidores anseiam individualidade, diferença e especificidade, e no melhor dos casos, eles também anseiam habilidade e atenção para as condições e cultura locais. Em vez disso, a trajetória da pré-fabricação de Corbusier condicionou a sociedade a esperar precisamente o oposto.
O uso da pré-fabricação como uma plataforma para justificar e influenciar a opinião pública deve acabar. Já não ajuda e, de fato, há anos ela não faz nada além de diminuir o apelo e o impacto dos arquitetos no mercado imobiliário. A prova está nos subúrbios das cidades de todas as partes do mundo. Tendo agora ido para além da idade industrial - encontramo-nos totalmente na era da informação - a capacidade de personalização e diferenciação na produção em massa para processos em tempo real, automatizados e digitais nunca foi tão viável. No entanto, a "pré-fabricação" não é um conceito adequado para a disciplina investir. Semelhante a mudança semântica que viu a venda de carros "usados" mudar para "semi-novos", a arquitetura precisa colocar a mesma tática em jogo e acabar com a "pré-fabricação". É um anacronismo conceitual e semântico.
O conceito e a prática de fabricar elementos arquitetônicos - em parte ou totalmente - em condições separadas das contingências do canteiro de obras é agora mais importante e relevante para obter eficácia como profissão do que jamais fora. Arquitetos devem continuar a pré-construir fora do local, fora das intempéries e da maneira mais inteligente possível. Isso deve incluir treliças, painéis isolantes, divisórias e conceitos de modulação, mas o resultado deve ser considerado, promovido e implementado com maior sofisticação. Já não é mais suficiente se apropriar de containers ou contentar-se com um projeto modular. Mais do mesmo é apenas mais do mesmo. Ferramentas de hoje - tanto softwares quanto hardwares - permitem a capacidade de conceber, desenvolver, avaliar, coordenar, desenvolver e distribuir um trabalho significativo.
O projeto Casa Embrião, de Greg Lynn (1997-2002), enquanto não edificado, define uma proposição que é propícia para o desenvolvimento na era pós-pré-fabricada: fazer com que as habitações individuais nunca se repitam, usando processos automatizados eficientes, que consomem recursos e materiais a partir de um circuito fechado. Tal projeto pode incorporar especificidades locais e culturais, mantendo a identidade em um sistema global de fluxos de capitais.
Além da percepção espacial, a inteligência do arquiteto sempre foi a capacidade de sintetizar e integrar. A produção em massa é a esfera do designer industrial e do engenheiro de produção - então, deixemo-los no domínio deste território. Encontrar a solução é que é a verdadeira especialidade do arquiteto, e a profissão contemporânea proporciona mais facilidade do que nunca para implementar a diferença através das formas mais inteligentes.
A Australian Design Review é uma revista online de design que representa duas revistas impressas: Architectural Review Asia Pacific, e a revista de design de interiores Inside.