Durante os últimos três séculos, a comunidade Musgum (ou Mousgoum) tem habitado as planícies da fronteira norte dos Camarões. Suas casas, chamadas em seu idioma de Tolek, foram conhecidas pelo ocidente na década de 1850, quando o explorador alemão Heinrich Barth viajou ao centro e norte da África.
As comunidades são compostas por até 15 cúpulas de terra compactada, cada uma com uma função diferente e determinada pela necessidade do grupo familiar. Apesar de não parecerem viáveis no tecnológico e "avançado" mundo de hoje, as casas Musgum nos apresentam um grande exemplo de arquitetura sustentável, simplesmente por cumprir perfeitamente sua "tarefa": sem adornos nem excessos, respondem com exatidão às necessidades de seus usuários e aproveitam ao máximo o principal material disponível na região.
O que podemos resgatar deste exemplo? Veja, a seguir, os desenhos, composição espacial e imagens deste exemplo de arquitetura vernacular.
Por muitos anos pensou-se que as casas Tolek haviam desaparecido totalmente, já que em 1930 o colonialismo francês ocupou a região, gerando mudanças nas estruturas sociais, o surgimento de doenças e a emigração de muitos habitantes locais. Porém, estas construções resistiram, e o turismo desempenhou um papel fundamental na popularidade destas nos anos 90, com o investimento da agência de desenvolvimento americana USAID. Foi assim que estas casas começaram a reaparecer, aumentando em número e resgatando um passado cultural de grande valor arquitetônico.
Tradicionalmente, as casas Musgum têm uma implantação peculiar, com a unidade do pai situada na parte mais importante e as unidades dos demais familiares ao redor. Esta configuração é o resultado dos objetivos e necessidades do grupo unificado. As construções de agrupam em um círculo composto por até quinze casas e um muro que as envolve, indicando que todas pertencem à mesma família.
Nem todas as casas têm o mesmo tamanho, já que isto depende totalmente de sua função. O espaço entre as casas também tem uma finalidade específica: uma área para o gado, para as brincadeiras das crianças e para os conselhos familiares.
Suas fachadas contam com diferentes padrões geométricos e seguem a forma de uma grande concha, com a porta em destaque, marcando realmente a entrada da casa. Apesar de não ter fundações sua estrutura é muito sólida: as paredes mais grossas se localizam no embasamento e as mais finas na parte superior, assegurando sua resistência estrutural.
Suas paredes apresentam texturas bastante acentuadas, o que permite identificar as unidades através dos diferentes tipos de "ranhuras" que funcionam, também, para a drenagem da água. Estas "ranhuras" permitem que seus habitantes subam no alto das cúpulas para realizar sua manutenção. A parte superior das casas têm uma abertura que permite a circulação de ar.
As casas Musgum se encontram nas planícies de Camarões e em algumas regiões do Chade, onde madeira e pedra não estão disponíveis. É por isso que se usa a terra artesanal, que não necessita de formas para sua aplicação. O uso deste material nas paredes espessas não apenas mantém a casa em uma temperatura amena, como também é um método construtivo de baixa emissão de CO2.
O tipo de terra, sua preparação e a quantidade de água necessária são apenas conhecidas pelos construtores locais. Apesar de ser um processo bastante lento, esta técnica apresenta a ventagem de utilizar pouquíssimas ferramentas e uma mão de obra mínima. Lamentavelmente, a maior parte deste conhecimento se perdeu nos últimos anos com a ilusão do "desenvolvimento moderno", porém, espera-se que estes conhecimentos sejam resgatadas com o interesse que estas técnicas têm gerado no eco-turismo.
Referência: Architecture in Development / Imagens via Panoramio, usuários: Patrick Lapierre / Maremagna; Via Flickr, usuário bilou
* Saiba mais sobre construção com terra aqui.