O que a arquitetura pode aprender com Zappos? Sim, todos nós já ouvimos falar sobre cafés veganos, salas de yoga, jogar jogos de guerra e usar Crocs dentro do escritório, mas - mais importante - Zappos está transformando a cultura de escritório de forma vasta e significativa: põe um fim na hierarquia da equipe.
De acordo com o The Washington Post, Zappos é a maior companhia a ter adotado o princípio da Holocracy, a ideologia do empresário de software que se tornou guru de gerenciamente, Brian Roberston. Guru seria a palavra certa pois, à primeira vista, e talvez à segunda ou terceira, a Holocracy surge de algo parecido como um culto, embora um culto de gestão de negócios. Isso me assusta um pouco, mas tendo olhado através da página deles, eu me sinto um pouco melhor agora.
Em uma Holocracy, autoridade e responsabilidade são distribuídos através de uma organização de uma forma mais focada ao objetivo. Como dizem, "Todos se tornam um líder de suas funções e um seguidor de outras." Ainda não faz sentido? Hierarquias antigas que dependem dos "líderes" no topo, "seguidores" na base, e "gerentes" no meio são eliminadas completamente. Logo, não há mais "chefes". Não há mais "funcionários". Não existem mais "projetista júnior" ou "projetista sênior".
Isto tudo é substituído por "círculos", "aglomerados", "próximas ações" e regras de "administração" bastante detalhadas e baseadas em "tomadas de decisões integradas". Isso não é simplesmente uma ausência de hierarquia ou a substituição de topo-base por base-topo. É algo que navega entre os dois com uma fluidez constante e flexibilidade baseada nos objetivos e tarefas.
O termo vem do grego holon, que significa um todo dentro de um todo ainda maior, ou algo que é simultaneamente uma parte e um todo. Parece como algo que contém alguns elementos encontrados dentro das operações de um escritório de arquitetura, mas um olhar em sua constituição revela que isso vai muito além. Sim. Existe uma constituição da Holocracy e ela diz...na verdade é bem complexo, então, não importa agora. O principal é que isso redefine organizações estruturadas outrora verticalmente em "pequenas vilas" onde "todos participam, todos são responsáveis por solucionar o próximo problema ou apagar a próxima fogueira," diz Nancy Koehn, da Harvard Business School.
A Holocracy procura transformar a profunda estrutura das interações e comportamentos dos escritórios. Deve ser aprendida como um sistema completo (requer treinamento!) e todos devem aderir para que funcione. Eu espero que existam psicólogos e sociólogos na Zappos que estejam de olho em como isso está para que possamos ter dados. Eu acredito que os relatórios de lucro trimestral também dirão como isto está funcionando.
Além da Zappos, algumas empresas de tecnologia, incluindo a Medium, a plataforma de publicação estabelecida pelo co-fundador do Twitter Evan Williams, tem adotado o modelo da Holocracy. Isso pode fazer sentido para companhias novas que foram fundadas em estruturas organizacionais mais abertas que tendem a favorecer escritórios de espaços abertos, mas poderia funcionar em escritórios de arquitetura? Quem será o primeiro a tentar?
Mas e se um dos maiores escritórios do planeta, Gensler, digamos, se comprometesse a isto? Arriscado? Talvez mas não completamente, porque é possível que a arquitetura já esteja atuando dentro do domínio do modelo da Holocracy quando se trata do comportamento de equipe. Funções no estúdio podem ser distribuídas com responsabilidade compartilhada para alcançar resultados. Membros do estúdio potem também delegar elementos específicos de projeto de acordo com experiência e perícia. Organizacionalmente, entretanto, tomada de decisões e autoridade ainda continuam funcionando baseadas em categorias e títulos.
Quais seriam então as implicações de eliminar completamente títulos como projetista principal, projetista chefe, gerente de projeto, projetista associado entre outros? Gerentes de projeto ainda gerenciariam projetos mas eles não precisariam se chamar mais por esse nome. Mais importante, eles não estariam limitados a definir tarefas associadas a esse título. Funções e tarefas seriam, em teoria, designadas de forma mais fluida. Poderia isso contribuir para equipes que respondam mais agilmente e escritórios mais eficientes? Levaria a uma melhor arquitetura e um melhores locais de trabalho?
Guy Horton é um escritor de Los Angeles. Além de autor do “The Indicator”, ele é um frequente contribuidor de The Architect’s Newspaper, Metropolis Magazine, The Atlantic Cities, e The Huffington Post. Também escreveu para Architectural Record, GOOD Magazine, e Architect Magazine. Siga Guy no Twitter @GuyHorton.
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