Poesia e Arquitetura: Possessão do ontem / Jorge Luis Borges

Sei que perdi tantas coisas que não poderia contá-las
e que essas perdições, agora, são o que é meu.
Sei que perdi o amarelo e o negro
e penso nessas impossíveis cores
como não pensam os que veem.

Meu pai morreu e está sempre ao meu lado.
Quando quero escandir versos de Swinburne,
o faço, me dizem, com sua voz.
Só o que morreu é nosso,
só é nosso o que perdemos.

Ílion foi, porém Ílion perdura no hexâmetro que a plange.
Israel foi quando era uma antiga nostalgia.
Todo poema, com o tempo, é uma elegia.

Nossas são as mulheres que nos deixaram,
já não sujeitos à véspera, que é soçobra,
e aos alarmes e terrores da esperança.

Não há outros paraísos que os paraísos perdidos.

 

© Tradução: Igor Fracalossi.

Sobre este autor
Cita: Igor Fracalossi. "Poesia e Arquitetura: Possessão do ontem / Jorge Luis Borges" 05 Jun 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-52097/poesia-e-arquitetura-possessao-do-ontem-jorge-luis-borges> ISSN 0719-8906

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