Quero me perder por falta de caminhos. Sinto ânsia de me perder definitivamente, não já no mundo nem na moral, senão na vida e por obra da vida. Odeio as ruas e as sendas, que não permitem se perder. A cidade e o campo são assim. Não é possível neles a perda, que não a perdição, de um espírito. No campo e na cidade, se está demasiado assistido de rotas, setas e sinais, para poder se perder. Se está ali indefectivelmente limitado, ao norte, ao sul, ao leste, ao oeste. Se está ali irremediavelmente situado. Ao invés do que ocorreu a Wilde, na manhã que ia morrer em Paris, me ocorre na cidade amanhecer sempre rodeado de tudo, do pente, da barra de sabão, de tudo. Amanheço no mundo e com o mundo, em mim mesmo e comigo mesmo. Chamo e inevitavelmente me respondem e se ouve minha chamada. Saio à rua e há rua. Me ponho a pensar e há sempre pensamento. Isto é desesperante.
© Da tradução: Igor Fracalossi
Referência: VALLEJO, César. “Contra el secreto profesional”, em: Poemas en prosa, 1975.