Como designer, arquiteta, artista e criadora do Grupo Mediated Matter no MIT's Lab, Neri Oxman tem dedicado sua carreira a explorar como o projeto digital e tecnologias de fabricação podem mediar entre a matéria e o ambiente para evoluir radicalmente a nossa forma de projetar e construir o mundo. Neste artigo, publicado pela CNN, Oxman discute o futuro da impressão em 3 dimensões de edifícios com cinco princípios de um novo tipo de arquitetura.
No futuro, imprimiremos tecido ósseo 3D, criaremos cadeiras que respirem e construiremos edifícios pela eclosão de multidões de pequenos robôs. O futuro é mais próximo que pensamos; de fato, versões disto já existem em nosso meio.
No centro destas visões está o desejo de potencializar nossos corpos e as coisas ao nosso redor com uma inteligência que aprofunda os relacionamentos entre os objetos que usamos e que habitamos, nosso entorno: uma Ecologia Material.
Um novo modelo de mundo tem emergido através das últimas décadas: o Mundo como Organismo. Este novo modelo inspira um desejo de instituir inteligência nos objetos, edifícios e cidades. É um mundo que permanece em contraste com o paradigma da Revolução Industrial: o Mundo como Máquina.
Enquanto acredito que o novo modelo tornar-se-á, eventualmente, o novo paradigma, ele coexiste por enquanto com o modelo antigo: nossas mentes já estão acostumadas com estas novas visões de mundo, mas ainda empregamos as práticas construtivas e tradições projetuais inerentes da era industrial.
Por exemplo, os edifícios atuais são construídos de partes modulares e componentes produzidos em massa e intercambiáveis. Uma peça de mobiliário pode facilmente ser substituída por um kit de partes prontas-para-montar, enquanto uma raiz de um dente ou osso pode ser trocado por um implante de titânio.
Este modelo na realidade funciona do mesmo modo que uma máquina, onde partes transpostas criam o todo. Máquinas de designs maravilhosos foram criados dessa forma, como carros, aviões e edificações metálicas (a homenagem de Le Corbusier para a indústria moderna, moldando a entrada da garagem da Villa Savoye usando o raio de giro exato de um Citroen 1927 vem à mente.)
Mas estas complexas máquinas são um reflexo verdadeiro de como a natureza funciona? Não acredito que seja. A nova sensibilidade que enxerga o mundo como um organismo desafia-nos completamente em novas formas de propor maneiras inovativas de pensar. O Mundo-como-Organismo implica em um contínuo sistema de viver onde o todo é maior que a soma das partes, e as partes podem crescer sobre outras partes. Parafraseando Goethe: "Tudo são folhas".
Neste espírito, tento caracterizar essa mudança esboçando uma crença projetual em cinco princípios.
1. Crescimento sobre Montagem
Em contraste com a produção industrial e a lógica das linhas de montagem, a natureza cria coisas. Pense nos nossos ossos e na sua suave transição entre sólidos para tecidos esponjosos, de ossos em tendões, ligamentos e músculos.
Ou considere uma árvore. É constituída por um sistema de raízes que transforma em um tronco, que por sua vez, desdobra-se em ramos e folhas, flores e frutos, todas, tudo pela forma de diferenciar as suas células e prescrevendo funções diferentes para cada entidade: raízes e tronco são o suporte estrutural, folhas de convertem luz em açúcar, frutas dão a vida. Estamos aprendendo com as árvores como criar edifícios.
Consideramos que a próxima geração imprimirá não só em 3D, mas em 4D - em outras palavras, no futuro seremos capazes de imprimir objetos que possam responder aos seus usuários, adaptar-se ao seus meios e até crescer de após o tempo que foram impressos.
2. Integração sobre Segregação
A fachada de um edifício típico, tal como o corpo de armadura típica, é composta de partes discretas que preenchem funções distintas. Materiais rígidos fornecem uma concha protetora, materiais macios proporcionam conforto e isolamento, e - em edifícios - materiais transparentes fornecem conexão com o meio ambiente. Em contraste, a pele humana utiliza mais ou menos as mesmas constituições materiais para as funções de barreira (pequenos poros, pele grossa nas costas) e funções de filtragem (poros dilatados, pele fina na nossa face).
Funções de barreira e filtragem são integradas em um único sistema material que pode a certo ponto responder e adaptar-se ao meio ambiente. Por que razão a pele de uma edificação deve ser diferente? Estamos considerando maneiras de imprimir fachadas que podem respirar, cujos poros também contraem e expandem em relação ao entorno.
3. Heterogeneidade sobre Homogeneidade
Produtos industriais são tipicamente feitos por um único material ou por uma montagem de alguns materiais. Carros são feitos de folhas de metal, aviões de compostos, e edifícios de concreto e aço. Em contraste, homogeneidade é algo que nunca será achado no mundo natural. Pegue o osso novamente. Ele é feito de cálcio, que varia sua distribuição de acordo com a carga exercida sobre ele. Inspirado pelo osso, estamos explorando maneiras de controlar a distribuição espacial de materiais construtivos, como concreto, para achar uma forma inteligente.
4. Diferença sobre Repetição
Produtos industriais gerados por máquinas fazem-nos consistir em partes repetidas com propriedades idênticas. Na natureza, entretanto, a repetição existe somente através da variação e diferença, e toda unidade celular é única: é devido à variação das organizações celulares do osso que podemos concebê-lo pelas organizações celulares. Compreender diferenças permite-nos projetar sistemas repetitivos - como tecido ósseo - que pode variar suas propriedades de acordo com as condicionantes ambientais
5. Material é o novo Software
Nossa habilidade de projetar e fabricar materiais inteligentes não irá mais depender em remendar materiais com eletrônicos, mas na nossa habilidade em tornar o próprio material um software. Pêlos de animais, uma fonte primária de isolamento, é um bom exemplo.
Ele reponde a baixas temperaturas fazendo com que o cabelo arrepie-se, formando uma camada de retenção de calor sobre a pele. Esta função de detecção é localizada, distribuída e controlada por tecido muscular. Inspira-nos a incorporar material com inteligência distribuída em vez de anexá-lo a uma chave liga-desliga.
Beleza Além da Utilidade
Beleza não é o número 6 na crença descrito acima. É o espírito que permeia a vida em tudo.
Com isto quero dizer que há mais para impressão de ossos ou dobrar chapas para carros que o endosso do design sustentável. Tornar as coisas mais eficientes, rápidas e baratas ao tempo não é inteiramente o ponto aqui. Na verdade, na maioria dos casos, a busca da beleza máxima vai se traduzir em criações de maior eficiência, revelando a ordem da natureza.
Proponho que a aprendizagem da Natureza, como entendido por Leonardo Da Vinci ("... porque em suas [na Natureza] invenções nada está faltando, e nada é supérfluo"), trará eficiência e sustentabilidade como subprodutos. Não é uma questão de se render a à beleza no design: mais do que muitas vezes percebemos que eles são indissociáveis.
Sim, há mais para o futuro do que edifícios impressos ou cadeiras que crescem. Em vez disso, o futuro está em questionar o que é uma estrutura habitável. Quando consideramos a impressão de concreto com densidade variável como em ossos, não queremos dizer para fazer isso simplesmente para reproduzir os mesmos edifícios antigos.
Essas tecnologias vão nos permitir criar edifícios que são totalmente diferentes dos que que habitamos hoje: edifícios que responderão a todas as necessidades físicas e espirituais. Em outras palavras, o objetivo da impressão de edifícios não é uma questão de derramar "vinho novo em velhos odres", mas voltar a conceber a questão de criar habitat e formas de expressão.
Novas tecnologias virão com o tempo, como sempre foi ao longo da história. Impressões 3D darão lugar às 4D e isto, por sua vez, sera substituído por um crescimento sintético, e assim por diante. Para mim, o que vai perdurar para além da tecnologia-da-época é o paradigma do Mundo-Como-Organismo. Não há nada de novo sob o sol, declarou Ecclesiasts.
Civilizações antigas também percebiam o mundo como um organismo. No entanto, há novidade debaixo do sol, em vez de imitar a natureza, podemos agora realmente projetar a Natureza.
Escrito por Neri Oxman.
Para mais sobre o assunto, veja: How 3D Printing Will Change Our World (Part 1) e (Part 2).