The Indicator: Em um dia limpo você pode quase ver Pequim

© Jason Lee for Reuters via theatlantic.com

Eu me lembro da neblina em Pequim criando os mais belos céus. Havia uma espécie de inocência na poluição naquela época, antes dos motores do desenvolvimento econômico engrenassem.

Era somente um belo pôr-do-sol, ou uma névoa marrom delicada que romanticamente amaciava os limites de tudo – enquanto destruía seus pulmões, é claro. Porém, assim como as tempestades de areia, a poluição deu à cidade uma qualidade distinta e rarefeita.

© Gilles Sabrie for The New York Times. Coal mounds in Gobi, Mongolia

Havia também menos disto – menos poluição e menos cidade. Pequim, como a maioria das cidades chinesas, era muito menor a dez anos atrás; com menos edifícios; caminhões sujos levantavam fumaça em direção aos canteiros de obras. A maioria da população não possuía carros. As coisas estavam apenas começando.

A maneira como a neblina de Pequim está sendo escrita hoje me faz lembrar da “zoohemic canopy” de Lars Lerup, descrita em seu livro “After the City”. O autor descreve a atmosfera de Houston como uma parte intrínseca ao caráter da cidade.

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Porém a cobertura(canopy) descrita por Lerup é benigna, passiva e até bela, uma bolha amiga gigante que forma outro nível de vida. E não algo conjurado pela bruta ambição econômica e nacionalismo imprudente, como é encontrado no ar apocalíptico chinês. A impacto da cobertura de Lerup era mais climático do que um subproduto tóxico.

© Chinese artist Ai Weiwei via guardian.co.uk

A neblina de Pequim chega ao seu piro nível de poluição no inverno, quando a cidade fuma carvão como cigarros para manter o aquecimento.

Quando vivi lá, está “névoa” certamente gerou preocupação quando surgiu, porém não era ainda um problema internacional ou uma medida do progresso. Durante as últimas semanas, a qualidade doar de Pequim se tornou um espectro da atual frenesi chinesa de desenvolvimento -  uma trajetória econômica que nós do ocidente somos completamente cúmplices. Os motores chineses estão a trabalhando para nossos Walmarts e iPads, nossos destinos econômicos entrelaçados.

© China Chas, Flickr via marketplace.org

Parte do sonho ocidental para a China é que foi definido por um passado bondoso, mas não pela força econômica contemporânea. Apesar de dependermos, estamos menos despreocupados com esta China. Ela tem sido nosso maior e mais necessário domínio de outrem, ajudando a alavancar noções populares de contemporaneidade institucional e superioridade cultural. Porém esta alegoria tornou-se instável com o crescimento chinês, e agora poluindo com o melhor de nós.

© Jianan Yu Reuters via nytimes.com

Desta maneira, a poluição atmosférica tornou-se gigante bege ameaçador de nossa xenofobia. Quanto mais a China poluí, mais projeta seu poder, tornando sua poluição em um índice de agressão inesperado e acidental. A China espalha sua neblina do mesmo modo como seu dinheiro e pessoas. Em 2008 houve um temor de que a névoa tóxica chinesa pudesse atingir a Europa. Naquele ano, o mundo também observou se a qualidade atmosférica seria suficiente para a cidade receber os Jogos Olímpicos. 

© Reuters via uk.news.yahoo.com

Houveram dias nas ultimas semanas que o Índice de Qualidade Atmosférica (AQI - Air Quality Index). Em alguns distritos de Pequim relataram um nível acima de 900. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde – ONU) este nível de qualidade pode, potencialmente, diminuir a expectativa de vida em cinco anos. Logo, vocês em Pequim: Vocês tiveram cinco anos roubados de suas vidas.

© Via chinadaily.com

Em quase todo o mundo, 40% da produção de energia é utilizado carvão (nos EUA chega a 42%), enquanto na China 79% da energia é produzida com carvão. Além disso, segundo o relatório especial do New York Times, para lidar com a demanda crescente a China ira instalar cerca de 160 novas plantas de energia baseadas em carvão nos próximos quatro anos. Carvão ainda é rei... e imperador também, e será por um bom tempo.

Sobre este autor
Cita: Jordana, Sebastian. "The Indicator: Em um dia limpo você pode quase ver Pequim" [The Indicator: On a Clear Day You can Almost See Beijing] 09 Fev 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Britto, Fernanda) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-96655/the-indicator-em-um-dia-limpo-voce-pode-quase-ver-pequim> ISSN 0719-8906

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