O Instituto Real de Arquitetos Britânicos (RIBA) anunciou que a professora Yasmeen Lari, primeira arquiteta do Paquistão, receberá a Medalha de Ouro Real de 2023 em arquitetura. O prêmio, uma das maiores honrarias da arquitetura e a primeira a ser pessoalmente aprovada pelo Rei Charles III, reconhece o trabalho de Yasmeen Lari em defender conceitos de construção de emissão zero de carbono para populações deslocadas. A Medalha de Ouro Real será oficialmente entregue a Yasmeen Lari em junho de 2023.
Yasmeen Lari é uma das vozes mais poderosas na arquitetura no Paquistão devido ao impacto de seu trabalho em arquitetura humanitária. Seus projetos abordam questões de desmatamento, poluição e os riscos à saúde enfrentados pelas mulheres em áreas rurais, respondendo às suas necessidades de maneira sistêmica com atenção ao local. Desde sua aposentadoria oficial em 2000, sua atenção se voltou para a criação de soluções acessíveis e ecologicamente corretas e técnicas de construção para ajudar pessoas que estão abaixo da linha da pobreza e aquelas deslocadas por desastres naturais, como as devastadoras enchentes que cobriram um terço do país em 2022. Em 1980, cofundou a Fundação do Patrimônio do Paquistão com seu marido, Suhail Zaheer Lari, pioneira no projeto de abrigos e moradias autossuficientes e sustentáveis, fáceis de implantar em caso de crise. Desde então, ajudou a construir mais de 36 mil casas para vítimas de enchentes e terremotos em seu país, estruturas que resistiram a desastres naturais posteriores.
Lari também projetou uma versão de um Chulah paquistanês, um fogão externo para substituir outros métodos de cozimento menos seguros usados por mulheres no sul da Ásia, que regularmente as expunham a queimaduras, incêndios e problemas respiratórios. Usando seu conhecimento de design e técnicas locais de construção, desenvolveu um fogão de baixo custo que não produz fumaça, feito de argila, que protege tanto as mulheres quanto o meio ambiente. Uma plataforma elevada de tijolos também ajuda a proteger a instalação de enchentes e proporciona uma estação de trabalho mais higiênica e ventilada.
Fiquei muito surpresa ao ouvir esta notícia e, é claro, totalmente encantada! Nunca imaginei que, ao me concentrar nas pessoas mais marginalizadas do meu país — aventurando-me por caminhos nômades inexplorados — ainda pudesse ser considerada para a mais alta das honrarias na profissão da arquitetura. — Yasmeen Lari
Nascida em 1941 no Paquistão, Yasmeen Lari mudou-se para Londres com sua família aos 15 anos, onde estudou arte antes de ser aceita na Escola de Arquitetura da Oxford Brookes University, então Oxford Polytechnic. Aos 23 anos, retornou ao Paquistão com seu marido para estabelecer seu escritório de arquitetura, a Lari Associates. O trabalho do escritório inclui projetos para importantes instituições governamentais, empresariais e financeiras. Em 2020, Lari se aposentou do escritório, concentrando-se exclusivamente no trabalho humanitário e conquistando reconhecimento internacional. Através de seu trabalho, Yasmeen Lari tem como objetivo democratizar a arquitetura e incentivar os profissionais a resolverem questões sociais urgentes com suas habilidades de design, independentemente da causa. Em 2020, Yasmeen Lari recebeu o Prêmio Jane Drew por seu extenso trabalho humanitário ao longo das últimas duas décadas.
Foi uma honra presidir o comitê que selecionou Yasmeen Lari. Uma figura inspiradora que passou de um grande escritório voltado às necessidades de clientes internacionais para focar exclusivamente em causas humanitárias. A missão de Lari durante sua "segunda" carreira empoderou o povo do Paquistão por meio da arquitetura, envolvendo usuários no design e produção. Ela nos mostra como a arquitetura pode mudar vidas para melhor.
O trabalho de Lari ao defender construções com zero emissão de carbono e resíduos é exemplar. Ela reagiu de forma imaginativa e criativa, desenvolvendo projetos acessíveis que abordam a necessidade real e muitas vezes urgente de acomodação e serviços básicos, mas com generosidade e um olhar para o potencial de materiais e artesanato cotidianos, fazendo uma arquitetura de várias escalas. Sua forma de trabalhar também visa abordar os danos físicos e psicológicos causados por grandes desastres naturais — desastres que infelizmente serão cada vez mais comuns em nosso planeta densamente povoado e frequentemente desafiado pelo clima. — Simon Allford, Presidente do RIBA.
A escolha reflete a nova direção do RIBA, voltada a produções arquitetônicas que não lidam apenas com os privilegiados, mas que se preocupam com a humanidade e aqueles que sofrem com desigualdades, conflitos e mudanças climáticas. Os vencedores anteriores da Royal Gold Medal incluem Balkrishna Doshi em 2022, reconhecido por seus projetos visionários de planejamento urbano e habitação social, combinando o modernismo com o vernacular indiano, e Sir David Adjaye em 2021, por suas intervenções inovadoras, que vão desde casas particulares, exposições e design de móveis até grandes edifícios culturais e planos diretores da cidade.
Via RIBA.