Um eixo estrutural da cidade por onde passam milhares de pessoas, metrô, ônibus, carros e bicicletas diariamente. Edifícios de altos gabaritos, centros culturais, bancos e shoppings. Símbolo da cidade de São Paulo, a Avenida Paulista já teve uma imagem muito diferente desta. Por mais difícil que seja imaginar, ela já foi ocupada por grandes casarões, dos mais distintos estilos, e teve o seu destino alterado em poucos dias por questões patrimoniais e… uma pizza.
Esta história é apresentada pelo podcast da Rádio Novelo. No segundo ato do episódio 23, O casarão e a pizza, Vitor Hugo Brandalise narra a história que alterou a paisagem da avenida mais conhecida da capital paulista. Inspirado pela lenda que escutou de um amigo sobre como todos os casarões realizados na época do café foram demolidos numa mesma noite na década de 70 ou 80, o jornalista entrevista João Carlos Martins, hoje maestro, mas que foi secretário da cultura do Estado de São Paulo na época que toda a história se sucedeu, para compreender melhor o episódio.
Em 1982, ainda haviam 31 casarões construídos pelos senhores cafeeiros na Avenida Paulista. A Secretaria de Cultura do município, que contava com o renomado geógrafo Aziz Ab'Saber como conselheiro do Órgão de Patrimônio Paulista, tinha como plano tombar e preservar alguns destes edifícios — que apresentavam influências da arquitetura clássica, neoclássica, francesa, inglesa e árabe — para manter presente a memória da época do café. Tal plano vazou no jornal dez dias antes da finalização dos estudos para realização e anúncio oficial do projeto, causando alvoroço entre os proprietários de tais mansões. Afinal, conservar um imóvel significava a impossibilidade de negociar o terreno para futuros empreendimentos. Em outras palavras: perder dinheiro.
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Avenida Paulista através de seus antigos casarõesDesta forma, na calada da noite de um domingo, tratores invadiram a Avenida Paulista e começaram a demolir três casarões, sendo que dois deles eram relevantes para o patrimônio. Ninguém chegou a tempo de salvá-los, mas a tragédia levou a uma fiscalização de 24 horas por dia, realizada pela própria secretaria e os policiais, para garantir que o patrimônio fosse salvo até o anúncio dos tombamentos. Faltando três dias para a divulgação da lista, o secretário João Carlos Martins celebrava o fato de nenhuma outra intervenção ter ocorrido. No final de um de seus turnos pela madrugada, resolveu descer até a Bela Vista para comer uma pizza. Decisão crucial que, sem perceber, causou a destruição da Casa Mourisca - um palacete de arquitetura neo-islâmica e considerado o mais belo por parte da população - que abriu uma nova fase para a transformação da paisagem na avenida.
Vale a pena escutar toda a história, com mais detalhes, abaixo:
As imagens que ilustram esta matéria são de Domínio Público e pertencem ao Acervo do IMS, elas retratam a Avenida Paulista nas primeiras décadas do século XX. Você pode ver imagens das décadas citadas pela reportagem e saber mais sobre a história da Av. Paulista aqui e conhecer alguns dos casarões e por quais edifícios eles foram substituídos aqui.
Fonte: Rádio Novelo.