Entroncamentos rodoviários evoluíram de infraestruturas para distribuir o tráfego a marcos que definem e rasgam a paisagem das cidades. Essas intersecções envolvem viadutos, rotatórias e pontes, podendo ter muitos níveis. Elas se torcem, viram e fazem voltas, criando áreas vazias entre as pistas e em seus baixios. Esses espaços podem ser vistos como liminares e de transição, sem um uso específico. Na sua imprecisão, contudo, podem ser transformados em lugares mais amigáveis à escala humana, voltando a fazer parte dos tecidos urbanos.
Ao considerar suas possibilidades espaciais, é importante pensar para além de usos fixos e específicos. Esses espaços podem receber eventos que ocorrem sob a proteção de pontes, por exemplo. Ou, ainda, intervenções urbanas podem ser pensadas de modo a ampliar o potencial dessas imponentes infraestruturas.
Alguns exemplos de intervenções incluem parques públicos, espaços com estruturas de arte interativas, abrigos para outras formas de transporte, mercados, livrarias e espaços para eventos. Muitos projetos já exploraram esses espaços e outras áreas liminares, veja alguns a seguir:
Torino Stratosferica transforma trilho de bondes abandonado em parque urbano
O projeto recupera uma faixa de 800 metros de comprimento no centro do Corso Gabetti e da Ponte Regina Margherita em Turim, que havia sido abandonada. Ele utiliza elementos como estruturas de contêineres, bancos de madeira e uma paleta de cores amarela para convidar as pessoas a utilizarem o espaço de vegetação. Projetos como o Burnside Skatepark em Portland e o Lynch Family Skatepark em Boston são outros exemplos que apontam para explorações criativas que podem ativar esses espaços residuais.
Green Square/ Urban Interventions + Vallo Sadovský Architects
Essa intervenção urbana explora o potencial dos baixios das intersecções rodoviárias como abrigos e terminais de ônibus. Conta com uma pintura de 1.000 m² que transforma a atmosfera sob a rodovia. A intervenção tem como objetivo destacar o ambiente disfuncional do espaço inferior. Outros projetos, como o Chicano Park em San Diego, The Underline em Miami, Underpass Art Park em Washington DC, Underground Ink Block em Boston e o Sabine Promenade em Houston, são exemplos de explorações que utilizam a parte inferior das intersecções rodoviárias como espaços para esculturas de arte interativas e eventos.
À medida que a dependência de carros aumenta no sul global e mais intersecções rodoviárias são construídas para acompanhar o crescimento, surgem oportunidades para repensar os espaços residuais criados por essas estruturas. Na maioria das cidades africanas, eles fornecem abrigo e uma plataforma para arquitetura informal. Isso inclui comércio, espaços para oração, restaurantes e outras formas de espaços públicos auxiliares.
Warwick Triangle, Durban, África do Sul
A intervenção artística de Faith47 no cruzamento rodoviário Warwick Triangle celebra o comércio informal como uma forma de amplificar o espaço. Murais de com o retrato de comerciantes da área foram pintados na parte inferior da rodovia para homenagear o comércio de rua . Essa intervenção atrai comerciantes e clientes que se identificam com ela, que utilizam o espaço para diversos fins, como mercado e terminal de ônibus. Nas palavras da artista:
A arte em espaços públicos cria uma lacuna visual para se respirar; nada está sendo vendido ou anunciado. Há apenas a comunicação do artista para o pedestre, permitindo que o espectador encontre seu próprio significado a partir das obras. Esse tipo de intervenção é necessário, pois grande parte do nosso espaço público e arquitetura urbana é alienante para o indivíduo.
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