Neuroarquitetura e o potencial do ambiente construído para a saúde cerebral e a criatividade

Hoje, passamos mais de 90% do nosso tempo dentro de edifícios. Agora também sabemos que nosso cérebro e corpo são influenciados pelo contato com a arquitetura, e o interesse em entender o impacto do meio ambiente no bem-estar humano é crescente. Há diversos novos estudos sobre este tema lançados a cada ano, e os escritórios de arquitetura estão empregando cada vez mais os serviços de pesquisadores e consultores de design da experiência humana.

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Arquitetos e cientistas ainda estão no processo de identificar quais fatores ambientais são mais importantes para o desempenho humano minimamente ideal no ambiente construído. No entanto, estudos já mostram que o chamado “Enriquecimento Ambiental” apresenta-se promissor para nossa saúde cerebral, tendo em vista os ótimos resultados com animais com DNA semelhante ao do humano.

Ambientes Enriquecidos são capazes de manter o cérebro estimulado de maneira saudável, levando ao aumento da atividade cerebral. No longo-prazo, esses ambientes estimulam tanto o fortalecimento do nosso sistema nervoso quanto a criação de novos neurônios. Isso nos possibilita a habilidade de aprendermos constantemente, sermos mais criativos, engajados e resilientes ao adoecimento ao longo da vida.

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Invenções como o Sleep Suit de Forrest Jessee seriam sintomáticas de um problema associado à exaustão mental? Imagem © Forrest Jessee

São compostos por quatro características: fornecer estímulo motor, cognitivo, sensorial e social - condições básicas que compõem a nossa essência desde os primórdios da humanidade. Porém, ambientes empobrecidos possuem o efeito oposto, levando ao enfraquecimento da saúde cerebral, o que pode comprometer a longevidade, ou seja, a capacidade de preservar a autonomia e a independência com o passar do tempo.

Para uma aplicação eficaz, são necessárias três etapas:

Neuroarquitetura, por que conhecê-la?

“A espiritualidade da arquitetura ali era tão inspiradora que eu era capaz de ter um pensamento intuitivo muito além de qualquer coisa que eu havia feito no passado.”

Todo encantamento e inspiração arquitetônica proporcionados pela Basílica de São Francisco de Assis, na Itália, levou Jonas Salk à descoberta da vacina da poliomielite. Esse feito faz imaginar o potencial que a arquitetura tem de nos influenciar, moldar nossos comportamentos e emoções mediante o mundo. 

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Uso de madeira e vegetação. Imagem © Dilanka Bandara

Quase uma década após sua morte, foi fundada a Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA). John Eberhard apontou que o conhecimento da neurociência pode ajudar os arquitetos a projetar hospitais onde as pessoas se recuperam mais rapidamente, escolas onde os alunos memorizem as informações com mais facilidade e escritórios onde as pessoas colaborem melhor.

Mas afinal, como a neuroarquitetura pode fomentar espaços que mantenham a saúde, estimulem a criatividade e a positividade humana?

Criatividade e arquitetura

No ocidente, a criatividade é muitas vezes definida como a capacidade de “gerar ideias”. As conclusões de muitos estudos mostram que a criatividade está relacionada, entre outras coisas, a:

  • Estímulo cognitivo: níveis moderados de estimulação aumentam a criatividade, enquanto níveis muito altos ou muito baixos a inibem.
  • Diversão e interação social: o pensamento criativo é facilitado pela diversidade de oportunidades em escolher com quem e onde ficar.
  • Ambivalência: pessoas que experimentam oportunidades de escolha entre opostos tendem a reconhecer relações incomuns entre conceito e ambiente
  • Mudança e novidade: influencia positivamente nossa capacidade de buscar, interagir e gerar ideias.

As condições necessárias ao pensamento criativo devem ser dinâmicas. Elas devem nos ajudar a desviar nossa atenção do ambiente para nosso interior e vice-versa. Esses espaços devem ser ambientes enriquecidos que estimulem os usuários sensorialmente, cognitivamente, fisicamente e socialmente.

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Elementos naturais como a água estimulam corpo e mente. Primavera de Tainan / MVRDV. © Daria Scagliola

O sentimento de ambivalência e surpresa pode estar associado ao uso de objetos de arte, instalações artísticas ou elementos interativos no design espacial. O funcionamento de tais elementos baseia-se na evocação de emoções que, por sua vez, provocam reflexões, intrigas e quebram a rotina.

Sentimentos ambivalentes e criativos semelhantes acompanham os usuários quando se deparam com soluções inusitadas e surpreendentes no espaço, diferentes do que o usuário normalmente esperaria para uma determinada função, bem como comportamentos e emoções não óbvios e diferentes do esperado.

Natureza, positividade e movimento

O uso de vegetação e outros elementos são válidos. O Design Biofílico que busca integrar de forma direta ou indireta a natureza no ambiente construído também pode afetar a criatividade e está relacionados à Teoria da Restauração da Atenção. Essa teoria, proposta por Rachel e Stephen Kaplan, baseia-se na noção de que as pessoas podem se concentrar melhor depois de interagir com aspectos naturais.

Mesmo após uma atividade constante com foco intenso, o simples olhar para a natureza é capaz de restaurar a capacidade de concentração. É por isso que, muitas vezes, nos sentimos mais tranquilos e acolhidos em ambientes naturais.

Outro aspecto desse contato é a presença de formas orgânicas, cheiros, sons, texturas e estruturas que, combinadas com o relaxamento que as acompanham, inspiram e estimulam o pensamento e a criatividade.

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Abundância de vegetação no projeto Segunda Casa Holland Park / Selgascano. © Iwan Baan

Ao estimular a criatividade, não se trata apenas de usar o design biofílico na arquitetura e no design de interiores. Trata-se também de criar vistas para vegetações a partir de janelas e áreas verdes no entorno dos edifícios.

Espaços de apoio à criatividade também proporcionam interações entre pessoas com diferentes pontos de vista. Outro ponto estimulado pela neuroarquitetura é a positividade em estar integrado socialmente – encontrar alguém acidentalmente, iniciar uma conversa, participar de uma conversa estimulante de maneira descompromissada e sentir-se inspirado sob a influência de tal encontro pode ser proporcionada pelo ambiente construído.

Os designers também podem incentivar o movimento e a mudança de postura. Permanecer em uma postura por um longo tempo causa fadiga e diminuição da concentração. No local de trabalho, por exemplo, vários tipos de assentos, escrivaninhas e mesas podem ser usados ​​para apoiar a mudança de postura - em pé, balançando, girando ou simplesmente sentado.

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Pátio interno na Casa da Serra / Piacesi Arquitetos Associados. Foto © Luiza Ananias

Portanto, a longo-prazo, ambientes enriquecidos estimulam tanto a manutenção da saúde mental, criatividade e positividade humana. Por outro lado, ambientes empobrecidos possuem o efeito oposto, levando ao comprometimento da nossa qualidade de vida ao longo do tempo. Manter a mente saudável é realmente complexo, porém humanamente possível a partir da neuroarquitetura.

As pessoas que objetivam a longevidade precisam de tempos mais longos de exposição aos ambientes enriquecidos para que as alterações biológicas, psicológicas e sociais sejam constantes e duradouras.

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Sobre este autor
Cita: Ciro Férrer Herbster Albuquerque. "Neuroarquitetura e o potencial do ambiente construído para a saúde cerebral e a criatividade" 08 Jul 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1002456/neuroarquitetura-e-o-potencial-do-ambiente-construido-para-a-saude-cerebral-e-a-criatividade> ISSN 0719-8906

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