A “atenção plena”, também conhecida como mindfulness, é a prática de se concentrar completamente no presente. Nessa prática meditativa, as preocupações com passado e futuro dão lugar à uma consciência avançada do agora, que inclui o despertar do autoconhecimento mediado pela percepção de sentimentos, sensações e ambiente.
Nesse contexto de despertar para o autoconhecimento, o poder do ambiente construído de servir como local de refúgio não pode ser descartado. Apesar do convívio social ser tão importante para a manutenção da saúde da espécie humana, privacidade e espaços de refúgio também são necessários.
Pesquisas científicas já demonstraram que a neuroarquitetura é capaz de incentivar a contemplação e a conexão emocional com o espaço construído, proporcionando aos usuários padrões neurológicos semelhantes aos observados durante a meditação profunda, com os consequentes efeitos positivos que ela oferece.
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Arquitetura e ioga: ferramentas para o bem-estarQuando o conhecimento da neurociência é aplicado devidamente na arquitetura, o conceito do mindfulness passa a ser inserido de forma que o usuário sinta os ambientes a sua volta de uma forma diferente, aproveitando as alegrias que o cotidiano pode oferecer. Aguçando os nossos sentidos e prestando atenção aos pequenos detalhes que nos envolvem em nossa rotina, podemos viver de uma forma melhor.
Apesar do mindfulness ser um estado de consciência plena no tempo presente, experiências significativas, do autoconhecimento e da autopercepção do tempo-espaço, tornam-se possíveis quando conseguimos nos sentir plenamente no espaço construído. Contudo, o design que envolve os ambientes deve contribuir para que esse processo seja facilitado da melhor forma possível.
A proposta é proporcionar sensação de controle e autonomia aos ocupantes para a prática do mindfulness em optar ou não por uma ambiência capaz de despertar o autoconhecimento. Tendo em vista que quando lidamos com situações estressantes, a percepção de controle influencia tanto quanto o estresse pode atrapalhar a experiência do usuário. A sensação de controle pode ajudar a controlar os níveis de estresse e, consequentemente aumentar a qualidade de vida, não apenas em humanos, mas também nos demais mamíferos.
As diferentes disposições de cor, luz e materiais possuem a propriedade de possibilitar o despertar emoções, estimular ações e comportamentos, além de provocar reações corporais e neuropsicológicas significativas.
Com essa percepção, o espaço construído deixa de ser visto apenas a partir de suas características físicas e passa a ser interpretado como “espaço vivencial”, onde a ambiência fica sujeita a mudanças e a interpretações dos usuários, e os usuários ficam sujeitos às influências da ambiência.
A conexão entre os ambientes em que experienciamos ao longo da vida junto a nossa mente resulta em bem-estar e conforto muito maiores do que a arquitetura atual nos oferece. Dessa forma, compreender os aspectos culturais, biológicos, psicológicos e sociais dos usuários são mais que necessários para projetos que tenham como foco proporcionar a prática do mindfulness.
Quais os benefícios proporcionados pela prática do mindfulness?
- Evidencia-se melhorias na regulação emocional e regulação do estresse;
- Possui o potencial de afetar o processamento autorreferencial e melhorar a consciência do momento presente;
- Aumento da reserva cognitiva, ou seja, da resiliência cerebral mediante aos possíveis déficits neuronais que o cérebro presencia ao longo da vida;
- Apresenta forte potencial para o tratamento de distúrbios clínicos e pode facilitar o cultivo de uma mente saudável e maior bem-estar.
Como fomentar ambientes construídos que proporcionem o mindfulness?
- Fomentar espaços contemplativos, mais agradáveis e relaxantes a partir de aspectos naturais ou culturais que cativam o usuário;
- Ambientes que motivem o autoconhecimento, o respirar perante as inúmeras tarefas diárias do cotidiano. A trabalhabilidade do isolamento acústico passa a ser essencial neste momento;
- Prospecto e refúgio individual ou coletivo. Ambientes capazes de fornecer a oportunidade da solitude, como ler um livro deitado em uma rede em uma varanda ventilada;
- Nichos, casulos, sanitários, zonas silenciosas, barreiras visuais e acústicas podem elevar as oportunidades para momentos de refúgio, capazes de despertar o autoconhecimento.
Incorporar práticas de mindfulness na neuroarquitetura é levar o usuário a apreciar o momento presente com estratégias de resiliência e de autocontrole aos desafios cotidianos. Consequentemente, permite aos usuários maiores chances de saúde e qualidade de vida, tornando-se ferramentas promissoras para a longevidade e a resiliência humana quando bem aplicadas no espaço construído que nos envolve diariamente.