A obra do arquiteto franco-suíço Charles-Édouard Jeanneret, é, entre muitos outro adjetivos, abrangente. Le Corbusier aventurou-se em escalas desde o desenho de mobiliários a planos urbanos para cidades inteiras, passando pela pintura, projetos diversos e a escrita de livros. Algo que não é tão falado, no entanto, foi a teoria de cores que ele desenvolveu e aplicou a vários de seus projetos arquitetônicos e esforços artísticos. Profundamente enraizada em sua crença de que a cor desempenha papel significativo para evocar emoções e criar ilusões espaciais, a teoria das cores de Le Corbusier foi descrita em seu livro "PolyChromie Architecturtale" (arquitetura policromia), publicado em 1931. Ali, ele introduziu seu conceito e uma gama cuidadosamente curada de cores que pretendiam ser usadas em contextos arquitetônicos específicos.
Além dos tons em si, o arquiteto desenvolveu um seletor de cores, combinando tons coloridos e acromáticos com diferentes valores de brilho, refletindo suas experiências arquitetônicas e de pintura que formam a base de toda a policromia arquitetônica. Segundo ele, "Estes dispositivos visam estimular a seleção pessoal de cores, colocando a tarefa de escolha numa base sistemática sólida. Na minha opinião, oferecem um método de abordagem preciso e eficaz, que permite planear, na casa moderna, harmonias de cores que são definitivamente arquitetônicas e, no entanto, adequadas ao gosto e às necessidades naturais". Deslizando um recorte de papelão junto às páginas cria harmonias de cores.
As cores são caracterizadas em três grupos: cores construtivas, dinâmicas e transicionais. As cores construtivas consistem em pigmentos naturais usados para criar atmosferas agradáveis e alterar a percepção do espaço. Frequentemente derivadas de tons terrosos, como marrom, ocre e siena, são empregados para estabelecer um senso de harmonia, calor e uma conexão com o ambiente natural nas composições arquitetônicas. As cores construtivas formam a paleta fundamental que contribui para o ambiente e o caráter geral de um espaço.
As cores dinâmicas envolvem o uso de pigmentos sintéticos para criar efeitos contrastantes que evocam respostas emocionais. Essas cores são ousadas, vibrantes e intensas, incluindo tons de cores primárias, como vermelho, azul e amarelo. Ao introduzir cores dinâmicas seletivamente, Le Corbusier teve como objetivo criar pontos focais e detalhes visuais que capturam atenção e infundem energia na composição arquitetônica. O uso de cores dinâmicas permite um senso elevado de drama, dinamismo e impacto visual dentro do espaço.
As cores de transição, geralmente chamadas de cores transparentes, utilizam pigmentos sintéticos transparentes e são empregadas para alterar as superfícies sem afetar a percepção de volume ou profundidade espacial. Eles são normalmente usados em esmaltes ou acabamentos translúcidos para modificar a aparência dos materiais, como melhorar a textura ou alterar as qualidades tonais de uma superfície. Elas permitem modificações e refinamentos sutis dentro da composição arquitetônica, mantendo a percepção espacial geral do espaço.
Corbusier aplicou sua teoria de cores em vários de seus projetos arquitetônicos icônicos. Um exemplo notável é a cidade de Chandigarh, projetada por ele na Índia. Nesse empreendimento, as cores foram cuidadosamente escolhidas e aplicadas nos edifícios para criar uma atmosfera vibrante e funcional. Os edifícios apresentam fachadas, sobretudo em concreto, com cores vivas e contrastantes em elementos arquitetônicos estratégicos, como portas, pilares, janelas e elementos de sombreamento, para destacar áreas importantes e criar pontos focais visuais.
Outro exemplo é a Unidade de Habitação em Marselha, França. Cada unidade habitacional recebeu uma paleta de cores específica, com paredes e elementos estruturais pintados em tons vibrantes, como amarelo, vermelho e azul, criando um contraste dramático com o entorno, adicionando vitalidade e energia aos espaços residenciais. Além disso, Le Corbusier empregou cores em diferentes níveis de saturação e brilho para enfatizar elementos arquitetônicos e destacar a hierarquia visual dentro do edifício.
A coleção de 1931 consiste em 43 tons organizados em 14 séries e, no ano de 1959 outra coleção complementa a policromia arquitetônica com 20 tons mais intensos. Ainda hoje produtos baseados nas cores de Le Corbusier permanecem disponíveis através de fabricantes certificados e oferecem uma ampla gama de opções para criar uma estética personalizada e atemporal para objetos e espaços. Essas opções permitem o design de cores harmoniosas, que remetem às deslumbrantes obras do arquiteto franco-suíço. Sua teoria das cores representa um aspecto fundamental de sua abordagem arquitetônica, evidenciando sua busca pela integração da cor como elemento essencial na criação de espaços arquitetônicos significativos e emocionalmente impactantes.